A interação entre os participantes em um curso online

-

Por Alessandra Zanetti - professora da Educação Infantil, formadora do núcleo de práticas de linguagem e Andréa Luize - coordenadora do núcleo de práticas de linguagem.

O Centro de Formação, recentemente, inaugurou mais uma frente formativa, os cursos online. Para iniciar o investimento, nessa nova frente, optou-se pela oferta de quatro cursos, todos na área de práticas de linguagem. Dois deles voltados para educadores do segmento da Educação Infantil: “Falar do quê? Falar para quê?” e “Nomes próprios e apropriação da escrita alfabética”; um voltado para professores do Fundamental I,“Escrever e publicar”, e outro para professores de Fundamental I e II, “Leitura e atividade leitora”.

Neste momento, os cursos estão sendo finalizados e nos dedicamos a avaliar a participação e a preparar as devolutivas individuais. Certamente, depois dessas seis semanas, muito será revisto e ajustado antes que novas propostas online sejam elaboradas e divulgadas. Porém, há alguns aspectos que já podemos começar a avaliar, e um deles está atrelado justamente a uma intensa preocupação por parte das formadoras que atuaram nessa primeira empreitada, um princípio formativo de extrema importância: a interação. Habituada a cursos presenciais, essa equipe de formadoras estava acostumada a planejar e encaminhar propostas que instigassem e favorecessem a troca entre os participantes: análises de textos, vídeos e produções infantis em pequenos grupos, discussões sobre determinados temas, debates, trocas de experiências de sala de aula, de intervenções didáticas etc. Entendemos que esse intercâmbio é de extrema importância na formação profissional: conhecer experiências diferentes, confrontar ideias e opiniões e “se aproveitar” do conhecimento alheio são maneiras de potencializar a reflexão e a avaliação sobre a própria prática. E, sendo um princípio fundamental, como assegurá-lo virtualmente? Como favorecer o intercâmbio entre os participantes sem ações presenciais?

As opções são várias, porém, dentre elas, decidimos comentar, aqui, os fóruns de discussão propostos no ambiente virtual de aprendizagem estruturado no moodle. Fomos responsáveis pela elaboração, organização e tutoria do curso “Nomes próprios e apropriação da escrita alfabética”, que reuniu 62 participantes, de diferentes lugares do estado de São Paulo e também de outras regiões do Brasil. Em se tratando do trabalho com os nomes em salas de Educação Infantil, polêmicas não tendem a faltar, algo que já antecipamos em virtude dos vários cursos oferecidos sobre o tema ou que tratam dele entre outros assuntos. Por isso, já tínhamos boas ideias de pontos importantes a discutir nos fóruns do curso online, instância que priorizamos exatamente para promover o intercâmbio de opiniões e de experiências entre os participantes. Dentre os temas possíveis, elegemos problematizar: a organização da lista de nomes na sala de aula e a forma como podemos lidar com nomes idênticos ou com nomes pronunciados do mesmo modo, mas grafados de modo diferente (ex.: Thiago e Tiago); que critérios considerar na composição de cartelas de nomes para jogos de bingo; em que momento do percurso dos alunos cabe chamar a atenção deles para partes que compõem os nomes.

Os fóruns com essas questões foram propostos de forma que, ao mesmo tempo, permitissem a cada participante postar sua opinião ou comentar sua experiência em sala de aula e também interagir com as colocações dos demais participantes, lendo-as, utilizando-as para estruturar sua própria colocação, respondendo a perguntas feitas por colegas, como podemos visualizar abaixo em alguns trechos selecionados desses fóruns.

Participante inicia seu comentário destacando seu ponto de partida: Partindo dos comentários postados nos fóruns, de leituras feitas e dos vídeos analisados, observo o quanto o educador contribui para o processo de alfabetização quando apresenta aos alunos questionamentos, indagações importantes que levem de fato à reflexão e análise, confrontando o conhecimento anterior com o adquirido.”

Participante reitera a colocação feita por uma colega: “Achei muito importante a colocação da B.: é necessário que o aluno  sempre tenha seu nome exposto na sala de aula.

Participante coloca algumas dúvidas: “Mas ainda tenho algumas dúvidas que imagino que serão respondidas quando fizerem a síntese, mas mesmo assim vou registrar aqui: mostrar partes dos nomes ou mostrar os nomes integralmente? Integralmente! Mas porque não mostrar partes? Qual a justificativa? Porque não se encontram assim "recortados" socialmente? Aquela brincadeira de tampar o nome e ir mostrando partes para descobrirem de qual amigo é? Não é boa? Por quê?”.

Participante responde às dúvidas postadas pela colega: “K., penso que mostrar as partes dos nomes acaba ‘podando’ um pouco o raciocínio dos pequenos. Pois, tampar os nomes, de certa forma, faz ficar óbvio, ou melhor, impede a criança de pensar em uma resposta e em uma análise global. A não ser que ela mesma aponte a parte da qual ela está analisando para explicar sua resposta. Agora, quando o professor tampa partes do nome e pede que a criança compare, isso perde o sentido do ‘todo’, de fazer análises mais profundas”.

Nesses comentários podemos perceber que a discussão instaurou-se de fato, porém, em vários casos, os participantes apenas responderam às questões propostas para o debate, sem estabelecer um intercâmbio com as colocações que já haviam sido postadas. Em outras situações, ainda, pudemos notar que os participantes não se posicionaram comentando o que as colegas postaram, mas essas reflexões serviram de inspiração para que pudessem se posicionar diante dos temas colocados nos fóruns.

É preciso considerar que participar de uma discussão nunca é uma tarefa fácil. E discutir por escrito algo que os fóruns demandam torna a tarefa ainda mais árdua. Além disso, para muitos participantes, essa modalidade de curso e, por consequência, essa modalidade de discussão, é uma grande novidade, o que pode ter inibido os debates.

Apesar do desafio, acompanhamos momentos bem interessantes de troca entre participantes e, embora saibamos que seja necessário rever planejamentos e nossas intervenções para apoiar e potencializar ainda mais essa interação, nos deram notícias de que o fórum é mesmo um recurso favorável, e que pode ser explorado não apenas em cursos online, mas em outras situações formativas.