A formação do leitor de literatura na Educação Infantil. O que isso tem a ver com construtivismo?

Por Daniela Munerato – Professora de Grupo 2

A formação do leitor de literatura é um dos objetivos na Escola da Vila desde a Educação Infantil. Para isso, diversas situações são planejadas pelos professores com o propósito de favorecer a ampliação do repertório das crianças sobre obras e autores, compartilhando ideias que vão na direção da construção de diversos sentidos possíveis e do cultivo e expressão da opinião pessoal.

Sabemos que o universo literário se apresenta às crianças no dia a dia delas na escola, nas visitas feitas às livrarias e no acervo que vão constituindo em casa. Em interação com este amplo universo, constroem uma relação com o mundo dos livros, um percurso leitor, e tudo isso é considerado todo o tempo pela escola, por seus professores. Na escola, como nossa intervenção cumpre propósitos diversos daqueles do contexto familiar, além de favorecer a construção do gosto pela leitura e muitos momentos de prazer, nossas intervenções perseguem a construção de outros observáveis sobre algumas obras que as crianças apreciam reler. Assim, cada atividade é planejada criteriosamente por nós, que temos de levar em consideração muitos aspectos que interferem nos processos de ensino e de aprendizagem. Por exemplo, a potencialidade da obra, as características do pensamento infantil, contribuições de uma didática específica. Acreditem, atualmente um conjunto expressivo de estudiosos realiza pesquisas em didática do ensino da literatura na escola. Nos últimos anos, recebemos contribuições valorosas neste sentido.

Portanto, os processos de aprendizagem dizem respeito a conteúdos, alunos e professores. Um triângulo! Está é uma boa imagem para pensar as relações entre estas três dimensões do processo de ensino e aprendizagem. Um objeto de conhecimento que guarda determinadas características (a leitura literária), um aluno que tem de se implicar no seu próprio processo de aprendizagem e um professor que tem de controlar as condições didáticas em que esta interação entre aprendiz e objeto de conhecimento se dá.

Considerando tudo isso, não posso deixar de pensar nos meus vinte e dois pequenos alunos, de quatro anos de idade, entrando na biblioteca Tatiana Belinky e se deixando encantar com os livros expostos nas mesas. Convidados a escolher um livro para folhear e levar para casa, aproximam-se curiosos. Vejo que as escolhas são feitas com base em critérios variados: personagens que lhes interessem, como animais ou seres encantados; capas e títulos que chamam a atenção; autores conhecidos. Também são muito receptivos às sugestões feitas pelos próprios colegas e pelos adultos envolvidos neste processo.

Meu olhar corre rapidamente o grupo, que se organiza para nosso delicioso ritual de leitura: com os livros em mãos, algumas crianças procuram tapetes para apoiá-los onde possam folheá-los demoradamente. Vejo que me imitam nesta atitude, pois tenho o cuidado de repousar os livros que leio num tapete, tratando o livro como objeto sagrado, como de fato penso que deva ser visto.  Também observo algumas crianças cantarolando a canção ritual de início dessa imersão neste mundo mágico. Outras crianças, ainda, observam as imagens e tentam imaginar, sozinhos, o enredo, o relato, tudo a partir do que veem. E assim me ponho a refletir sobre o quanto estes pequenos aprendizes de quatro anos já sabem sobre o mundo da literatura. Sem dúvida, são ações que reconheço como fruto de nossas intervenções.

Vale dizer que os livros dispostos na mesa foram escolhidos por mim, segundo objetivos definidos previamente, com base no tipo de aprendizagem que pretendemos promover na educação infantil.  Nossas ações estão carregadas de intenções!

Isto posto, apesar de ter escolhido o tema da formação do leitor literário, é preciso dizer que tudo é absolutamente intencional em todos os eixos do trabalho, em todos os segmentos da escolaridade. Somos especialistas em educação. Estudamos para eleger conteúdos, definir objetivos e desenhar projetos e sequências didáticas com base no que sabemos sobre os processos de aprendizagem de nossos alunos, incluindo todas as variáveis que neles interferem. Dá trabalho ser construtivista, mas vale a pena! O que nossos alunos aprendem levam para a vida.