Período Complementar na Escola da Vila

Por Daniela Munerato e professores do Período Complementar

A ideia deste texto é comunicar um pouquinho mais sobre o Período Complementar. Neste mesmo espaço, já falamos da sua rotina e o que a diferencia do período vespertino. Agora, que tal escutarmos um pouquinho alguns professores, com depoimentos sobre este tempo que passam com o grupo? Afinal, chegar na escola mais cedo, passar mais tempo na escola e compartilhar muitos momentos com crianças de outras idades e com outros professores que não os de turma (Grupo 1, Grupo 2, Grupo 3 e primeiro ano), são oportunidades que dão ensejo a diversas aprendizagens.

Marisa (Professora de Inglês) “Eu vejo o trabalho no Período Complementar com diferentes idades como uma situação muito potente. Por exemplo, uma intervenção interessante e possível é organizar agrupamentos levando em conta as contribuições que cada criança - com suas particularidades - pode trazer para o grupo. Uma criança que frequenta o 1º ano pode fazer uma dupla de trabalho com uma criança do Grupo 1, na posição de mentor, ensinando procedimentos como o uso da tesoura, a amarração de barbante e os cuidados e a delicadeza necessários com os materiais. Observo que nessas situações - em que as diferenças em termos de repertório são tão evidentes - temos a oportunidade de discutir e vivenciar a importância do caráter colaborativo e cooperativo do trabalho entre todas as crianças: escutar as contribuições de todos, reconhecer a qualidade no trabalho do outro, ajudar, ensinar, pedir ajuda, aprender...

Apesar de reconhecer grande potência nos trabalhos coletivos e em duplas e trios, observei que era preciso também garantir situações em que cada um precisaria lidar somente com seus próprios limites e desafios, suas conquistas e sucessos. Considerei importante garantir esses momentos de valorização do trabalho individual em meio a uma vivencia coletiva tão intensa que já demanda muita paciência, compreensão, delicadeza e consideração, tanto dos grandes quanto dos pequenos.”

José Felipe (Professor do Complementar) “Conviver e aprender a relacionar-se com o outro é um desafio que impulsiona o desenvolvimento individual através do coletivo. É interessante pensarmos como cada um expressa e constrói seu conhecimento vivenciando a mesma situação. A cada passo uma descoberta nova, a cada brincadeira um novo desafio para ser superado. A cada fala uma nova hipótese sobre diferentes assuntos e sobre como lidar com os conflitos, o que leva as crianças a muitas aprendizagens.  

Desta forma, o meu maior desafio como professor do Período Complementar é mediar as relações no campo da afetividade, na construção de vínculos, que através de uma cantiga de roda, de uma brincadeira no parque, o grande e pequeno ganham o mesmo tamanho. No momento de receber os alunos, observar como chegam, percebendo, através do olhar e dos gestos, como cada um está disposto a interagir, vivenciar mais um dia com seus amigos e professores”.

Simone (Professora do Complementar) “No Complementar as crianças têm a oportunidade de vivenciar e construir relações entre diferentes idades. Isso contribui para novos espaços de conversa dentro da escola. Além de favorecer a interação e fortalecer as relações entre as crianças do Complementar, vejo que esta construção também contribui para o relacionamento entre as crianças no período contrário, isto é, no período da tarde. Vejo que interfere também na relação com os companheiros de grupo, como entre crianças de diferentes turmas.”

Marcola (Coordenador da Capoeira) “Quando olhamos para crianças de diferentes idades na capoeira, é importante atender às principais características e expectativas das faixas etárias, ou seja, ao trabalhar com alunos de primeira infância (até 6 anos) devemos oferecer atividades de exploração e descobertas corporais, permeadas por contextos simbólicos, onde a questão principal seja a relação da criança com o jogo, o ritmo e a aula de capoeira. Já com as crianças de segunda infância (7 aos 12 anos), a aula passa a ter atividades de combinações e aprendizagem de movimentos básicos da capoeira, permeadas por contextos regrados, onde o que se espera é que a criança compartilhe experiências com os outros, seja na roda, no treino ou nas brincadeiras propostas em aula.”

CAMILA (Professora de Teatro) “Da mesma maneira que um rio nunca é o mesmo, as crianças mudam muito de uma semana para outra. Quando se trata de uma turma de diferentes idades, temos que triplicar nossa audição e observar as crianças mais velhas liderando o grupo e cuidando dos menores também.Trabalhar teatro com criança é, antes de mais nada, brincar com elas. Nunca se colocar acima. Para o jogo ser verdadeiro, todos devem estar no mesmo plano. Assim, a criatividade emerge de maneira mais rica. No teatro, diversas vezes as soluções que as crianças trazem são melhores que as do professor.”

Através dos comentários e a partir deles compreendemos que realmente as turmas compostas por diferentes idades nos trazem desafios de distintas naturezas e que a questão das relações e das interações torna-se tema fundamental a ser considerado nos planejamentos e intervenções em favor das aprendizagens e do convívio. Seguimos pensando e comunicando as notícias do Complementar. Aguardem!