Avaliação, a alma do negócio?

25_06_2014

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Por Lilian Ceile Marciano

A avaliação está no centro dos processos educativos, indissociável do ensino desde quando a escolaridade se tornou obrigatória. A forma como uma escola avalia, o que ela avalia e como interpreta e comunica essa avaliação também comunica muito sobre a própria escola.

O que responderíamos à pergunta que intitula este post? Vejamos um exemplo de uma escola que avalia apenas por provas consideradas, por alunos e professores daquele projeto, como bastante difíceis. A grande maioria dos alunos tem baixo ou médio desempenho, são poucos aqueles que atingem a excelência. Qual a representação que usualmente se tem dessa escola? É muito comum que seja avaliada como uma escola-forte, uma escola exigente. E, por essa ótica, o contrário seria válido: uma escola em que muitos alunos são bem sucedidos seria considerada uma escola fácil, portanto, fraca. Assim, responderíamos positivamente a pergunta inicial: sim, a avaliação é a alma do negócio, estigmatiza a ignorância de alguns, celebra a excelência de poucos, comunica socialmente a imagem de uma boa escola e também um excelente “negócio”.

Então, uma escola forte não avalia as aprendizagens? Tampouco propõe provas rigorosas? Sabemos que avaliar, em algum momento, também é criar hierarquias de excelência, em função das quais se decidem as progressões entre as séries e as certificações ao final dos ciclos da escolaridade. Entretanto, em uma escola que se dedica à aprendizagem de seus alunos, a avaliação tem função muito mais ampla; ela está a serviço da promoção de ajustes durante o processo de ensino e aprendizagem.

E qual seria, então, a essência da avaliação na Escola da Vila?

Avaliamos para ensinar melhor.

Avaliamos para tomar decisões mais acertadas sobre o que e como ensinar. A interpretação sobre o que sabem e o que não sabem os alunos, as diferentes formas como resolvem os problemas nas diversas áreas do conhecimento são ferramentas de trabalho para o professor. É a partir da análise realizada sobre a produção dos alunos que se planejam as aulas. Estas serão tão ajustadas à demanda do grupo quanto mais específicas forem as informações obtidas sobre os saberes (e não apenas os não saberes) dos alunos. Essas informações são obtidas por meio de uma diversidade de instrumentos, uma prova, atividades realizadas em aula, um texto, o olhar atento do professor, em trabalhos realizados individualmente ou em pequenos grupos, entre tantas outras possibilidades. A análise dos desempenhos contribui para que se possam fazer ajustes no trabalho a ser realizado com cada um dos grupos; em muitas ocasiões, dão origem à proposição de trabalhos diversificados, e para um olhar criterioso para o currículo escolar. Para nós, é altamente relevante que a avaliação esteja a serviço das aprendizagens de nossos alunos. A análise da produção dos alunos é aspecto central em nosso trabalho e, por essa razão, é tema norteador para o Simpósio Interno[1] deste ano.

Sendo assim, nós também respondemos afirmativamente a questão inicial no título deste post. Consideramos a avaliação “a alma e o segredo do negócio”, ela está no centro dos processos de ensino e de aprendizagem e nela também está a nossa força.


[1] Todos os anos, a Escola da Vila organiza um Simpósio Interno, em que toda a equipe pedagógica participa apresentando trabalhos investigativos relacionados à sua prática. Conheça algumas dessas produções na revista Conversa de professor