Encontro com pais e alunos dos 9ºs anos

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Por Fernando Sarti Ferreira - professor de História

Esta semana convidamos pais e alunos dos 9º anos para um dos eventos que marcam a passagem do Fundamental II para o Ensino Médio. Nessa noite, apresentamos o resultado do trabalho interdisciplinar de Língua Portuguesa e História, realizado neste último trimestre. Ao longo deste, no curso de História, nos debruçamos sobre um dos aspectos centrais na história do nosso país durante o século XIX: a abolição do tráfico de escravos. O fim do comércio de cativos africanos foi um dos momentos essenciais para a derrubada desta estrutura social que tanto perdurou nos territórios portugueses e chegou mesmo a acompanhar sessenta anos de nossa vida independente.

A importância desta questão, tão crucial para a história do país, reflete-se na multiplicidade e complexidade das interpretações que os historiadores deram sobre o fim do tráfico. Em um primeiro momento, foram apresentados aos alunos dados relativos ao volume deste comércio e uma linha do tempo na qual se elencavam os principais eventos e fatos marcantes relativos à proibição do tráfico negreiro atlântico, tanto no Brasil quanto no mundo.

Nesta primeira aproximação, os alunos foram instados a elaborarem suas próprias hipóteses sobre o porquê da proibição desta atividade tão lucrativa. Teria relação com a Revolução Francesa, objeto de estudo de nosso primeiro trimestre? Estaria relacionado às questões econômicas? O exercício aproximava o aluno do ofício do historiador: frente àquela série de evidências, mobilizamos nossos conhecimentos sobre o período e, finalmente, nos perguntamos: por quê?

Após esse exercício, por meio das leituras compartilhadas de alguns trechos de textos, discutimos e apresentamos aos alunos diversos pontos de vista elaborados por historiadores consagrados. A discussão de ideias e o confronto entre as diversas interpretações deram conta de dimensionar a complexidade da questão.

Todo esse percurso, na verdade, serviu de preparação para os debates que hoje apresentamos aos pais e alunos dos 9º anos. Em relação ao primeiro debate, dividimos as interpretações sobre o fim do tráfico entre dois grandes grupos, a saber, aqueles que defendem a preponderância das ideias iluministas de igualdade e liberdade na abolição do tráfico de escravos e aqueles que defendem os interesses econômicos relacionados à Revolução Industrial. Aos alunos foi solicitado que escolhessem uma das correntes interpretativas para realizar a sua defesa em um debate.

Já no segundo debate, as questões a serem debatidas giravam em torno das consequências da abolição da escravidão. Sabendo do fracasso em incorporar os libertos à sociedade pós-escravista, propusemos aos alunos que, tendo como base nossos estudos de História e diversos artigos selecionados na imprensa sobre o assunto, se posicionassem frente à adoção das chamadas ações afirmativas. Elas garantem a inserção dos negros na sociedade brasileira? Os alunos teriam que tomar posição tanto a favor como contra essas medidas.

Em Língua Portuguesa, ao mesmo tempo em que estas questões eram debatidas, os alunos puderam travar contato com diversos textos argumentativos e de opinião sobre os mais diversos temas. Trabalhavam-se a escrita e a organização de ideias, a argumentação racional baseada em dados. Buscava-se que cada vez mais o “eu acho” fosse substituído pela formulação de posições e ideias fundamentadas.

O debate público de ideias realizado pelos 9º anos não apenas exigiu a pesquisa autônoma, o trabalho com a escrita e leitura de textos complexos e o exercício da exposição oral, mas também a maturidade, o respeito pela diversidade de opiniões e a construção de um discurso embasado, que buscasse convencer e persuadir os debatedores, sempre os reconhecendo como interlocutores racionais. Mais do que um exercício escolar, os debates são um verdadeiro exercício democrático.