Aula aberta do curso de teatro

Por Silvia d’almeida, professora

O teatro é o espaço da experiência. Viola Spolin, uma grande mestre da arte-educação, diz que se apresentar a uma plateia nada mais é do que o compartilhar da experiência vivida no palco com aquelas pessoas que nos assistem. Gosto destas palavras. Compartilhar, experiência. E é possível explicar o porquê. Começamos uma aula de teatro sempre valorizando o jogar e o brincar. O espaço do jogo e da brincadeira, por mais simples que possa parecer, na verdade, traz consigo a complexidade de uma oportunidade para que lidemos com questões profundas de maneira criativa, imaginativa e aventurosa. Isso ocorre na medida em que o teatro propõe ao participante uma organicidade na experiência vivida; estar absorto em um jogo coletivo exige que mente e corpo trabalhem juntos, em prol de um único objetivo. Além disso, é neste momento de absorção que damos voz à intuição, uma certa sabedoria sensitiva que o teatro chegou a me provar, que todos guardamos dentro de nós.

As vivências em uma aula de teatro, como uma própria peça teatral, são efêmeras, na medida em que adquirem seu valor no próprio viver da experiência, naquele momento de risco, do aqui-e-agora, em que nos relacionamos com os parceiros de cena e com nós mesmos, nosso corpo, nossa imaginação, nossos medos e nossas coragens. Ao mesmo tempo, o processo é continuo, deixando facilmente perceptível cada passo que damos rumo ao estado de prontidão para vivermos uma experiência por completo, a partir do individual, chegando ao coletivo, ao olho no olho do parceiro.

Neste último semestre na Escola da Vila, pude conduzir três turmas semanalmente no fazer-teatro. Cada turma e cada aluno me levaram a um espaço riquíssimo de troca e criação artística. E, finalmente, chegou a hora de partilhar um pedaço disso com quem não esteve fisicamente em cada encontro, mas, com certeza, foi trazido por cada aluno em cada aula.

No dia 03/12, de manhã, os pais dividiram histórias inventadas e dramatizadas por quatro meninas, um exercício simples e sofisticado (como tudo que é simples). "Histórias nossas, teatro nosso", uma pequena dramatização em cima da criatividade de cada aluna, da imaginação para o papel, do papel para a cena.

No dia 03/12, à tarde, a "aula aberta", foi uma brincadeira entre a ficção e a realidade, a verdade e a mentira, o teatro e a vida real.

No dia 04/12, um conjunto de cenas contaram, a partir de um ponto de vista inusitado, uma história comum a todos. "Morena como notebook, branca como fantasma, lábios vermelhos de Victoria’s Secret", uma versão bastante peculiar, criada por alunos peculiares, da conhecida história da "Branca de Neve".

O objetivo destes encontros foi simplesmente este: compartilhar uma experiência com nossos amigos e familiares, usando a linguagem teatral para presentear os nossos queridos com um momento criado por cada um e por todos nós, participantes das turmas de teatro ao longo do semestre. Obrigada pela participação de todos!