Reflexões sobre a inclusão na Programação de Inverno

Programação de Inverno

Por Maria da Paz Castro (Gunga)

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Ninguém pode ser excluído de ser capacitado para a inclusão. Todos têm algo a aprender sobre ela.

(Peter Mittler - “Educação Inclusiva - Contextos Sociais”, 2000)

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Caro leitor,

Você tem um minuto para resolver a questão do quadro abaixo:

problema

Conseguiu? Se sim, com certeza, a matemática é algo que faz ou fez parte de sua vida em algum momento. Caso contrário, você acabou de experimentar a sensação que costuma invadir os alunos que se encontram em desvantagem intelectual, quando se deparam com os mesmos desafios que seus colegas de classe, sem que suas possibilidades de aprendizagem sejam consideradas. Esta foi uma das situações mais presentes nas discussões e reflexões propostas nos dois cursos sobre a educação inclusiva da Programação de Inverno, promovida no mês de julho pelo Centro de Formação da Escola da Vila.

Como evitar que os alunos se deparem com propostas com as quais não têm nenhuma familiaridade, como a do exemplo acima? É possível ensinar o que cada um precisa aprender, sem ficar à margem do grupo? O que podemos fazer para estabelecer uma relação significativa entre os conteúdos contemplados no currículo de uma classe e aqueles que elegemos para oferecer a alguns de nossos alunos? Como selecioná-los?

Embora os dois cursos tratassem de aspectos diferentes da educação inclusiva, estas foram questões que permearam todos os encontros.

Começamos contando com uma grande aliada: a diversidade de experiências e trajetos profissionais.Os dois grupos eram compostos por educadores de diferentes segmentos da escolaridade (Educação Infantil, Ensino Fundamental 1 e 2, e Ensino Médio), vindos de diversos estados do país, que exercem as mais diferentes funções no campo da educação: professores, orientadores, diretores, coordenadores de secretarias de educação, entre outros. Assim, foi possível manter em todos os encontros um ambiente de troca de experiências, saberes e cooperação intelectual; condições fundamentais para que se construa conhecimento em qualquer sala de aula. Desta forma, o primeiro grande objetivo dos encontros estava cumprido: fazer com que todos os participantes constatassem que a diversidade em sala de aula está longe de ser um aspecto que dificulta o trabalho do professor. Antes, pelo contrário: é um dos mais importantes instrumentos de trabalho com o qual nós, professores, podemos contar, uma vez que promove a troca, o confronto e a ressignificação dos objetos de conhecimento, o que caracteriza os legítimos processos de aprendizagem. Se, nas escolas baseadas nas ideias construtivistas esta é uma condição para a aprendizagem dos alunos, podemos dizer o mesmo em se tratando da formação de professores.

Transposto este importante momento, passamos a perseguir um segundo objetivo: contribuir com os professores no sentido de fazer com que tomem a frente do processo de aprendizagem dos alunos que apresentam algum tipo de déficit intelectual, valendo-se de sua formação para colocar em prática seus conhecimentos, muitas vezes desvalorizados por eles mesmos.

Uma terceira ideia, que perseguimos e discutimos antes de dar início às atividades do curso propriamente ditas, tratava de considerar como pontos de partida para a construção de intervenções para esses alunos, suas potencialidades e possibilidades de aprendizagem, e nunca suas dificuldades.

Só depois, por meio de discussões, trocas de experiências, leitura de textos teóricos e análise de propostas e projetos postos em prática na Escola da Vila, pudemos dar início à tarefa à qual nos propusemos: buscar estratégias de ensino, construir situações didáticas, produzir atividades e instrumentos de avaliação que ofereçam a todos os alunos a possibilidade de aprender, ocupando, para isso, todos os espaços e aproveitando todas as oportunidades de interação que a escola oferece.

Foram muitos os desafios com os quais nos defrontamos ao longo dos encontros, e os momentos em que abrimos mão de situações que nos levaram a refletir sobre nossas certezas para dar início a novas investigações, equipadas com novas dúvidas.

Finalizamos os encontros com a certeza de que conseguimos  avançar em direção à construção de uma prática consistente, que leve um número cada vez maior de alunos a aprender, torcendo para que continuem a enfrentar os desafios.