O uso das redes sociais na adolescência

11_12_2013

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Por Tiago Lima

A prova de passagem para o Ensino Médio, realizada pelo 9o ano, trazia um editorial da revista TPM, sobre o qual eram feitas questões de interpretação de texto. O título era “Face é ficção” e, de uma forma bem-humorada e irônica, levantava a questão de que nos deparamos tanto com a felicidade alheia nas redes sociais, onde a vida do outro é sempre tão cheia de experiências interessantes, conquistas e celebrações, que talvez fosse o caso de se criar uma rede “antissocial”. Ali, poderíamos compartilhar nossas inseguranças, dúvidas e um pouco mais da vida “real” de todos nós.

Este ano, eu já havia recebido de uma mãe da escola um outro artigo, que discutia como, mesmo entre certa elite intelectual, a competição por ser popular na internet era capaz de angustiar pessoas aparentemente inteligentes e críticas.

Como os adolescentes percebem essa questão? Peço licença para fazer uma breve reflexão sobre o assunto.

Em algumas conversas e atividades com meus alunos, discutimos como é comum, no meio deles, uma preocupação com a quantidade de “likes” e “curtidas” que uma foto no Instagram recebe. Puderam perceber, a partir dessa constatação, como, para muitos, é importante perceber que são bem aceitos socialmente e têm uma comunidade de “seguidores” (ainda que os papéis se rodiziem), que aprecia suas ideias e acha bacana as coisas que fazem. A resposta mais imediata dos alunos para esse problema é que isso não deveria ser tão importante para essas pessoas – afinal, cada um é cada um, tem seus próprios gostos e características, e não deveriam se importar com o que os outros pensam.

O que é verdade, em um certo sentido. Sabemos que há pressões do grupo para sermos de tal ou tal jeito, termos interesses e produtos que são mais populares ou que “agregam mais valor”. Mesmo que, obviamente, seja mais fácil notar isso no outro do que em si próprio (não é simples aceitar que também somos influenciáveis).

Mas o problema se acentua, talvez, justamente porque não basta seguir determinada tribo e ter uma identidade clara. As redes sociais parecem nos incentivar hoje a sermos, antes de tudo, autênticos. Como diz o editorial da TPM, a ideia de uma rede antissocial seria para que se criasse um lugar onde “ninguém pudesse escrever que seu livro de cabeceira é russo, que seu filme favorito é tailandês ou que seu defeito é ser perfeccionista”.

O fenômeno, certamente, não é de tão simples explicação, mas tem sido relativamente comum escutar de pais e mães de Fundamental 2 que os filhos não demonstram vontade de encontrar amigos no fim de semana ou fora da escola; lá por certa idade, muitos adolescentes parecem duvidar que são capazes de ter realmente uma experiência tão autêntica quanto a que seus pares parecem ter...

Diante disso, para os pais é bom lembrar que pedir aos filhos nesse momento que sejam eles mesmos é um conselho que não é tão fácil de seguir. E que o que pode parecer simples, que é dar tempo para que se assentem as contradições e inseguranças da idade, já é muito.

Para a escola, a tematização e o exercício de bom uso dos ambientes virtuais parecem ser cada vez mais necessários, com discussões em aulas de Orientação Educacional e também com o uso do Ambiente Virtual de Aprendizagem, por exemplo, para que os alunos aprendam, assim, a lidar com uma forma de interação diferente, em que o que dizemos fica registrado e disponível para muitos.

Mas, não é só isso. Em tempos em que convivemos tanto com as inúmeras mostras de felicidade alheia, a valorização de espaços para que a interação entre os alunos se dê de forma mais “real” talvez seja mais importante do que nunca: uma dupla em que não é tão fácil trabalhar, uma assembleia de tema difícil, ou a aula em que se discutem os erros e acertos de um colega.