Educação Infantil: por que e para quê?

Por Dayse Gonçalves

No Brasil, a história do atendimento a crianças de 0 a 6 anos de idade é marcada por muitas lutas dos movimentos sociais e também por importantes conquistas recentes, apesar das enormes desigualdades que caracterizam projetos de Educação Infantil, tanto no âmbito público como privado. A Educação Infantil é a primeira etapa da Educação Básica desde a LDB de 1996 e um direito das crianças desde a Constituição de 1988. Aqueles que reconhecem o caráter fundante deste segmento da escolaridade na formação das crianças não se cansam de reclamar uma escola que não negue suas necessidades, tampouco sua capacidade de aprender sobre os mais variados conteúdos.

E, quando utilizo o verbo “aprender”, refiro-me às situações que as crianças podem e devem experimentar na instituição escolar, cuja principal característica é a intencionalidade, a fim de se garantir o caráter formativo das interações com os adultos, com as outras crianças, com os diferentes espaços e os diversos materiais, por meio dos quais estruturamos as situações de ensino e aprendizagem em torno dos mais variados conteúdos. Portanto, creio ser importante enfatizar o caráter complementar que o verbo “ensinar” assume neste contexto. Afinal, ele diz respeito ao principal desígnio da escola.

Acredito na importância da reabilitação do verbo “ensinar” neste segmento da escolaridade, onde é comum que ele seja proferido com certo desconforto, às vezes pelos próprios educadores, por lhes conferir, talvez, um protagonismo que eles preferissem que fosse exclusivamente das crianças.  Ora, o que distingue os diferentes contextos educativos – família e escola – é justamente o caráter intencional das ações que têm lugar nesta última, onde são organizadas situações de interação entre as crianças e os objetos de conhecimento que compõem o patrimônio cultural, científico, artístico e tecnológico de nossa sociedade. Interações que estarão mais ou menos potencializadas, a depender igualmente da qualidade da interação entre as crianças e entre o professor e cada uma delas com os recursos que utilizam para organizar estes “múltiplos encontros” e que, muitas vezes, demandam o planejamento de sequências de atividades concebidas a partir de determinados critérios didáticos. Por tudo isso, um projeto pedagógico de Educação Infantil que se pretende ético e consistente necessita de um “norte”, de “orientação”, enfim, de um “currículo”.

Nos próximos dias, dividiremos com vocês, leitores, parcelas do Currículo da Educação Infantil da Escola da Vila. A equipe pedagógica (coordenadores, assessores, professores) preparou alguns textos por meio dos quais pretende compartilhar critérios educativos e didáticos, valores que nos são caros, conteúdos, estratégias e, por que não dizer, sentimentos de alegria e satisfação, que caracterizam os encontros diários entre as crianças e seus professores.