A esfera pública da arte

Por Renata Pedrosa
Professora de História da Arte do Ensino Médio

A arte nem sempre foi acessível ao grande público. Por muito tempo, a produção artística ficou restrita ao clero e à aristocracia. É no século XVIII que tem início o surgimento de uma cultura urbana e, com ela, uma solicitação por uma esfera pública da arte. O Museu do Louvre, inaugurado em 1793, é o primeiro museu público francês. E os Salões de Arte, representados brilhantemente nas charges de Honoré Daumier, foram criados por pressão da burguesia que pleiteia acesso à cultura.

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Os Salões de Arte duravam de três a seis semanas, e atraíam multidões. Era a primeira vez que a arte se emancipava dos preceitos da corte, do Estado e da Igreja, e passava ao embate com público. Os críticos de arte, como Charles Baudelaire, surgiram no papel de porta-vozes deste novo público, produtores de sentido que chancelavam as produções dos artistas nos salões.

No século XIX inicia-se a “era dos museus”, e diversos museus são criados na Europa. No século XX acontece o processo de especialização dos museus onde são criadas instituições que abrigam e conservam a produção de épocas específicas, como o Musée D’Orsay em Paris, dedicado à arte da segunda metade do século XIX, e o Moma (Museum of Modern Art) em Nova York, dedicado à arte moderna do século XX.

O acesso às artes visuais democratizou-se ao longo da história e permitiu que o grande público tivesse acesso a produções que antes estavam restritas às classes dominantes. Hoje os museus, os centros culturais e as feiras de arte continuam atraindo multidões ao redor do mundo e a produção de arte brasileira está cada dia mais presente nas instituições artísticas mais conceituadas dos grandes centros urbanos.

Em recente artigo para a Folha de S. Paulo, Silas Martí descreve o atual interesse dos galeristas nova-iorquinos por produções de artistas brasileiros como Mira Schendel, Lygia Pape, Lygia Clark, Hélio Oiticica e Geraldo de Barros. Artistas que iniciaram sua produção na década de 1950 e que, hoje, segundo Martí, têm suas obras comercializadas por valores que chegam a 5 milhões de reais.

O acesso a produções artísticas de relevância histórica não é novidade para os alunos da Escola da Vila. Além de visitas periódicas a museus, centros culturais e bienais, atividades que fazem parte do currículo do Ensino Fundamental 1, 2 e Médio, os alunos desta escola convivem diariamente com uma coleção de arte contemporânea acessível a toda comunidade escolar.

Ao longo dos anos, a Escola da Vila vem formando uma coleção de arte contemporânea brasileira digna de museus tais como o MAM (Museu de Arte Moderna de São Paulo) e o MAC (Museu de Arte Contemporânea da USP). Seu acervo conta com produções de artistas que iniciaram sua carreira na década de 1980 (Rodrigo de Andrade, Sergio Romagnolo, Claudio Cretti, Leda Catunda e Nuno Ramos) e que hoje já fazem parte da história da arte de nosso país. Suas produções estão espalhadas por jardins, bibliotecas, halls e áreas de convivência das duas unidades – Butantã e Morumbi −, geralmente acompanhadas de identificação. A escola entende que, apesar do risco que corre quando coloca sua importante coleção nos espaços de convívio dos alunos e funcionários, esse acesso é constituinte da proposta de tratar a cultura como instrumento indispensável do pleno desenvolvimento humano.

Se este texto despertou o seu interesse para conhecer um pouco mais sobre a coleção de arte da Vila, veja a seguir o levantamento de algumas obras da escola feito pelos alunos Caio Canedo Romano e Arthur Bekin de Andrade, do 1º ano do Ensino Médio.