Diretores, coordenadores e outros gestores: atualização e troca durante as férias!

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Por Sônia Barreira e Vania Marincek

Na última programação de inverno, no final de julho, recebemos em nossa escola 61 participantes para um curso de férias ministrado por mim e por Vania Marincek cujo título “Mecanismos e estratégias para uma gestão pedagógica da escola: o papel do Diretor Escolar” indicava que trataríamos de temas da administração pedagógica de uma escola.

A grande adesão nos surpreendeu. Afinal, cada escola tem um número reduzido de diretores e, portanto, ainda que houvesse grande interesse, não imaginávamos tantos participantes.

Conversando melhor com todos eles, ao longo dos três dias de trabalho, concluímos que alguns fatores foram determinantes para esse sucesso de público. Vale a pena analisá-los, pois eles refletem de modo interessante a função do gestor ou do mais conhecido e estigmatizado Diretor de Escola.

A solidão do gestor dentro da escola

Os professores se reúnem para discutir sua prática, realizar leituras, contar casos engraçados ou difíceis sobre seu dia a dia. Os orientadores se apoiam mutuamente, selecionam os textos com os quais vão trabalhar, trocam uns com os outros opiniões sobre a melhor maneira de ajudar ou avaliar o professor. Mas, o diretor, não. Habitualmente, ele não tem pares. E, se os tem, atuam em frentes diferentes.

Outro fator, responsável pelo isolamento do gestor, é a falta de tradição de esses profissionais explanarem seus problemas e fracassos, pois isso, no mais das vezes, poderia comprometer a imagem de sua instituição.

Assim, segue o gestor isolado e estigmatizado como burocrata ou autoritário, já que, com pouco contato com sua equipe, tem poucas oportunidades de construir relações de confiança e colaboração.

Nesse encontro pudemos nos identificar com os colegas, partilhar problemas e soluções para as mais diversas ações: relacionamento com as famílias, formação continuada da equipe, implantação de novas tecnologias, e tudo o mais que faz parte de nossos desafios diários.

A falta de oferta de atividades de qualidade para este profissional

Os cursos voltados para a direção são habitualmente de caráter administrativo: “como reter alunos”,  “como diminuir a inadimplência”, temas certamente importantes para uma escola particular, mas não propriamente os centrais para o desenvolvimento profissional do gestor pedagógico.

Outros cursos anunciam temas que, aparentemente, seriam do interesse do diretor escolar, mas falham na abordagem genérica quando ministrados por profissionais de outra área, que insistem em afirmar que dirigir uma escola é como dirigir outra organização qualquer.

Essa ausência de propostas de cursos para diretores, que tratem de aspectos específicos da sua função, também contribui para reforçar a ideia de que a única forma de aprender e se constituir como gestor é a experiência individual isolada, e que não seria necessário ou mesmo possível ao gestor distanciar-se dos aspectos centrais de sua função para refletir sobre eles e construir um referencial mais fundamentado para embasar sua ação.

Durante esse curso de férias pudemos conferir que a maioria de nós não concorda com isso e vê na gestão escolar especificidades fundamentais, as quais precisam ser compreendidas e bem trabalhadas.

Numa escola, os relacionamentos interpessoais, o clima de trabalho, a cultura organizacional têm peso direto na qualidade daquilo que a organização entrega. Valores pessoais, crenças e visão de mundo antagônicas que convivem bem num banco ou numa empresa de telefonia não surtem o mesmo efeito numa escola!

A falta de tradição, no mundo educativo, de valorizar a gestão

Por outro lado, há também aquelas ações formativas para o profissional que está em serviço que enfatizam apenas os conteúdos pedagógicos como se os temas da gestão não fossem importantes.

E como nós, diretores, em geral somos educadores saídos da sala de aula, temos, sim, menos formação nessa área. Sabemos muito sobre a proposta pedagógica de nossas escolas e muito menos sobre a natureza do trabalho diretivo.

Este foi um eixo abordado por nós ao longo do curso, e que observamos repercutir muito bem nos participantes: as tarefas e responsabilidades do gestor, a gestão do tempo, a organização dos projetos institucionais, os processos da área de RH, de comunicação, e outros temas foram debatidos, comentados e conceitualizados.

A referência da Escola da Vila

Muitas escolas brasileiras nos honram com suas presenças em nossos cursos, há muitos anos! Esta é, sem dúvida, uma razão importante para esse grande número de participantes.

Procuramos fazer jus a essa posição de referência que ocupamos, trazendo para os cursos não apenas os nossos acertos, nossos sucessos, mas também nossos impasses, experiências negativas, erros de encaminhamento, problemas que ainda não superamos, e a reflexão e análise que nos proporcionaram.

Na nossa avaliação, essa transparência ajuda o participante do curso a sentir-se instigado a refletir, a melhorar sua prática e a desenvolver suas capacidades profissionais.

O mesmo ocorre conosco. Cada novo curso dado, um novo aprendizado. Repensamos nossa prática em um espaço de interlocução privilegiado e retornamos à rotina nos sentindo mais preparadas e fortalecidas.