Ser protagonista de seu percurso e se responsabilizar pela aprendizagem coletiva: duas faces da mesma moeda

Sobre colocar o aluno como protagonista de seu percurso de aprendiz e garantir que se responsabilize pelo seu processo de aprendizagem e pela aprendizagem coletiva.

210213 ESCOLA DA VILA 41

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Por Cláudia Cavalcanti

Prever situações de aprendizagem que coloquem o aluno como protagonista de seu percurso de aprendiz e garantam que se responsabilize pelo próprio processo de aprendizagem e pela aprendizagem coletiva é um dos princípios que regem o planejamento das atividades de convívio realizadas nas turmas de Fundamental 1. Esse é um princípio de relevância para todos os conteúdos a serem trabalhados. Nas aprendizagens relativas ao convívio, um bom exemplo são as discussões pensadas a partir dos problemas que surgem na hora do parque, no jogo de futebol, pois esse é um tema que perpassa vários anos do Fundamental 1 e serve de disparador para conversas sobre respeito, companheirismo, vivência em grupo, competição, entre tantos outros. Vejamos um trecho de uma roda de convívio do 1º ano. A turma enfrentava problemas no momento do parque, que foram trazidos para a roda de convívio, por escolha da professora, que inicia a conversa dizendo:

Professora: Pessoal, hoje vamos precisar da ajuda de todos para conversar sobre os problemas do futebol. Mesmo quem não joga com frequência participará desse encontro para poder contribuir com dicas e sugestões aos amigos que jogam muito. Para começar, quem poderia dizer um problema que enfrentamos no futebol?

Criança 1: A gente fica discutindo e esquece de marcar os gols, depois não sabemos quem ganhou.

Criança 2: A gente fica discutindo se é falta ou não.

Criança 3: Os goleiros estão querendo chutar direto para o gol e não passam a bola pra gente.

Criança 4: Às vezes, tem briga porque os amigos querem jogar junto.

Conhecer os problemas vividos por crianças de seis, sete anos de idade chega a ser divertido, dada sua simplicidade, mas é muito importante, pois nos dão a dimensão daquilo que podem resolver com autonomia e do tipo de ajuda que precisam para que o convívio em grupo no ambiente escolar também possibilite crescimento. Nesse momento, a professora tem o importante papel de organizar as demandas do grupo e de ajudar as crianças a se distanciar dos fatos ocorridos para que elas possam pensar sobre as atitudes de forma menos implicada. As conversas têm por objetivo geral tematizar aspectos que favoreçam a melhor convivência do grupo e promover a reflexão sobre as formas de convívio mais respeitosas e adequadas. Voltando à roda, ao final dessa primeira rodada sobre os incidentes do futebol, a professora devolveu os problemas ao grupo.

Professora: Bom, podemos perceber que os amigos que jogam futebol precisam de dicas para decidir como podem saber qual foi o resultado do jogo, saber se houve falta ou não, como fazer para não machucar os colegas, se os goleiros podem chutar direto para o gol, saber se o goleiro pode sair do gol, saber quem bate pênalti, e como fazer para escolher os times. Quem quer dar uma dica ou sugestão?

Segue-se uma longa conversa, da qual muitos querem participar opinando, inclusive aqueles que jogam e enfrentam os problemas “na pele”. Conversas como essas cultivam o sentimento de pertencimento e, ao mesmo tempo, vão implicando na mudança de atitude e no cuidado com o outro. Para que todos possam se divertir no jogo de futebol, tem de haver companheirismo, vontade de inserir o amigo, desejo de jogar junto, e espaço para dialogar quando as coisas não vão bem. Diálogo que requer uma participação não só dos alunos, mas também de um professor atento e sensível aos “dramas” de seus pequenos. Que ouve, acolhe e devolve ao grupo aquilo que podem assumir e se responsabilizar como indivíduos que se esforçam para superar seus desafios individuais e possam contribuir para que a vida em grupo seja melhor a cada dia.

Para quem ficou curioso em saber como terminou a conversa, as crianças combinaram que:

• Os gols seriam registrados em algum lugar.

• O goleiro não poderia sair do gol.

• Se houve problema durante o jogo, iriam conversar para tentar resolver.

• Os times teriam a mesma quantidade de jogadores e seriam equilibrados.

• Os jogadores escolhidos não poderiam declinar por não terem ficado com seus amigos.

• Não escolheriam apenas os amigos para a composição dos times.

• Fariam uma parlenda para definir quem escolhe o time.

Mas, certamente, essa é a primeira de muitas outras conversas sobre o futebol e as melhores formas de convívio...