Duas viagens

16_04_2014

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Por Tiago Lima

No Fundamental 2, todo ano fazemos um trabalho de campo em cada série: uma viagem cujo objetivo é fazer uma investigação fora da escola sobre assuntos que estão sendo tratados em sala de aula, levando os alunos a estabelecer maneiras diferentes de se relacionar com um objeto de estudo, além de propiciar experiências interessantes de autonomia e integração.

Já há algum tempo, temos achado interessante levar, em algumas dessas viagens, além dos professores, dois alunos de Ensino Médio, para cumprirem o papel de monitores. A proposta não é criar simplesmente uma situação de trabalho, para termos mais gente cuidando dos nossos alunos, mas vemos aí também uma oportunidade formativa para os alunos de Ensino Médio. Com a idade adulta se aproximando, a experiência de novos papéis concretiza e estimula esse crescimento.

Temos, portanto, muito prazer em compartilhar nesse espaço algumas reflexões que dois alunos de 1º ano desenvolveram acerca da viagem a Brotas com o 6º ano – realizada nos dias 26 a 28 de março últimos. É possível notar o empenho e a coragem que precisaram para encarar uma situação nova, mas ficamos com a gratificante sensação de que as reflexões empreendidas a partir desta valeram a pena.

Para os alunos mais novos, mais do que cuidadores extras, parece-nos que ganham a oportunidade de entrar em contato com um modelo do que é ser aluno e de que tipo de jovens serão daqui a essa eternidade, não tão distante, que são esses quatro anos que os separam do fim do Fundamental 2.

“Enquanto estive em Brotas, fiquei muito feliz pelo fato de o 6º ano me receber bem. Alguns me olhavam com curiosidade e outros até chegaram a me perguntar quantas vezes eu tinha repetido de ano. A surpresa de descobrir que eu e o Gustavo éramos do 1º EM era grande.
Durante as atividades, várias pessoas vinham me perguntar sobre a matéria e tirar dúvidas, o que me surpreendeu um pouco; eu não imaginava que eles tivessem tamanha ‘confiança’ em um de nós, uma vez que também somos estudantes.
As garotas do meu quarto se relacionaram bastante comigo, tanto que até me confiaram alguns de seus ‘problemas pessoais’, aos quais eu dei conselhos. Fiquei feliz por ter criado uma rápida – porém válida – relação de amizade.
Não consegui me imaginar lá como estive há 4 anos, uma vez que não me lembrava de várias coisas; parecia que tudo havia mudado. Mas, mesmo não me lembrando de como as coisas aconteceram quando eu estava no sexto ano, eu senti muitas saudades daquela época ao ver as crianças se divertindo e agindo exatamente da forma como eu devo ter agido quando estava no 6º ano.
Os vídeos e os simuladores que foram passados me surpreenderam muito. É exatamente a matéria de física que estamos aprendendo agora, e eu ficava me perguntando até onde daquele conteúdo as crianças estavam entendendo, ao mesmo tempo de estar imensamente aliviada, já que esclareceram muitas das minhas dúvidas.
Foi uma experiência muito boa no geral, e ela foi bem diferente de tudo o que eu já tinha vivenciado antes. Por um lado, me sentia um pouco responsável pelas crianças, algo que foi completamente novo para mim. Por outro lado, as ‘ordens’ que os monitores davam às crianças muitas vezes não se aplicavam a nós dois, e inicialmente eu ficava um pouco confusa.
Estávamos em um ambiente diferente e nos relacionando com pessoas com as quais não estávamos acostumadas a conviver, e isso nos propiciou várias experiências novas”.
Beatriz Navarro, 1º A

“Após viajar, como aluno, para Brotas, em 2010, e, em 2014, como monitor, pude perceber como as experiências são distintas.
Assim que soube que havia sido escolhido como monitor, fiquei um pouco aflito, confesso. Nunca havia desempenhado uma função como a que desempenhei na viagem, que seria de auxílio, como quem já passou por esta experiência/fase. Afinal, sou o irmão caçula, e mal sei cuidar de mim mesmo, cuidar dos outros seria um desafio.
Porém, percebi com o decorrer da viagem que eu estava lá muito mais para ajudar/auxiliar os alunos do que cuidando, afinal, são mais novos, mas já possuem cerca de 10-11 anos, não precisam da companhia de alguém mais velho constantemente. Algumas situações em que pude ajudar os alunos foram quando havia uma entrevista e a necessidade de anotar o que o entrevistado dizia, na qual memorizava algumas falas e as repetia para os alunos anotarem, ou em uma brincadeira noturna, em que um aluno estava com medo e o acalmei, dizendo que tudo ia ficar bem, e não passava de brincadeira.
Meu convívio com os alunos foi bom, conversava não só com os meninos do meu quarto, mas também com os outros meninos e meninas em momentos de integração, como na piscina, no futebol, em filas e em caminhadas. Acompanhava-os em todas as atividades propostas, interferindo quando havia uma distração em um momento inadequado ou uma discussão.
Por fim, posso dizer que foi uma experiência muito boa, com a qual eu tive novas vivências, como o convívio com alguns alunos mais novos; afinal, neste momento escolar, estou convivendo mais com os alunos mais velhos. Em comparação a primeira vez que viajei com a escola para Brotas, percebi que as atividades continuam as mesmas, e, desta vez, sem estar lá com o propósito de estudar, observei com mais atenção como a viagem é bem distribuída em momentos de estudo e de lazer, os quais, na minha opinião, são fundamentais para os alunos de sexto ano. Infelizmente, também percebi que, ao longo dos anos, os trabalhos de campo passam a ter cada vez menos esses momentos de lazer, o que me fez ter saudade e querer continuar em Brotas por mais alguns dias.”.
Gustavo Torres, 1º B