A inclusão como uma das forças da Escola da Vila

4_06_2014

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Por Maria da Paz Castro (Gunga) e Irene Antunes

Nossa conversa de hoje aborda um tema muito frequente em diversos espaços de discussão sobre a educação. Trata-se de avaliar as implicações de uma prática inclusiva dentro de uma escola construída sobre os alicerces do construtivismo, e que responde por um projeto pedagógico consistente. Em outros termos, quais as vantagens da inclusão para todos os participantes da escolar regular?

Essa é uma questão que deve ser vista a partir das diversas facetas da escola e do fazer educativo, considerando o ponto de vista de todos os sujeitos que a compõem: professores, pais, funcionários e, principalmente, alunos.

Para os professores, ensinar levando em conta a diversidade de saberes e competências significa contemplar, além de uma ampla gama de conteúdos, as diferentes formas de construí-los, apresentadas por cada um dos alunos. Isso não é tarefa fácil, e fugir desse desafio a partir de padronizações excessivas é o caminho mais comum. Mas o educador que enfrenta realmente o desafio, constata que, além de ninguém aprender na mesma forma, ele não é o único a ensinar, e passa a promover interações controladas, bem planejadas, que obriguem um trabalho cooperativo que resulta importante para todos. Ganha o educador e ganham os alunos, que, para além de aprender os conteúdos, desenvolvem a competência de trabalhar em grupos diversos, e participar de trabalhos colaborativos reais.

Na perspectiva dos alunos, sabemos que uma aprendizagem verdadeiramente significativa só acontece quando ele conta com a oportunidade de compartilhar, confrontar e reconstruir seus saberes com seus pares, desempenhando diferentes papéis nas situações de aprendizagem e lidando de diferentes formas com os objetos de conhecimento. A presença da diversidade amplia de forma significativa essas oportunidades, convocando todos a participar de forma ativa de uma rede de conhecimentos que se cria em cada sala de aula. Desde pequenos, nossos alunos são convidados a desempenhar os papéis de quem ensina e de quem aprende, concomitantemente, e é dessa maneira que avançam em seus processos de aprendizagem: ressignificando os conteúdos a partir da intervenção de um colega mais capaz e reorganizando seus esquemas de aprendizagem para ensinar algo àqueles que precisam de ajuda.

Talvez em escolas nas quais o currículo carregado não permita o tempo da aprendizagem profunda, onde tanto alunos quanto professores se encontram presos em um currículo composto por um montante enorme de conteúdos a serem apresentados sempre de uma mesma maneira, a presença de alunos em situação de desvantagem, em sala de aula, represente um problema, um desafio que desorganiza e atrapalha o funcionamento regular. Mas não na nossa escola.

Aqui, convidamos todos, inclusive aqueles que apresentam dificuldades, a lidar com elas de forma a fortalecer suas competências, criar novas estratégias para resolver os problemas que são apresentados, utilizá-los para construir novas aprendizagens, e, o mais importante: “aprender a aprender”, condição fundamental para a construção gradual de uma autonomia intelectual, almejada em todas as nossas ações.

Para os funcionários, os processos inclusivos do nosso projeto pedagógico são estímulos ao desenvolvimento profissional e humano, pois aqui aprendem constantemente sobre nossos alunos, e constroem um olhar positivo que migra do sentimento de empatia para a possibilidade de interação e contribuição com o aprendizado de todos.

Para os pais, há as dúvidas, muitas vezes legítimas, “É possível considerar ‘forte’, uma escola que se propõe a ensinar aqueles alunos que, supostamente ‘sabem menos’?”; ou inseguranças como: “Será que a atenção requerida por estes alunos não acaba por interferir de forma negativa no andamento das aulas, uma vez que o professor deve estar sempre preocupado com as dificuldades que eles apresentam?”. Cabe a nós evidenciar os ganhos que todos têm numa comunidade como a nossa.

O encontro diário com as singularidades de cada um, que fazemos questão de promover, representa, para nós, uma condição para oferecer aos estudantes um processo de escolaridade completo, que não se limite à aprendizagem de conceitos e procedimentos, mas os oriente também na construção de um olhar questionador e desconfiado para a sociedade na qual estão inseridos, em que a busca pela formação individual e a competição são cada vez mais valorizadas, em detrimento do cultivo de valores coletivos e comprometidos com a ética e a cidadania.

Uma escola que vê na inclusão uma força educacional saberá oferecer as garantias de que, ao conviver com todos, mas também com pessoas com deficiência, nossos alunos aprenderão mais, mas muito mais mesmo, do que aqueles que não têm esta oportunidade.

Aprenderão a reconhecer os direitos daqueles que não são exatamente como eles, aprenderão a articular diferentes pontos de vista, e ter de adaptar seus discursos, explicações e convicções, aprenderão a ser menos centrados em si mesmos e olhar para o coletivo, aprenderão a olhar a cidade em que vivem criticamente, buscando nela os sinais da inclusão social, aprenderão que as leis devem ser feitas para todos e, quem sabe, terão maiores chances de construir um país mais justo, mais inclusivo, com lugar para todos os cidadãos.

Esse compromisso, firmado com os alunos e suas famílias no momento em que se juntam a nós, e reforçado nas propostas e nas intervenções do dia a dia, é parte indissociável de um conjunto de ideias, características, ações e valores que atribuem à escola um caráter verdadeiramente forte.