Eu desisto! Não consigo aprender isso! E agora?

Blank Pad of Paper, Eraser and Broken Pencil

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Por Susane Lancman Sarfatti

Toda semana nos deparamos com desabafos, mais ou menos emotivos, por parte dos alunos que nos dizem: “Eu desisto: Matemática não é para mim.”, “Eu não consigo aprender Inglês!”, “Eu não nasci para estudar História...”.

Alguns alunos nos contam isso de forma serena e racional, já outros se mostram desesperados diante do desafio de aprender algo que parece impossível. Como costumamos reagir nessas situações?

Claro que a nossa reação depende muito do interlocutor que temos à nossa frente, de sua idade, do grau de desespero, da série que cursa, de seu momento de vida. Mas, há alguns princípios que norteiam nossa conversa. São eles:

• O ensino e a aprendizagem são ações diferentes: Parece óbvio, mas, na prática, há quem ache que basta alguém ensinar para o outro aprender. Pode haver ensino sem aprendizagem, como pode haver aprendizagem sem ensino. Portanto, é preciso checar se o motivo do desespero está relacionado com o ensino ou com a aprendizagem. Caso seja no ensino, é preciso agir com o professor, discutindo os planos de aula, os conteúdos… Mas, se a questão estiver na aprendizagem, é preciso conversar com o aluno sobre o que significa aprender e analisar a forma em que se dá o processo de aprendizagem daquele aluno em particular, nas diferentes áreas do conhecimento.

• A aprendizagem depende do estabelecimento de relações: Alguns alunos acham que para aprender basta ficar quieto em classe e ouvir bem o que o professor diz: “Eu fico bem quietinho e as coisas não entram na minha cabeça”, dizem alguns. Cá entre nós, a posição de “vaso que recebe flores” não leva à aprendizagem. Para aprender, é necessária a participação ativa do aluno, relacionando o que já sabe sobre determinado assunto a novos conhecimentos.

• Os limites de cada um não são pré-determinados: Como educadores, precisamos ser sempre otimistas e acreditar que a criança ou jovem pode mais. Não se trata de um otimismo cego: é preciso, mesmo diante dos problemas, manter a convicção de que podem avançar, pois não há como ser determinista nesse assunto.

• As dificuldades não têm causa hereditária ou congênita: Reverter a ideia do aluno que acha que sua dificuldade se deve a uma causa hereditária (“meu pai também tem a mesma dificuldade”) ou causa congênita (“desde que nasci sou assim”), o que pode ser chamado “Síndrome da Gabriela”, “Eu nasci assim, eu cresci assim e sou mesmo sim. Vou ser sempre assim Gabriela, sempre Gabriela…”.

• O estudo é fundamental para aprender: Discutir com os alunos o significado do que é estudar para aprofundar algumas ideias errôneas:

“estudar tem de ser prazeroso”, quando na verdade estudar dói, requer esforço, e o prazer se dá como consequência da aprendizagem.
“estudar é repetir muitas vezes o exercício”, quando sabemos que a repetição sem reflexão não leva à aprendizagem.
“estudar é ficar muito tempo com os livros na mão”, quando pode significar perda de tempo, e não concentração.

É importante que os alunos se responsabilizem pela própria aprendizagem, não deleguem todo o ônus, nem o bônus, aos professores ou pais. Afinal, a aprendizagem depende dos diversos atores: professores, gestores, pais e, é claro, dos alunos. Para nós, educadores, sabemos que nos cabe boa parte desse processo.

Como vocês lidam com o desespero das crianças e dos jovens nos momentos “Eu desisto!”?