O que é mais importante, saber estudar sozinho ou em grupo?

 

Por Maria Ivone Domingues

O sociólogo Bernard Charlot ¹ afirma que o ser humano é 100% individual e 100% social. E isso não dá 200%.

Na aprendizagem, aspecto central da constituição humana, isso se manifesta integralmente. Trata-se de um percurso totalmente individual de construção de conhecimentos, inserido em percursos coletivos, já que esses processos individuais são decorrências de interação entre os sujeitos.

Considerar essa dupla condição, individual e coletiva, nos projetos de ensino e aprendizagem desenvolvidos nas escolas não é uma tarefa simples. Requer esforço para superar a crença largamente difundida de que, no grupo classe, é possível e desejável que todos os alunos aprendam o mesmo ao mesmo tempo.

No intuito de avançar nesse sentido, em 2013, escolhemos como tema norteador dos nossos estudos para aperfeiçoamento do projeto pedagógico da escola a variação das interações, diferenciação das aprendizagens e ajustes no ensino.

No fundamental 2, além de intensificarmos essa preocupação nas tarefas usuais, tomamos algumas medidas práticas que demandam da equipe um esforço para lidar com a questão da diversidade. Inserimos na grade uma aula semanal de Língua Portuguesa nos 6ºs e 7ºs ano e uma de Matemática nos 8ºs e 9ºs, em que trabalharemos com dois professores em sala de aula, desenvolvendo propostas sistemáticas mais ajustadas às demandas de grupos de alunos.

Reformulamos, também, as propostas de recuperação paralela, organizando os encontros de SMA na própria unidade em que o aluno estuda e dividindo o tempo em dois momentos, um de estudo dirigido e outro de aula com o professor. Nos 6ºs e 7ºs anos, o principal desafio do estudo dirigido será o aluno aprender a estudar sozinho, com apoio da orientação, e elaborar conclusões e dúvidas para o momento coletivo posterior. No 8º ano, o desafio será desenvolver a capacidade de estudar em grupo, processo que também será acompanhado pela orientação. No 9º ano, os alunos serão orientados para desenvolver a capacidade de estudar de forma colaborativa, usando a tecnologia como forma de prepará-los para enfrentar os desafios do Ensino Médio, que implementa fortemente os recursos tecnológicos no currículo.

Importante ressaltar que não estamos falando de tarefas totalmente individualizadas, pois, para isso, não haveria a necessidade de estarem no ambiente escolar, mas de propostas voltadas para grupos com demandas mais próximas, que incluam tarefas individuais, mas também mantenham os desafios da interação entre pares e com o professor.

Muitos recursos têm sido divulgados pelos meios de comunicação que favorecem e apoiam esses percursos individuais, como é o caso do projeto Khan Academy. Pretendemos aproveitar esses recursos em algumas áreas, integrando-os aos debates em aula e às ferramentas tecnológicas, buscando potencializar ao máximo a interação. Esperamos, com isso, manter nossos alunos desafiados e vinculados às propostas de estudo.

Um dos nossos maiores desafios é não perder de vista que os alunos precisam participar da identificação das suas reais necessidades, pois, ao fim e ao cabo, essas ajudas ajustadas precisam incidir na sua capacidade de estudar, tanto sozinhos como em grupos, e para saber estudar é necessário identificar as próprias demandas, o que se sabe e o que falta saber.

¹ Charlot, Bernard. Relação com o saber, formação dos professores e globalização: questões para a educação hoje. Porto Alegre: Artmed, 2005.