Planejar, realizar, aproveitar… A SAD e os três dias com um novo grupo

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Por Ana Cláudia Nicolau

Os três dias de SAD são especiais para as crianças, que têm atividades pouco usuais ao seu cotidiano, com professores diferentes e colegas que ainda não conhecem tão bem. Pelos mesmos motivos, essa é uma experiência igualmente especial e rica para a equipe docente. Estar com crianças de outras turmas, numa atividade bastante diversa do que fazemos todos os dias em sala de aula, é tão empolgante para nós quanto o é para os pequenos!

Pensar em Ciências Naturais por uma ótica menos acadêmica e mais ligada a situações de uso e experimentações, por si só, é uma diversão. Tanto na reunião pedagógica preparatória - na qual nós, professoras, literalmente colocamos a mão na massa, aprendendo a extrair os pigmentos, fazer as amarrações e tingir camisetas - como nos ajustes de outras oficinas. E, quando aliamos esse momento prazeroso ao planejamento propriamente dito, levando-se em consideração que receberemos crianças de faixas etárias diferentes, a sensação é bem próxima do “friozinho na barriga” de primeiro dia de aula; afinal, é um novo grupo que se constitui, que demanda um novo olhar de nossa parte.

O brilho nos olhos das crianças é encantador. Na oficina de construção de instrumentos sonoros da qual fiz parte, pude observar o quanto as crianças gostam de estabelecer novas relações e o quanto se igualam por uma mesma finalidade. Ali, não eram crianças do 1º, 2º ou 3º ano. Eram um grupo, trabalhando junto, trocando materiais, ajudando a colocar feijões em chocalhos, colar caixas para construir uma bateria gigante, que parecia um navio pirata, transformando o planejamento em realidade.

Mais marcante do que tudo isso, para mim, foi o momento em que prepararam pequenas apresentações para os colegas. Os grupos formados - todos, sem exceção - tinham crianças de várias turmas e séries misturadas. Reuniram-se por afinidade, por identificação com o instrumento que haviam construído, e não por sua sala de origem.

Acredito que esse seja o grande ganho de uma Semana de Atividades Diversificadas. Obviamente, não desprezo todas as descobertas científicas que fizeram no decorrer dos três dias, com discussões que começaram tímidas e chegaram a conceitos aprofundados. No entanto, essa interação entre as crianças, esse momento de estar junto com colegas que se veem todos os dias pelo parque, mas que não necessariamente brincam juntos, é algo muito precioso.

Os pequenos chegam tímidos, falam baixinho, até de certa forma assustados com a presença dos colegas “grandes”. Os alunos maiores ficam mais receosos, querem mostrar que são sabidos, crescidos. Quando todos chegaram à roda de música, no primeiro dia, estavam quietos. Entreolhavam-se, curiosos. Já no terceiro dia, o que se via era uma total descontração, com as crianças todas tão juntas, tão unidas, que mal se poderia acreditar que nunca haviam trabalhado juntas.

E foi nessa despedida, quando ouvi de uma aluna: “Ah… mas já acabou? Não vai ter outro dia para a gente continuar?”, que percebi o quanto essas mudanças também nos renovam. Enquanto professores, o desafio de planejar atividades interessantes o suficiente para alunos de idades diferentes é grande. Maior ainda, porém, é a satisfação em ver o planejamento se concretizando, os olhares curiosos, a cumplicidade entre as crianças, o sorriso, as discussões acaloradas. Observar, em apenas três dias, o quanto são capazes de fazer ciência e o quanto se divertiram enquanto isso.