Primeiro trimestre no Ensino Médio

Por Fermin Damirdjian

Terminado o mês de abril, e com ele se encerra a primeira etapa de um caminho chamado Ensino Médio. Poderíamos usar aqui o clichê “longo caminho”, e não seria uma inverdade, não fosse o fato de que a velocidade com a qual ele é percorrido é diretamente proporcional à sua intensidade. Passa rápido, justamente porque ele é qualquer coisa menos monótono, previsível ou constante. Para os alunos, especialmente do primeiro ano, ele é um período um tanto quanto vertiginoso, em que o encantador muitas vezes se mistura com o angustiante.

A vida escolar - na qual os educadores investem o máximo possível em previsibilidade e organização, para transformar, assim, a sistematização do conhecimento em algo palatável – é indissociável da vida afetiva, social, subjetiva, enfim. E isso faz com que esse primeiro trimestre se encerre com a mesma intensidade e velocidade com a qual serão atravessados esses três (longos?) anos.

A queixa clássica por esta época é a surpresa de muitos perante a confirmação de que é preciso estudar muito para ir bem. Às vezes até mesmo estudar além do que se supõe dar conta. Já a constatação feita em retrospectiva pelos alunos do 2º ano é que o 1º não era tão puxado assim. Em palavras cotidianas da faixa etária: “Tipo, tinha que estudar muito, é um baque, mas o segundo é que é mais difícil. Certeza.”.

O que será esse tal de “estudar muito”? Uma coisa da qual os alunos se dão conta é que, perante dez disciplinas bastante complexas, cada uma com material de leitura e conceitos efetivamente profundos, estudar muito significa não ralar apenas dois dias antes de uma prova. Com algum tempo, eles vão percebendo ao longo do 1º ano que estudar significa uma boa dose de intensidade, uma boa organização e, principalmente, bastante constância.

Alunos que reprovam o 1º ano costumam ter bastante clareza que deixaram para a “última hora”, expressão tão presente nas queixas dos pais sobre os hábitos dos alunos. Mas essa percepção ocorre necessariamente como retrospectiva, e nunca como autoavaliação em tempo real. E ela tem sentido tanto no espectro de um ano no qual se deixou para recuperar as notas nos meses finais, quanto no dia-a-dia, quando se deixa para estudar no domingo à noite, depois do futebol, para uma prova na segunda-feira às 7h20.

O que nos cabe, como educadores, é trazer, sempre que possível, a possibilidade de fazer uma “retrospectiva em tempo real” – ou seja, desenvolver a capacidade nada simples de olharmos para nós mesmos e conseguir tirar algumas conclusões factíveis de como estamos levando a vida. Como adultos, sabemos muito bem que essa é uma necessidade que permanece o tempo todo. E, também como adultos, temos nossos mecanismos para burlar essa exigência da vida. Na perspectiva de alguém de 15 ou 16 anos de existência, ela é um desafio que tem o mesmo tamanho de um pacote de aceleração do desenvolvimento pessoal e intelectual que inclui fazer registros durante as aulas, ouvir atentamente o professor, revisar algumas aulas em casa, fazer as lições e os trabalhos com consistência e no prazo certo e preparar-se com a devida antecedência para as provas parciais e, especialmente, para as trimestrais.

Quando um aluno resolve, então, estudar para valer para uma prova, ou durante uma semana mais puxada, e percebe que ali ele ficou bastante tempo rodeado de alguns papéis escolares, ele sente que cumpriu seu dever. Mas é difícil perceber que essa cena é somente um pequeno fragmento da grande peça que a vida está lhe pregando. Ele pode interpretar isso como um “estudei muito”, com uma satisfação que evidencia seu total desconhecimento do contrato imposto e descrito linhas acima.

É por isso que é comum que muitos alunos “estudem muito” e se saiam mal em algumas provas parciais, e mesmo trimestrais, neste primeiro momento do Ensino Médio. Porque o verdadeiro volume de estudo é mais do que um final de semana sacrificado, e sim um estilo de vida. Seria algo similar a obrigar, digamos, o pai desse aluno a largar definitivamente o café, a bebida, o excesso de trabalho, a manteiga, o ovo e a fritura, além de fazê-lo caminhar cinco vezes por semana durante uma hora. Se o sujeito faz isso durante um final de semana, o esforço sobre-humano que realizou vai levar sua ilusão às alturas. Na segunda-feira, pode estar se sentindo o Clint Eastwood no melhor momento de sua carreira. Alguém há de avisar-lhe que ainda se parece com o Marlon Brando em seus últimos dias. E o mais engraçado é que esse pai pode espantar-se com a dificuldade que o filho tem para estudar. É preciso entender que os desafios dos alunos de 1º ano não são menos intensos do que aqueles que todos nós vivemos em diferentes momentos da vida.