Escola forte versus Escola-forte

26_05_2014

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Por Maria Ivone Domingues

Muitos pais que procuram escolas com propostas mais inovadoras vivem sentimentos antagônicos durante a escolaridade dos seus filhos. Se, por um lado, reconhecem que os filhos “aprendem a pensar”, como costumam dizer para se referir ao trabalho intelectual que a escola promove, por outro lado, sentem falta de determinados conteúdos que consideram simbólicos, essenciais. “Vi que meu filho não sabe todas as capitais dos estados do Brasil. Fiquei chocado. O que ele sabe de geografia, então?

Todas as escolas fazem recortes curriculares. Não é possível ensinar tudo. Escolas que têm uma proposta inovadora, como é o caso da Escola da Vila, que se preocupam com o sentido que os alunos atribuem ao que estão aprendendo e não fazem “desfile de conteúdos”, seguindo um capítulo do livro didático atrás do outro, lidam com alguns mitos: surgem, por exemplo, dúvidas quanto à adequação do volume dos conteúdos abordados e à presença dos conteúdos mais tradicionais no currículo.   

Especialmente quando os filhos crescem, começa a prevalecer a demanda pelo que chamam de “escola forte”, que poderíamos grafar como “escola-forte”, instituição vinculada às ideias de segurança, controle, tradição, permanência. Espaço fortemente cercado, delimitado, protegido do mundo exterior.  As inovações curriculares, admiradas pelos pais nos anos iniciais da escolaridade, podem perder força em relação a demandas por conteúdos simbólicos que se tornam quase sinônimos de uma escolaridade consistente.

Eu acho maravilhoso o jeito que vocês ensinam, queria ter tido a oportunidade de estudar desse jeito, mas fico na dúvida se meu filho aprende tudo o que é ensinado nas outras escolas. O meu sobrinho está na mesma série e já sabe regra de três!”

Durante as próximas semanas, publicaremos uma sequência de textos neste blog com o objetivo de provocar uma reflexão conjunta sobre esses mitos e mostrar que o que a gente ensina aqui na Vila, embora  tenha uma abordagem específica, que busca conservar o sentido e evitar a fragmentação, não difere substancialmente, em termos de temas de estudo, do que é ensinado na maioria das escolas. Não praticamos um currículo de Saturno,embora nossa visão de currículo inclua alguns conteúdos que não costumam ser vistos como tais, como é o caso das práticas de estudo, por exemplo.

Nosso intuito é explicitar as nossas forças, já que nos consideramos uma escola tão forte, que é capaz de se rever constantemente. Escola que também se sente segura para mostrar da forma mais organizada possível sua produção pedagógica, e discuti-la com outras instituições, a fim de refletir e encontrar soluções para os problemas comuns do universo escolar.

Buscamos o aperfeiçoamento constante, assumindo nossas imperfeições. Vivemos permanentemente a aventura de inovar criticamente.

Em tempo: as mudanças não entram na escola sem pedir licença. A reflexão e os princípios apresentados anteriormente neste blog estão sempre na porta e guiam o caminho das visitantes.

Recomendamos a leitura do texto da escritora Noemi Jaffe sobre o tema da escola forte.

Noemi foi professora do Ensino Médio da Escola da Vila.