Aprender: uma jornada de interação!

Sobre favorecer o diálogo, a troca e o trabalho coletivo.

12_03_2014

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Por Priscila Maria Sbizera

Dois alunos discutem:

Não, eu não concordo! Você não pode colocar tanto zero para fazer esse número.”

Mas a professora falou que era pra gente escrever dois milhões, cento e quarenta e sete mil, quinhentos e trinta e dois, então só podia ser 2.000.147. 532.

Só que tem muito zero. Assim fica um número maior que eu ainda nem sei ler direito, mas eu sei que até o um (e aponta para o algarismo), acaba o que é do mil e que depois já vem o milhão, então, se colocar três zeros atrás do dois vai passar, acho que vai ficar um número do bilhão.

Só que a gente fala assim, ó: dois milhões, tem que ter os dois milhões!”

Outro aluno que fazia a mesma atividade em outro grupo, ouve, entra na conversa e diz:

Eu sei que os números de milhão têm só dois pontos e sete algarismos. Tenho certeza disso porque, olha só, um milhão é assim: 1.000.000 (e anota o número na lousa). Acho que essa dica pode ajudar vocês a decidirem.

Volta ao trabalho, e os outros dois seguem discutindo.

É... Não duvidamos de que você deva estar pensando: “Que coisa, mas... E o final desta conversa? Os alunos chegaram a uma conclusão ou não?” E é de propósito que não escrevemos o diálogo até o final, pois, neste momento, o que mais queremos é partilhar da riqueza de uma situação como essa para a construção de conhecimentos.

Esse pequeno trecho de uma discussão entre alunos do quarto ano sobre a escrita convencional de números da ordem do milhão é só um exemplo dentre as inúmeras atividades planejadas pela equipe da Escola da Vila sob a ótica do diálogo, da troca de ideias e do trabalho cooperativo.

Sabemos que, para acontecer uma aprendizagem significativa, os alunos precisam ter a oportunidade de construir uma interpretação pessoal acerca do objeto de conhecimento, coordenando uma série de ideias e estabelecendo relações. Mas, não nos enganemos: construir uma interpretação pessoal não é o mesmo que construir uma interpretação solitária. Pelo contrário! Ao instaurar um clima de aprendizagem em que os alunos têm problemas para resolver, precisam expor diversos pontos de vista, defender ideias, ouvir e considerar opiniões distintas contribuímos, de um lado, para que se responsabilizem pelo próprio processo de aprendizagem e também pelos processos de colegas, e, de outro, para que avancem em seus conhecimentos de uma maneira na qual não poderiam avançar sozinhos. Trabalhar em parcerias, seja em duplas, pequenos ou grandes grupos favorece que os alunos desestabilizem algumas certezas, abrindo espaço para dúvidas, conflitos, outras certezas e novos conhecimentos. Aos professores cabe o papel de garantir que as crianças sejam interlocutoras umas das outras e organizar atividades potentes o suficiente para que os próprios alunos protagonizem suas descobertas.

A interação é, para nós, um dos princípios norteadores das escolhas pedagógicas. Estamos certos de que, assim como o motor está para o carro, movendo a máquina, a interação está para a aprendizagem, sendo ela a peça chave para o pleno desenvolvimento da aprendizagem significativa!