Crianças e jovens, professores e pais: o início de um novo ano escolar

Por Fernanda Flores

Como tudo na vida, dar início é algo que envolve nossos sentidos, esforços e nos desafia a trilhar caminhos, conhecidos ou inéditos, para os quais construímos uma bagagem desde a primeira vez que passamos a frequentar uma escola. O período de início do ano letivo é, para todos os envolvidos, um momento revestido de significados e expectativas, aliás, muitas expectativas.

Todos na escola temos lembranças sobre começos que nos marcaram. Essas memórias constituem quem somos. Quer sejamos alunos, professores ou pais, cultivamos experiências e histórias pessoais que são importantes, a seu modo, para cada um e especialmente significativas para a escola, que pensa e se organiza ano a ano para melhor acolher seus alunos, professores e pais.

Permito-me aqui compartilhar uma lembrança que sempre me faz pensar sobre processos de adaptação.

Era professora da turma de crianças de três anos, e um aluno chegou no primeiro dia de aula com uma fantasia de macaco que o cobria por completo. Não víamos seu rosto, somente seus olhos e boca, vez ou outra descobertos pelo pano. Imagino que ele também via parcialmente, pois o buraco era pequeno, e o pano ao redor não permitia ver muito mais. E isso nos intrigava.

Praticamente se escondia atrás de sua mãe, além da própria proteção que a fantasia oferecia. Dia após dia, vinha com a mesma fantasia e se distanciava de sua mãe cada vez mais, circulando curioso pela sala. Passou a aceitar nossa ajuda, a rir com nossas brincadeiras, mas insistia em vir para a escola como macaco, mesmo depois de despedir-se da presença de um familiar na escola.

Dias passaram, até que, numa brincadeira na qual todos mexeriam com água, ele tirou sua fantasia, espontaneamente, como se não fizesse mais parte dele. Ficamos ali admirados, vendo-o igualmente entre todos, integrado e seguro em tornar-se parte.

Para além das particularidades envolvidas no início das aulas para crianças – pequenas e grandes – jovens, professores e demais, essa lembrança destaca o que há de único e comum a todos envolvidos no início da vida escolar num novo ano: dispor-se a enfrentar novos contextos, mesmo que se mostrando aos poucos, até a fantasia poder ficar para trás; adquirir confiança nas situações propostas, no contato com colegas e professores, atuando com autonomia ao enfrentar os desafios propostos e aqueles que compõem o convívio diário em ambiente escolar.

Os segmentos, do Infantil ao Ensino Médio, têm características próprias e se organizam considerando o que é necessário para que os processos de adaptação e retomada do trabalho ocorram de forma a garantir sentido e envolvimento com as propostas vividas na escola.

Na Educação Infantil, especialmente, contamos com uma rotina progressiva de adaptação para os pequeninos que ingressam no Grupo 1, e inúmeras são as situações de acolhida planejadas pela equipe de professores para todas as turmas.

Para os alunos que (re)começam no Fundamental 1, há a saudade da escola, dos colegas, o frio na barriga para os novos, os reencontros entre amigos, enfim, a rotina que entrará no ritmo cotidiano dos estudos. Como de costume, dedicamos um conjunto de ações para que as crianças se aproximem, conheçam e integrem os novos alunos e possam usufruir ao máximo o tempo que aqui passam.

Por sua vez, os professores já vêm de uma rotina de trabalho que começou bem antes do (re)encontro com os alunos. Independente do segmento, há muito a preparar, planejar e conhecer, pois, mesmo experiente, cada professor vive também uma ansiedade positiva por (re)ver seus alunos e grupos, com o desafio de constituir-se como referência para todos e construir, com a turma, um ambiente de trabalho participativo e altamente favorável às aprendizagens pretendidas.

Os pais igualmente se mobilizam para essa retomada, não é mesmo? Mais próximos do dia-a-dia da escola em função da idade dos filhos ou acompanhando via notícias, por serem esses mais crescidos e independentes no contexto escolar, os pais esperam conhecer os professores, ajudar com os materiais, acompanhar esse início, e o desafio aqui é justamente ver crescer e acompanhar filhos e filhas em seu processo de independer-se de nós (pais) rumo às conquistas de um novo ano.

O período de adaptações, portanto, demanda grande energia de todos, e o diálogo nos parece a melhor forma de construirmos, juntos, ótimas experiências e memórias, compartilhando o percurso de conquistas de nossos alunos e alunas em mais um ano.

Bem-vindos!