Evento de passagem para o Ensino Médio: um dia como nenhum outro

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Por Irene Antunes e Roberta Tinoco

No sábado, dia 21 de setembro, os alunos de 9º ano se encontraram na Escola logo cedo pela manhã para participar de mais uma atividade do processo de passagem do Fundamental II para o Ensino Médio. Junto aos novos alunos, candidatos a vagas na Escola para 2014, realizaram uma avaliação diagnóstica e uma dinâmica de integração comandada por alunos do Ensino Médio.

A prova continha exercícios de Matemática, questões de interpretação de texto e uma proposta de redação, e tinha o objetivo de fornecer aos alunos e à Escola uma visão de conjunto do trabalho realizado ao longo do Fundamental I e II, assim como avaliar o desempenho individual, as principais competências adquiridas ao longo da escolaridade, o que será tematizado pela Direção e Coordenação do Ensino Médio, a partir de outubro, em entrevistas com cada aluno e seus familiares.

Os alunos enfrentaram este momento com muita ansiedade e reticência. Afinal, não lhes agrada nem um pouco a ideia de acordar cedo num sábado para fazer uma prova para a qual não sabem – e não devem, lhes dizemos – se preparar. Mas, no decorrer da manhã, já envolvidos e implicados na atividade de integração, baixam as guardas e, curiosos, procuram absorver tudo o que os alunos mais velhos têm para antecipar sobre as mudanças que viverão ao longo do Ensino Médio.

Na dinâmica, os alunos veteranos solicitam que os quase calouros, em pequenos grupos, produzam dois cartazes publicitários de uma escola imaginária, um destinado a pais e outro a alunos. Os materiais disponíveis: canetinhas e revistas. Devem procurar refletir sobre o que uma escola pode oferecer, considerando esses diferentes públicos-alvo e as estratégias de linguagem interessantes para atingir cada um deles.

Em seguida, apresentam os resultados para os demais alunos e para a banca examinadora, os alunos do Ensino Médio, que confrontam os aspectos expostos com a realidade da Escola da Vila. É encantador perceber o impacto da voz dos mais velhos nos mais novos. A ideia é disparar um diálogo sobre o Ensino Médio na Vila, permeado por relatos de vivências dos veteranos, que, apostamos, dão conta de amparar as expectativas, angústias e dúvidas dos calouros, que devem até o final do ano conseguir responder algumas questões: Como será o Ensino Médio na Vila? Qual o projeto de estudo que quero assumir nos próximos três anos?

É um contato diferente do que estão acostumados. Nesse período de finalização de um ciclo escolar, os alunos com frequência se deparam com os discursos dos adultos que circundam suas vidas sobre a importância dessa etapa, dessa mudança. Os pais, familiares, orientadores e professores colocam essas provocações constantemente para os alunos de 9º ano. Com os colegas do Ensino Médio, podem obter outro ponto de vista, de um lugar mais acessível, mais próximo, almejado, o que acaba tendo um impacto maior. De uma maneira muito comprometida e sincera, os alunos do Ensino Médio tomam para si a responsabilidade de compartilhar suas visões sobre a Escola para os que chegam.

Os discursos estão recheados de palavras como autonomia, responsabilidade enquanto aluno e cidadão, amizade, intercâmbio, vestibular, provas, relações (entre eles, com a orientação, com os professores).

Eis alguns trechos de falas dos veteranos para os alunos de 9º ano:

“Não se preocupem. Se vocês pensam que vão carregar para sempre as mesmas amizades, estão enganados. É muito louco, porque você chega ao Ensino Médio e se abre para conhecer pessoas. Por exemplo, tem colegas que passaram o Fundamental inteiro ao seu lado e você nunca conversou e no Ensino Médio você descobre naquela pessoa um grande amigo. As amizades se transformam muito”.

“Quando eu estava no 2º ano, pensei que tinha errado na escolha de continuar na escola. Minha meta era fortemente entrar na faculdade, e achei que, na Vila, não daria conta. Mas, hoje, no 3º, tenho certeza que fiz a escolha certa. Não existe pressa para entrar na faculdade. Você pode fazer cursinho depois, caso precise. A vida é longa, não precisa querer tudo rápido. O importante mesmo, o que vale, e aqui tem, é a nossa formação enquanto sujeitos críticos, que sabem olhar criticamente o mundo, se posicionar, querer transformar. E esse papo de faculdade depende do aluno que você for. Não é a escola que te prepara ou não, é você enquanto aluno que entra ou não”.

“No Ensino Médio, você constrói autonomia, não só em relação aos estudos, em relação ao que escolhe estudar ou não, a dormir na aula ou não, fazer a lição ou não. E percebe o impacto dessa escolha a todo o momento: nos seus resultados e na sala de aula. Então começa a cuidar mais do seu próprio tempo de estudo. Você começa a ver o mundo de outro jeito, começa a ter mais autonomia até para circular pela cidade, se torna mais livre, dá mais valor para as responsabilidades, de alunos, sociais, de seres políticos”.

“Uma dica importante: quando o professor de Ciências Humanas fala ‘leiam o texto’, de verdade, leiam o texto! Porque você vai entrar na sala e entender o que está sendo discutido. Senão, nem vale a pena entrar. No F2, o professor vai mastigar o texto na aula, mas, no EM, ele fará referência a ele durante toda sua exposição.”.

Ao final da manhã, os alunos vão embora com muitas histórias para contar, mais elementos para refletir e um pé no Ensino Médio.

