Ação poética como ato político - a força da arte na escola

Por Marisa Szpigel
Professora e Orientadora de Arte do Fundamental 2
Assessora de Arte da Educação Infantil

A escola é o lugar do coletivo por excelência, seus espaços precisam ser considerados campos para o exercício da experimentação e da liberdade de expressão. Entendemos as ações poéticas como um agir político, e que nossos estudantes precisam se sentir potentes para agir no mundo. Tensionar os espaços da escola com proposições poética provoca as pessoas para uma reflexão acerca das ações cotidianas mecanizadas, automatizadas. Abre-se a possibilidade de estabelecer relações mais subjetivas, conectadas com sensações e sentidos pouco acionados no cotidiano.

Nos último anos, em sintonia com os últimos acontecimentos da arte, a proposta curricular de Arte da Escola da Vila busca proposições em que o fazer e o pensar se articulem o tempo todo, sem opor teoria e prática, nem entendimento e sensibilidade, por considerarmos que as duas dimensões são inseparáveis no campo da arte.

Para concretizar essa concepção, buscamos deslocar o valor da arte do objeto para a relação que se estabelece com ele, e, ao fazer esse deslocamento, emerge a ideia de ação e processo. Isso significa que, mesmo quando estamos diante da produção artística, e isto vale para os trabalhos de arte de qualquer procedência (adultos e crianças), o inacabamento é um conceito que buscamos colocar em evidência. Assim, quando colocamos trabalhos em exposição ou fazemos apresentações, queremos tornar pública uma etapa do processo de aprendizagem dos estudantes, para estabelecer conexões profundas entre a produção e a reflexão sobre ela.

Isso porque queremos manter acesa a chama do fazer e da fruição, sem provocar hiatos entre produção e apreciação. E para que isso ocorra fluentemente, é preciso dedicação e cultivo. Se, por um lado, as produções em arte realizadas por nossos estudantes deixam ver a ação, revelam aos expectadores que para cada proposta há um fazer e pensar singulares que se tornam visíveis por diferentes produções, como um convite à imaginação de quem as observa e interpreta; por outro, também coloca como alternativa a possibilidade de participação ativa do expectador, para que experimente processos de criação. Em ambos os casos, queremos dar visibilidade ao que nos é fundamental: possibilitar mergulhos na complexidade de cada uma das linguagens da arte, seja ela visual, corporal e musical, seja também na linguagem verbal, quando nos utilizamos dela para elaboração de sentido ao que se produz em arte.

Para exemplificar como isso acontece aqui na escola, cito alguns projetos que ocorrem já há algum tempo nos diferentes segmentos da Educação Infantil e do Fundamental 2.

O Parque das esculturas, projeto realizado junto aos grupos da Educação Infantil, tem sua origem na observação que os professores fazem das crianças durante suas brincadeiras e explorações no parque. Esse projeto enfatiza a importância do brincar e os entrelaces com a arte se dá quando os professores propõem situações que dialoguem com as ações das crianças para que aprofundem suas investigações em relação à materialidade e às construções que transformam o espaço do parque e reinventam as coisas do mundo. O caráter coletivo desse projeto está presente em todas as suas etapas, desde as construções que criam ao modo de relacionar-se com elas. Funcionam como intervenções no espaço que modificam o modo de estar dos corpos. Os pais são convidados a visitar o parque, e são convidados a acionar o corpo ou participar de oficinas para que participem também do processo. A efemeridade é o conceito que rege esse projeto, portanto o tempo de duração da exposição, é o tempo de duração das construções e da brincadeira que elas provocam.

O projeto Intervenções no espaço da escola, desenvolvido no 9º ano, conta com a total autonomia dos estudantes que determinam entre si os interesses que darão as diretrizes de seu trabalho numa vastíssima gama de possibilidades, desde a escolha de um local e o público com o qual seu trabalho dialogará até a realização de operações que serão orientadas pelos professores. No que toca aos conteúdos específicos da disciplina, a autonomia se sente na determinação do caráter de cada intervenção, no modo como uma referência se deixará perceber como influência na realização do trabalho, na escolha dos materiais e seus procedimentos de manipulação que deverão ser levados a cabo com rigor para que cada uma das intervenções efetivamente aconteçam.

A diversidade obtida no conjunto dos resultados é imensa. Alguns grupos optam por intervenções que discutem de modo incisivo questões práticas do cotidiano na escola, assumindo forte caráter político; outros procuram uma via que leve à introspecção, outros acentuam o humor, outros, ainda, o puro lirismo.

O processo envolve a pesquisa de artista que realizaram ou realizam trabalhos de intervenção em grandes áreas e a elaboração minuciosa de projetos desde a elaboração de conceitos, a medição do local da intervenção, a definição dos materiais e suas quantidade, com antecipação do processo de montagem e desmontagem. Os projetos desenvolvidos pelos estudantes é tão minucioso e potente que abrimos a possibilidade de serem reeditados este ano em um edital lançado no Ensino Médio.

Acreditamos, assim, que a força da formação em arte se faz presente quando se faz possível ser criador no fazer e no apreciar, que ambas as ações estão impregnadas de reflexão e precisam caminhar juntas para a construção da sensibilidade em arte.