Como é que vocês conseguem?

Por Dayse Gonçalves - Orientadora Pedagógica e Educacional da Educação Infantil

Essa é uma pergunta que pais de crianças pequenas frequentemente nos fazem. E ainda completam: “Lá em casa eu só tenho três e às vezes não consigo dar conta!”

Costumamos responder a essa pergunta dizendo que o ambiente escolar nos favorece. O fato de a criança fazer parte de uma turma, de querer compor com o grupo de amigos, isto é, ter atitudes parecidas com as de seus pares, que tanto admiram e nos quais se espelham, de corresponder às expectativas dos professores, isso tudo já ajuda e muito.

Uma criança de 4 ou 5 anos que sempre faz birras quando contrariada em casa nem sempre faz birras na escola. Acreditem! Se fizer, logo os próprios amigos lhe dizem “Não precisa chorar! Que tal a gente brincar um pouco de cada coisa?” ou “Não precisa chorar, quem chora é bebê! A gente já sabe conversar, não é professora?”

Obviamente, são atitudes que se aprende, portanto, se ensina. Quando chegam à escola, é comum os menores chorarem quando contrariados ou mesmo agirem fisicamente, quando desejam algo que está com outra criança. Às vezes agem fisicamente até por uma dificuldade de separar fantasia de realidade. Há uns dois anos, por exemplo, estava observando três crianças de 3 anos brincando (dois meninos e uma menina) e um dos meninos deu um empurrão na menina. Me aproximei e perguntei por que tinha feito aquilo? Ao que ele respondeu: “É que ela é do mal, Dayse!” Então expliquei que se tratava de uma brincadeira, e que na brincadeira a gente finge que está lutando, dá soco no ar ... aquele discurso que os adultos já conhecem e fazem em situações parecidas.

Mas voltando à pergunta inicial – Como é que vocês conseguem? – costumo dizer a relação adulto-criança, no ambiente escolar, é um pouco diferente. Em primeiro lugar, não chegamos cansados do trabalho (a escola é o nosso trabalho); não nutrimos sentimentos de culpa, pelo menos não a ponto de ceder às chantagens dos pequenos ou de achar que com os limites que colocamos estamos impingindo a eles um sofrimento ao qual não podem suportar.

Temos clareza da importância de ajudar nossos pequenos a lidar com situações de frustração, de ensinar a expressar sentimentos e necessidades verbalmente, de ajudá-los a compreender, progressivamente, que o diálogo é a forma privilegiada de comunicação e de expressão de sentimentos e ideias. Nas situações mais exigentes emocionalmente, como no momento de lidar com um conflito ou de colocar limites, sem alterar o tom de voz olhamos olho no olho. Mesmo quando é preciso conter fisicamente, o fazemos com firmeza mas demonstrando ao mesmo tempo nossa crença na sua capacidade de aprender a lidar com aquele tipo de situação.

Dá trabalho? Dá muito trabalho! Mas não sabem a satisfação que é acompanhar este processo de aprendizagem. Se a gente não exercita isso no dia a dia, como é que as crianças vão aprender a se relacionar?

O que aprendem agora as crianças levam para a vida. Se desejamos uma sociedade mais justa, mais democrática, precisamos preparar nossos alunos para o convívio social. Portanto, uma boa autoestima e equilíbrio emocional são fundamentais para a inserção social, quaisquer que sejam os espaços de relação interpessoal.