VILALÊ - A verdadeira revolução de A Revolução dos Bichos

Por Erica Santo e Fernanda Passamai Perez

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Sala cheia. Pipoca quentinha. Livro novo. Muita expectativa.

Livro impresso. Livro digital. Gente sem livro. Enfim, todos acomodados, demos início aos comentários sobre a obra eleita. As primeiras palavras e descrições de A revolução dos Bichos soaram estranhas, pois surgiram novas construções narrativas e novo vocabulário. Mesmo assim, aos poucos fomos imergindo naquele universo, naquela fazenda e, num instante, estávamos entre os animais que ouviam atentamente o discurso do Major, porco ancião que teve um sonho no qual vislumbrava um acontecimento decisivo na vida dos presentes. As paradas para discussão, a fim de retomar as características das per sonagens, as relações entre elas e o nome daqueles bichos tão peculiares eram esperadas e necessárias, pois todo início de livro é assim, e aqui não seria diferente - a gente cai de paraquedas!

Antes de continuarmos a falar dessa experiência, queremos contar um pouco como acontece a escolha dos títulos. Com exceção de Os gêmeos, todos os demais livros foram eleitos pelos integrantes. Cada um traz seu “candidato”, que pode ou não ter sido lido anteriormente pelo aluno ou mediador, e o apresenta a todos. Novamente, o desejo de partilhar fica evidente, pois há a disposição de reler uma obra conhecida, que se pensava esgotada e superada em todos os sentidos, mas que, por algum motivo, às vezes desconhecido até pelo próprio leitor, impulsiona a releitura com o grupo. Foi o que ocorreu com o clássico de George Orwell. Guilherme Azevedo, do 7º ano, nos dá algumas dicas de como isso acontece.

foto_2“Assim que eu ganhei o Kobo, abri a sessão dos livros juvenis. Eu sabia que um amigo meu e meu pai tinham lido o livro e achei interessante. Não conhecia muito bem a história e quis conhecer. Em uma semana eu li este livro, fazendo anotações. Tinha o recurso (...) e quis usar. Anotei as coisas que achei mais importantes, para lembrar quando fosse ler uma segunda vez.

Eu sugeri porque foi uma leitura interessante e você quer ler o mais rápido possível para descobrir o que vai acontecer. (...) Era um livro que daria uma boa discussão. Não ficou nenhuma questão pendente. (...) Fiquei com raiva em algumas passagens. Não acaba tudo bem. Teoricamente o Mau se dá bem”.

Depois dessa apresentação, todos ficaram entusiasmados. Entretanto, era uma obra que exigiria muito de seus leitores. Por isso, sugerimos encontros seguidos, durante os quais poucos se manifestaram, e o silêncio era predominante. Contudo, para nosso encantamento, a leitura do grupo já não era tão ingênua. No decorrer dos encontros, aos poucos, assim como acontece com alguém que começa a entender um novo idioma, nossos leitores passaram a entender (traduzir) as metáforas, as ironias e o enredo. As imagens literárias e mensagens sugeridas nas entrelinhas eram grandes desafios na obra. A revolta, o incômodo e as discussões foram ficando cada vez mais fervorosas e permitiram o aprofundamento individual e coletivo nos significados mais profundos que o texto literário pode suscitar em cada um de nós.

Para colaborar ainda mais para o debate, convidamos o Rogê, professor de História do Fundamental 2 e Ensino Médio, para um bate-papo. Na visita, todos puderam esclarecer suas dúvidas sobre os eventos e personagens históricos nos quais Orwell se inspirou. Revoluções, comunismo, socialismo, ideologia. Tudo muito bem explicado.

foto_3“Foi boa a conversa com o Rogê sobre o livro Revolução dos Bichos. Para a gente entender mais o que a história quer dizer, de onde veio a ideia do livro, se a história é verídica ou não, no que ela se baseou. Eu fiquei surpresa com a história ter sido baseada numa história que aconteceu de verdade. Antes as informações do livro embaralhavam a cabeça. Quando o Rogê começou a explicar, o livro ficou mais compreensível. Talvez a gente tenha
outro nível de percepção do livro a partir de agora”. (Helena Veliago, 6º ano).

“Quando estava lá, ficou um negócio, um pensamento muito fixo: é o professor de História do meu irmão e ele está estudando isso. Eu me senti mais esperta que meu irmão”. (Laura Santanda, 6º ano).

A visita terminou com Rogê ‘autografando’ os exemplares em lugar do escritor, tamanho impacto que o encontro provocou. E nesse pé, a leitura foi seguindo, até chegarmos às últimas linhas, às últimas palavras. Nós já não mais discriminávamos os porcos dos homens naquela cena. Euforia absoluta!

O VILALÊ tem sido para alguns alunos a oportunidade de uma leitura prazerosa, mas não sem compromissos. O prazer de superar os desafios impostos pelo texto provoca esse comprometimento do leitor com seu livro, que, inevitavelmente, envolvido com a narrativa, sempre tende a se comprometer com ela por puro deleite. Tanto é que alunos que não puderam participar dos encontros fizeram a mesma leitura autônoma, devido à ‘revolução’ provocada pelos comentários dos leitores, que os contaminaram com sua empolgação.

No ultimo encontro, fizemos uma sessão de cinema. Com muita pipoca, claro!

Para encerrar, acrescentamos alguns trechos marcantes dos encontros e lembramos que em 16/08/2013 retornamos com a leitura de Separados, v. 2 das Crônicas de Salicanda, dando continuidade à saga dos irmãos Jad e Claris.

Até lá!