Racionais MC’s

por Lucas Meirelles

 

Temos mais um homenageado do 13º Festival de Poesia – Pandemia/Pandemônio/Poesia. Na verdade, um grupo de homenageados!

Metade da Zona Sul, metade da Zona Norte, Racionais MC’s é um grupo de rap de São Paulo, desde 1988 em atividade. Formado por Mano Brown, Ice Blue, Edi Rock e KL Jay, o quarteto é uma das grandes influências no rap brasileiro e na música brasileira em geral.

Suas letras denunciam o racismo e a miséria na periferia de São Paulo, marcada pela violência e pelo crime. Eles têm, desde o início, a preocupação de denunciar o racismo e o sistema capitalista opressor que patrocinam a miséria.

Nesses trinta e poucos anos, já gravaram nove discos, entre EPs, álbuns de estúdio e álbuns ao vivo. Dentre os muitos acontecimentos e curiosidades na vida deles, podemos contar: em 1991, fizeram o show de abertura para o grupo de hip-hop Public Enemy, no ginásio do Ibirapuera, após passarem pela segurança do grupo aqui no Brasil; em 1994, durante um show do festival Rap no Vale (no Vale do Anhangabaú) foram presos acusados de incitação à violência; se inspiraram no disco Racional do Tim Maia para dar nome ao grupo.

Desde 2018 é leitura (e ouvida) obrigatória para o vestibular da UNICAMP, o álbum “Sobrevivendo no inferno” (1997) e suas letras. Esse disco foi lançado em formato de livro também:

RACIONAIS MC’S (CONJUNTO MUSICAL). Sobrevivendo no inferno. São Paulo: Companhia das Letras, 2019. 143 p. ISBN 9788535931730

Gilberto Gil

por Lucas Meirelles

 

Bom dia, boa tarde, boa noite!

Vamos iniciar uma série de posts com os perfis dos homenageados e homenageadas do 13º Festival de Poesia – Pandemia/Pandemônio/Poesia! São eles/elas:

  • Gilberto Gil
  • Racionais MC’s
  • Carolina de Jesus
  • Ruth Guimarães

Lembrando que, além destes, também serão homenageados Clarice Lispector e João Cabral de Mello Neto, pelos seus centenários. Já temos um post anterior (sem saber que ela seria escolhida!) sobre uma das homenageadas que é a Carolina Maria de Jesus.

Hoje é dia de Gilberto Gil!

Nascido em Salvador (BA), em 1942, Gilberto Gil é um dos mais respeitados artistas brasileiros. Músico, poeta, ativista, Gil foi, inclusive, vereador em Salvador (1989-1993) e ministro da Cultura (2003-2008).

Desde criança teve a música muito próxima, seja em rádio ou nas procissões que via na cidade de Ituaçu, no interior da Bahia, onde morou durante sua infância. Teve no acordeon seu primeiro instrumento e, tempos depois, violão e voz tornaram-se sua marca.

Durante os anos 60 estudou na Universidade Federal da Bahia onde conheceu Caetano Veloso – que se tornou companheiro de muitas músicas -, participou de diversos festivais universitários e festivais de MPB no eixo Bahia-Rio-São Paulo. No final dessa década estava à frente do movimento da Tropicália e, por conta de sua prisão durante a Ditadura e posterior exílio na Inglaterra, recebeu mais influências internacionais em sua música. Pensando na antropofagia (uma das características do movimento tropicalista) fez muito sentido essa troca que Gilberto Gil fez com músicas, cultura e arte nesse período.

Em 1972, quando volta ao Brasil, continua com sua produção musical que dura até os dias de hoje, somando mais de 60 álbuns. Sua produção literária, traduzida nas poesias e letras de música, foi sendo compilada e estudada em diversos livros, teses e dissertações. Apresentamos aqui uma boa parte dessa produção:

 

A IMAGEM do som de Gilberto Gil: 80 composições de Gilberto Gil interpretadas por 80 artistas contemporâneos. Rio de Janeiro: F. Alves, 2000. (Projeto a imagem do som, v.3). ISBN 8526504290.

BOSCHERO, S.; VELTRONI, W. Gilberto Gil : l’immaginazione al potere. Roma: Arcana, 2004. ISBN 8879663585.

COSTA, Eliane. Jangada digital: Gilberto Gil e as políticas públicas para a cultura das redes. Rio de Janeiro: Azougue, 2011. ISBN 9788579200533.

CULTURA digital.br. Rio de Janeiro: Azougue, 2009. ISBN 9788579200083.

FONTELES, Bené. Gil luminoso. Brasília/ São Paulo: Editora UNB/ SESC, 1999. ISBN 852300551x.

FONTELES, Bené; CASAES, Priscila. Gil 60: todas as contas. Rio de Janeiro: Gege Edições, 2003. ISBN 8589316017.

GIL, Gilberto. Cultura pela palavra: coletânea de artigos, entrevistas e discursos dos ministros da Cultura 2003-2010. Rio de Janeiro: Versal, 2013. ISBN 9788589309479.

