O brincar como ponto de partida para criações artísticas

Por Marisa Szpigel

Mais do que uma exposição, o Parque das Esculturas é um acontecimento que revela algumas concepções acerca do trabalho de Arte na Escola da Vila. Entre elas, as experiências que evidenciam a atribuição de valor na relação com o objeto, e não no objeto.

Desde as primeiras edições do projeto, que envolve todas as turmas da Educação Infantil, sempre consideramos esta ser uma proposta inspirada em espaços públicos amplos e abertos, ocupados por esculturas de diferentes artistas, em acordo com as ideias de Roberto Burle Marx, artista e um dos mais importantes paisagistas brasileiros: “Jardim das Esculturas - um espaço para estimular na comunidade a prática da convivência artística, divulgando as obras de nossos artistas e valorizando a nossa cultura".

As crianças ficam imersas em propostas de longa duração, em consideração aos processos de aprendizagem individual e coletiva durante a criação de ideias, a construção e o convívio da comunidade de pais e irmãos, que são convidados a passear pelo parque da escola, quando passa a ser povoado por esculturas.

Em 2010 passamos a refletir sobre o lugar onde as esculturas são apresentadas e nos pareceu quase natural que o evento passasse a chamar Parque das Esculturas, uma alteração que carrega algumas mudanças importantes em relação aos conceitos de arte e seu ensino.

As esculturas estão em um espaço muito explorado e querido pelas nossas crianças, o parque, que é um lugar essencialmente dedicado ao brincar, cenário das explorações dos mais diversos cantinhos e canteiros, da busca de desafios corporais e de intensa relação social. Tudo isso foi nos mostrando que as propostas de esculturas precisavam nascer dessa intensa relação, para que pudessem fazer parte da brincadeira.

É da observação que as professoras da Educação Infantil fazem das crianças brincando no parque que surgem as ideias dos projetos para o Parque das Esculturas. A partir dessa observação apurada, das buscas mais frequentes do grupo, das brincadeiras e explorações que realizam cotidianamente e, algumas vezes, de registros fotográficos dos momentos da brincadeira, dá-se início à conversa junto ao grupo para pensar em algumas proposições, que chamamos de laboratórios.

Os laboratórios são situações que estão em diálogo com as brincadeiras que cada grupo costuma fazer na hora do parque, e a partir delas, são planejadas intervenções em que novos materiais são agregados considerando procedimentos e possibilidades próprios à natureza da arte. Os laboratórios são propostas fundamentais que evidenciam que o processo é tão ou mais importante que o produto final. Isto porque trabalhamos com um conceito expandido de escultura, ou seja, mais do que objetos, os trabalhos são proposições que só acontecem quando estão em relação com o espaço ou quando são ativados pelo corpo.

Durante este processo, os trabalhos vão nascendo. Eles são o resultado de uma intensa pesquisa nas linguagens visuais, corporais e, em alguns casos, musicais. No Parque das Esculturas de 2012, pudemos identificar que no Grupo 1 as crianças queriam descobrir os espaços do parque, e por isso, enfatizamos investigações e experiências mais voltadas para a ação do corpo no espaço e as sensações. Os meninos e meninas do Grupo 2 ficavam muito ocupados em empilhar, enfileirar, agrupar, organizar objetos e optamos por desafiá-los a agir sobre objetos, experimentando colocá-los em diferentes espaços, experimentar suas qualidades plásticas e sua materialidade, tais como peso, volume, consistência; combiná-los para explorar possibilidades de equilíbrio, verticalidade e horizontalidade e em alguns casos, incluir o corpo na pesquisa. No Grupo 3,   como demonstravam estar muito familiarizados com o espaço do parque, as proposições tinham como foco a reorganização do corpo a partir da criação de extensores.

A efemeridade é outro conceito que está muito presente no projeto, assim, o dia da inauguração do Parque das Esculturas é uma das etapas do projeto, quando as famílias são convidadas a experimentar o espaço que foi transformado. O parque, lugar de brincar, passa a ser um espaço de encontro para experiências de ativação da produção das crianças junto com seus familiares. No dia seguinte, os pais também são convidados a visitar o parque, que já apresenta mudanças, uma vez que este é um ambiente vivo. Depois de dois dias, os trabalhos continuam no espaço, até o momento em que os professores e as crianças considerarem que não estão mais sendo ativados.

A área de Arte considera muito importante que, progressivamente, os alunos possam agir poeticamente sobre os espaços da escola, e o  Parque das Esculturas é a primeira de muitas propostas que estão por vir neste sentido.