Abaixo, relatos de alunas de 9º ano sobre como encararam as atividades de passagem:

Paula Barros
Com certeza, para mim a parte mais chata foi ter que acordar às seis horas da manhã, como se fosse um dia normal. Mas não era. Afinal, quem acorda esse horário em um sábado para ir para a escola fazer uma prova? Pra mim, isso era coisa nova, algo “de outro mundo”. Mas assim foi! Cheguei nervosa na escola e foi estranho no começo encontrar todos os alunos das duas unidades de 9ºs anos lá, além de alunos novos, que pensam em fazer o Ensino Médio na Escola da Vila. Mas sou extrovertida, gosto de socializar, e logo aquilo passou e fui conhecer os novos alunos, com quem pude conversar sobre suas atuais escolas e as razões para quererem mudar para a Vila.

Mas a ansiedade e nervosismo não passaram de imediato. A prova ainda não tinha acontecido e não fazia ideia de como seria, qual seria o grau de dificuldade e como iria me sair. Faltavam alguns minutos para a avaliação começar, me dirigi até a sala, entrei, sentei, olhei ao meu redor e senti um clima diferente: as pessoas que estavam ali para fazer a prova na minha sala não eram as mesmas do meu dia-a-dia. As classes estavam todas misturadas, o que é uma prévia do que vai acontecer no ano que vem. De algum modo, isso fez muita diferença.

Bom, não posso afirmar que a prova foi fácil e que fiz com a maior tranquilidade. Afinal, havia conteúdos de anos passados, pelos quais carreguei algumas dificuldades, principalmente na parte de Matemática. Em Língua Portuguesa, matéria na qual venho encontrando algumas dificuldades nesse ano, me saí muito bem, tanto nas questões de interpretação de texto quanto na redação, onde acredito que consegui falar tudo o que tinha a expressar.

Não esperava uma manhã como essa. Foi uma experiência ótima e consegui conhecer e me interessar mais pelo Ensino Médio. Agora, cada vez mais, quero fazer parte desse ‘’mundo’’ que é o colegial. Estou ansiosa para saber o resultado dessa prova de passagem, esperar o ano que vem e, claro, sempre relembrar dos momentos do Fundamental I e II.

Daniela Bazzali
Fizemos uma atividade de produção de cartazes, em que tínhamos que criar uma escola dos sonhos para pais e outra para alunos. Foi uma atividade muito especial, em que todos do grupo se ajudaram, se esforçaram, pensaram em conjunto. Procuramos frases nas revistas que pudessem compor nossa mensagem. Completamos com desenhos, imagens e frases. No meu grupo, fizemos até um logo para a nossa escola: "Escola dos Sonhos: uma porta para a vida". No final, todos os cartazes ficaram ótimos e apresentaram ideias muito interessantes.

Por fim, tivemos uma conversa com os alunos do colegial, em que eles falaram sobre o colegial e suas atividades, como foi essa passagem para eles, e responderam nossas dúvidas. Recentemente, participamos de uma dinâmica parecida com os pais na reunião de apresentação do Ensino Médio, mas a possibilidade de fazermos essa conversa com os alunos do colegial foi muito bacana, porque nós também somos alunos e podemos falar do nosso ponto de vista, conhecer o deles. Às vezes, dava medo, outras, vontade de estar no colegial logo, ou, ainda, de continuar para sempre no 9º ano. Mas, ao longo da conversa, cada vez mais eu ficava interessada e pensando em que aluna vou querer ser nesses próximos três anos.

Apesar da falta que vou sentir de estar com a turma do Morumbi, com quem estou junta desde o Grupo 2, acho que vai ser uma boa mudança, uma oportunidade de conhecer pessoas novas e desgrudar (um pouco) das amizades já construídas.

Gilda Prado
Dentre as atividades do sábado, um momento interessante foi a dinâmica com os alunos do Ensino Médio, quando nos apresentaram, sob suas perspectivas, o que é o Ensino Médio da Vila. Eles começaram suas falas tratando de um assunto que é de grande preocupação dos diversos alunos que estavam ali: a faculdade. Durante a proposta de criar um cartaz publicitário com foco nos interesses dos pais, surgiram palavras como “preparação”, “ENEM” e “vestibular”. Citaram vários testes e compartilharam informações que eu não conseguiria em nenhum outro lugar: quais os tipos das provas, o tipo de questão, o que vale a pena, quais testes você deve fazer, dependendo do que quer cursar, dentre várias outras coisas. Falaram muito e conseguiram aliviar um pouco da tensão que eu tinha somente em pensar em todas as coisas que eu tenho que decidir nos próximos três anos.

Após todas as conversas com os alunos que já estão no Ensino Médio, percebi que o medo que sentia das provas longas, professores rígidos e matérias difíceis era exagero meu. Mal posso esperar pelo EM, e eu sei que não poderia cursá-lo em nenhuma outra escola, senão a Escola da Vila.

Bianca Tamie
No sábado, dia 21/0913, era o dia da prova para o Ensino Médio. Chegamos à escola e teve uma reunião na arquibancada com todos os alunos, a Sônia, Fermín e Susane. Confesso que foi um momento de muita pressão. Estava muito nervosa, pois na prova iria cair todo conteúdo já estudado, e tinha medo de esquecer tudo na hora.

Na hora da prova, misturaram alunos de todas as salas, como será no ano que vem. Foi um momento estranho e tenso. Ao final, achando que tinha ido super bem, conversei com meus colegas e percebi que não tinha acertado algumas questões.

O momento da conversa com os alunos do colegial foi muito agradável; esclareceu muitas dúvidas e aflições que eu tinha sobre o Ensino Médio, me fez refletir sobre o tipo de aluna que eu quero ser, me fez refletir mais sobre a Escola da Vila, que é uma escola que não nos ensina apenas a passar no vestibular, mas o tipo de pessoa que queremos ser. Foi uma conversa muito interessante, na qual desfrutamos muito sobre o colegial.