GIL, Gilberto. A linha e o linho. Rio de Janeiro: Escrita Fina, 2013. 24 p., il., 13 cm. ISBN 9788563877963.

GIL, Gilberto. Gilberto Gil. São Paulo: Abril Cultural, 1982. (Literatura comentada).

GIL, Gilberto. A paz. São Paulo: Evoluir Cultural, 2005. (Cante esta história). ISBN 8587420550.

GIL, Gilberto. Songbook Gilberto Gil: volume 1. Rio de Janeiro: Lumiar, 1992. ISBN 8585426039.

GIL, Gilberto. Songbook Gilberto Gil: volume 2. Rio de Janeiro: Lumiar, 1992. ISBN 8585426039.

GIL, Gilberto. Gilberto Gil, todas as letras: incluindo letras comentadas pelo compositor. São Paulo: Companhia das Letras, 2003. ISBN 853590445x.

GIL, Gilberto; OLIVEIRA, Ana de. Disposições amoráveis. São Paulo: Iyá Omin, 2015. ISBN 9788563909015.

GIL, Gilberto; ZAPPA, Regina. Gilberto bem perto. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2013. ISBN 9788520923320.

GILBERTO Gil. Rio de Janeiro: Azougue, 2007. 285p., 18cm. (Encontros). ISBN 9788588338906.

MARMELO, Manuel Jorge. Gil em verso. Vila Nova de Famalicão: Quasi, 2006. ISBN 9895521499.

MOLENDINI, Marco. Caetano Veloso e Gilberto Gil : fratelli Brasile. Viterbo: Nuovi equilibri, 2004. ISBN 8872267900.

RISÉRIO, Antonio (org.). Gilberto Gil Expresso 2222. São Paulo: Corrupio, 1982. (Baianada, v.3).

RISÉRIO, Antônio. O poético e o político e outros escritos. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1988. 263p., 21 cm.

SCARNECCHIA, Paolo. Musica popolare brasiliana Milão: Gammalibri, 1983.

SORROCE, Danilo. Domingo no parque: canção e poética de Gilberto Gil. Campinas: Editora Komedi, 2005. ISBN 857582094x.

VELOSO, Mabel. Gilberto Gil. 1. ed São Paulo: Moderna, 2002. (Mestres da música no Brasil). ISBN 8516032701.

VIVA cultura viva do povo brasileiro. São Paulo: Museu Afro Brasil, 2007.

 

 

 

História das histórias em quadrinhos

por Lucas Meirelles

Yellow Kid, personagem criado por Richard Felton Outcault

Olás! Vamos contar um pouco sobre a grande história das histórias em quadrinhos!

Os quadrinhos, gibis, HQs fazem parte da vida de muitas leitoras e leitores. Dentre as muitas características, temos duas mais marcantes: são formados por duas partes: imagem e linguagem escrita e são usados balões para as falas, pensamentos, etc. Desde os primeiros quadrinhos até hoje, a narrativa dos acontecimentos com imagens (seja nas pinturas rupestres das cavernas, seja em páginas do Instagram) faz parte do ser humano.

A história das histórias em quadrinhos começa em meados do século XIX com algumas publicações em livros, algumas em jornais. Vários quadrinistas (talvez ainda não com esse nome) de diversos países começaram a publicar as primeiras histórias sequenciais em quadrinhos. Nota-se que histórias ilustradas, ilustrações com balões – principalmente em livros infantis – já eram comuns na época mas a palavra “sequenciais” revela esse marco fundador.

Revista em quadrinhos “Gibi”, lançada em 1939. Gibi, atualmente, é sinônimo de qualquer revista em quadrinhos no Brasil

As características dos assuntos dos primeiros quadrinhos eram bem diferentes entre si: havia quadrinhos com personagens mais infantis e histórias infantis; quadrinhos com temas políticos com histórias humorísticas; sátiras sobre o cotidiano, etc. Com o passar dos tempos, foram sendo absorvidos assuntos de outras mídias e os quadrinhos chamaram cada vez mais atenção no sentido da possibilidade de ser usado na comunicação.

A passagem dos jornais para revistas em quadrinhos foi gradual. Alguns personagens foram se destacando e ganhando revistas próprias e também do seu universo (por exemplo, surgiram primeiro as tiras dos personagens Cebolinha, Mônica, etc e depois se formou a Turma da Mônica). Os super-heróis e seus universos, aparecem nos anos 1930, nos quadrinhos, juntamente com a chamada “indústria dos quadrinhos”, onde nascem grandes editoras e quadrinistas e agências de distribuição (as comic strip syndication).

Há uma discussão iniciada nos anos 1960 sobre as graphic novels. São, por tradução, romances gráficos e são definidos como grandes histórias publicadas no formato de livro. Em uma comparação rasa com a literatura, as graphic novels seriam os grandes romances e as revistas em quadrinhos os livros de contos, novelas, crônicas. Porém há muita discordância e interpretações quanto ao uso do termo e essa segmentação dentro do universo das HQs.

