Homenagem a Vinicius de Moraes

Torn Paper on a Wall

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Por Aline Evangelista Martins

Este mês de outubro está marcado pela comemoração do centenário de Vinicius de Moraes. Temos tido notícias de uma série de shows, rodas de samba, palestras e  saraus em homenagem ao poetinha. Nesses eventos,  salta aos olhos a diversidade de público: crianças, jovens e adultos em plena harmonia, cantando os mistérios de “uma casa muito engraçada”, os dissabores de um pato “que foi pra panela” e as belezas de Itapuã e da Garota de Ipanema. No meio de uma audição de A Arca de Noé, minha filha de cinco anos, ouvindo  determinados versos da canção de abertura (“Os maiores vêm à frente / Trazendo a cabeça erguida / E os fracos, humildemente / Vêm atrás, como na vida”) me olhou bem séria e me disse:

“Mamãe, eu fico triste nessa parte...”.

Fiquei pensando no que a havia tocado: teria ela se sensibilizado por haver  fortes e fracos? Teria percebido que os animais fracos estavam em desvantagem? Teria sido tocada pelo tom que Milton Nascimento imprimiu aos versos? Provavelmente foi uma soma de todas essas questões: a oposição entre fortes e fracos diz algo para ela; o ritmo e a voz do cantor agregam novos elementos e tudo isso a faz pensar e sentir. O fato é que ficou claro, ali, naquele momento, que com Vinicius é assim: a comunicação poética acontece, sem restrição de idade, sem restrição nenhuma!

Assim ocorre na escola também. Nossos alunos da Educação Infantil e do Ensino Fundamental I se emocionam e se divertem com a Arca de Noé e com as peraltices do  Poeta Aprendiz, entre outras obras. No Ensino Fundamental II, já tive o prazer de viver momentos inesquecíveis diante de alunos de 9o ano entrando em contato pela primeira vez com o antológico “O operário em construção”. O deslumbramento com a construção poética se soma à mobilização produzida pelo conteúdo e o resultado é um momento de plena epifania. No Ensino Médio, Vinicius é presença especialíssima na sequência de “Música e poesia”. É nessa sequência que lemos com os alunos as seguintes palavras de Tom Jobim

Vinicius de Moraes é um grande poeta. No entanto, isto não é condição para se fazer uma bela letra. Uma palavra, além do sentido verbal, tem uma sonoridade e um ritmo. Só um indivíduo como Vinicius, que conhece a música da palavra, que poderia ter sido um músico profissional, poderia ter feito as letras que fez.

“Vinicius é o poeta que sabe comungar com um crioulo de morro e bater um samba com faca na garrafa. Educado em Oxford, diplomata em Paris, triste em Strasburgo, escrevendo “Pátria Minha” em Los Angeles, falando muitas línguas e sem deixar que se perceba isso, é sempre o homem que vê o lado humano das coisas.

A versatilidade do meu amigo é espantosa: - tanto compõe um samba de morro (“Eu e o Meu Amor”) como uma valsa românica e sinfônica (“Eurídice”) ou ainda uma “Serenata do Adeus”; tanto escreve um “Soneto” (“de Fidelidade” ou “de Separação”) como uma “História Passional, Hollywood, Califórnia” -; faz cinema, faz teatro e escreve crônicas deliciosas.

Tem o sentimento nato da forma que transcende o que possa ser ou foi aprendido. Estas são umas poucas facetas do poliedro cujo número de faces tende para o infinito e que se chama Marcus Vinicius da Cruz de Melo Moraes.”

Tom Jobim, abril de 1959 – contracapa do disco “Por toda a minha vida”, de Lenita Bruno

Essa possibilidade, tão bem descrita por Jobim,  de falar para todos, de tocar a todos e de comunicar-se  poeticamente e  musicalmente com todos faz Vinicius grande, querido e presença marcante em nossa escola.

Nesse momento de homenagens,  convidamos os leitores do nosso blog  a celebrar a poesia de Vinicius de Moraes, registrando, nos comentários, um verso, um trecho de letra de canção, uma curiosidade... Enfim, um pouquinho do legado desse poeta tão especial.