O ensino, aprendizagem e a diversidade no fundamental 2

Por Clarice Gil Barreira  e Roberta Tinoco Pinto Ferraz

A Escola da Vila, desde a sua criação, aposta fortemente na heterogeneidade dentro das salas de aula, como um aspecto que contribui para o avanço dos alunos. Aprende-se com aquele que pensa de forma diferente, sem dúvida.

Esta diferença, tão rica, é também o que representa um desafio diário para todo professor que pretende ensinar com qualidade. Se, por um lado, olhamos muitas vezes para o coletivo, considerando a classe como um todo, valorizando o pertencimento de cada um ao grupo e ensinando a conviver e a aprender com os demais, também não podemos deixar de garantir ao aluno o olhar individual. A aprendizagem efetiva dos conteúdos escolares depende de uma construção pessoal, que atribui significados ao objeto de estudo apresentado. O ensino, por sua vez, é a ajuda oferecida ao aluno nas diferentes etapas de seu processo de aprendizagem, para garantir que ele atinja o que é esperado.

Para que a aprendizagem seja significativa, é necessário desenvolver propostas desafiadoras, considerando principalmente os conhecimentos que o aluno já possui e sua potencialidade naquele momento. Para que isso aconteça, o aluno deve se deparar com situações que exigem dele esforço cognitivo, mas que podem ser superadas com a utilização de seus saberes e os apoios oferecidos.

É por isso que o professor da Escola da Vila se dedica a planejar as propostas de trabalho, procurando sempre atender às demandas variadas presentes em sala de aula e provocar uma intensa interação entre elas. Sendo assim, é comum encontrarmos ajustes nas propostas, de forma a garantir a aprendizagem adequada a todos.

Um exemplo claro disso, na área de LPL, são as pautas de revisão de produções escritas. Os alunos devem todos produzir um mesmo gênero (fábulas, por exemplo), mas as características e as aprendizagens apresentadas no texto de cada um variam muito e revelam as necessidades e possibilidades de aprendizagem de cada aluno. Por isso, o professor elabora uma proposta de revisão com focos diferentes. Assim: um aluno que precisa se dedicar a um trabalho com vocabulário pode fazer isso, enquanto seu colega dedica-se a rever a coerência entre as virtudes e a moral do texto. Estas são intervenções muito comuns, que visam potencializar o máximo aproveitamento do trabalho por todos.

Sabemos que, em uma mesma sala de aula, não aprendem todos da mesma maneira, nem as mesmas coisas, nem ao mesmo tempo, mas sabemos que todos aprendem, e muito, quando podem contar com uma proposta adequada a suas necessidades.

Os alunos que apresentam algum tipo de deficiência intelectual estão inseridos nessa mesma lógica e, eventualmente, precisam de uma personalização do currículo para ter garantido o direito de vivenciar as situações ideais de aprendizagem. A tarefa de ajustar um currículo não é fácil e exige uma série de medidas e cuidados por parte não só do professor, mas de toda a equipe responsável pelas propostas de aprendizagem. Não se trata de facilitar o ensino dos conteúdos de modo desnecessário, uma vez que este tipo de intervenção não estaria de acordo com nossos princípios e concepção de ensino e aprendizagem. Antes pelo contrário: a personalização do currículo daqueles que necessitam é uma demanda que garante a qualidade do ensino para todos.

Para se definir “como” e “o que” será adaptado, é necessário, além de contar com todas as informações do percurso escolar de cada um, uma investigação que muito se assemelha às atividades diagnósticas que os alunos fazem frequentemente no início de cada ano. É muito importante que o professor se aproxime e conheça seus novos alunos, e essas propostas iniciais nos ajudam nesta tarefa. A partir dos resultados dessa investigação, e com o apoio da orientação, elaboramos as adaptações necessárias, e vale dizer que faz parte também deste processo a construção e a definição da forma como cada um destes alunos será avaliado.  Todo o trabalho desenvolvido ao longo do ano é devidamente documentado (planos de estudo, atividades, avaliações), e esse material é compartilhado com os professores do ano seguinte, o que nos garante a continuidade de um trabalho consistente.

O nível de adaptação necessária para cada aluno varia muito, o que nos coloca a necessidade de um trabalho diferente para cada um, e o acompanhamento muito próximo e constante. Muitas vezes, pode acontecer de um aluno nos apontar a necessidade de adaptações bastante significativas, que, com o tempo, podem diminuir; ou mesmo o inverso: conforme avança na escolaridade e os conteúdos vão se mostrando mais complexos, a dimensão das transformações pode aumentar.

De qualquer forma, garantimos sempre alguns princípios. Um deles nos aponta a necessidade de manter um vínculo do trabalho desenvolvido com os alunos que apresentam algum tipo de déficit intelectual com os conteúdos previstos para a série, e com as temáticas presentes na classe. Outro aspecto considerado fundamental para nós, é que o aluno seja avaliado a partir das propostas que foram planejadas e construídas para ele, considerado seu percurso único, e promovendo seu protagonismo neste processo. Por último e, talvez, o mais importante deles, é a prevalência da concepção construtivista na construção do percurso de todos os nossos alunos, sem exceção de nenhum deles.