Como exemplos de graphic novels, podemos elencar: Um contrato com Deus, de Will Eisner (que foi o primeiro quadrinhos que estampou a palavra graphi novel na capa); Persépolis, de Marjane Satrapi; Maus, de Art Spiegelman; Watchmen, de Alan Moore e Dave Gibbons; As aventuras de Tintim, de Hergé; Retalhos, de Craig Thompson; Sandman, de Neil Gaiman; Corto Maltese, de Hugo Pratt; etc.

Como curiosidade, vocês sabem como se chamas as histórias em quadrinhos em outros lugares do mundo? Na França, é conhecido como bande dessinée; parecido com Portugal que é conhecido como banda desenhada ou história aos quadradinhos; em inglês é comics; em italiano, fumetti (tradução de “fumacinhas”, os balõezinhos que saem da boca das personagens); no Japão, são os mangás; nos países que falam espanhol são chamados de historietas.

A personagem “Mafalda”, criada pelo argentino Quino

Leitura na quarentena

por equipe da biblioteca

 

Leitoras e leitores dessa quarentena! A leitura, assim como diversas outras atividades da nossa vida, foi bastante afetada por essa pandemia. São tantos estímulos, tantas dificuldades com distanciamento social e home office, tanto tédio que, por vezes, deixamos a leitura de livros um pouco de lado. Mas lemos sempre: quando assistimos um filme, quando conversamos com alguém ou quando olhamos pela janela o movimento da rua (ou a falta dele). A concentração para sentar e ler um livro (em papel ou eletrônico) tem-nos sido contada como uma grande dificuldade. Então nossa equipe resolveu contar como está sendo a rotina de leitura dentro da casa de cada um/uma:

 

Fernanda Perez:

Já há algum tempo tenho dividido minhas leituras entre os textos literários, minha paixão desde sempre, com textos de estudo, aqueles teóricos, e documentos históricos. Pode parecer chato ter que interromper aquela leitura de que gostamos por uma leitura dita obrigatória, como pode parecer o meu caso, para uma pesquisa. No entanto, fiz a feliz descoberta de que LER é a minha paixão desde sempre. Independe do gênero de texto. Depende muito mais do meu interesse e da curiosidade por determinado assunto ou acontecimento da vida. Ou seja, uma vez que decido fazer uma pesquisa, ao definir o tema dela, minha escolha estará vinculada a algum assunto pelo qual tive curiosidade, quis xeretar, conhecer melhor ou saber mais. Claro que às vezes eu cruzo com textos cujos pensamentos me desagradam por serem diversos dos meus, mas até esses “angus com caroço” são bem-vindos. Nesse sentido, ler textos de ficção ou de pesquisa atende um desejo meu … por conhecer. Conhecer outros mundos. Fantásticos ou reais. Atuais ou passados. Outros personagens, herois e heroínas da fantasia ou da história real. E até outros idiomas. O que eu quero dizer com isso? Quero dizer que o importante é ler: gibi, quadrinhos, literatura, biografias, enciclopédias, dicionários, manuais, fotobiografias, artigos científicos, revistas e até bula de remédio, enfim, ler…quando lemos vários sentidos e sentimentos são despertados. Acionamos mecanismos mentais cognitivos e fisiológicos que nos ajudam a compreender melhor sobre nós e o mundo em que estamos. Afinal, você já não ouviu dizer que as leituras contribuem para entendermos melhor o mundo? Então, Aproveita pra ler! Eu estou lendo Água Funda de Ruth Guimarães.

 

Fernando Santos:

Eu também fui vítima da ilusão de que a quarentena me permitiria tirar o atraso daquela lista de leitura que cresce mais depressa do que os cabelos de um confinado. Às vésperas do isolamento, minha meta era modestíssima: um livro de contos do H. P. Lovecraft que eu queria avaliar (O horror de Dunwich) e um estudo etnográfico do meu interesse sobre os nativos de um arquipélago na costa da Nova Guiné (Os argonautas do Pacífico Ocidental, de Bronislaw Malinowski). Ambos permanecem próximos à minha cabeceira e ainda inéditos para mim. 

Então, no meio do caminho tinha uma pandemia, e com ela a leitura de um turbilhão de artigos, notícias, relatórios, protocolos, e-mails, mensagens, comunicados, leis, pareceres, normas, questionários, tudo relacionado ao SarsCov-2 e à Covid-19, nos idiomas mais variados que se possa imaginar, e ainda tendo de se esquivar do fenômeno de fake news, do lobby político, do lobby econômico e de outros promotores do anticientificismo devotos do terraplanismo. 

Mas houve também a necessidade por ofício de reler vários clássicos para o trabalho com os(as) alunos(as): Morte e vida severina, de João Cabral de Melo Neto; Noite na Taverna, de Álvares de Azevedo; Cem anos de solidão, de Gabriel García Márquez (minha leitura favorita da quarentena, até o momento); a poesia do Drummond; as crônicas contemporâneas da Eliane Brum; ensaios e artigos literários, históricos, filosóficos, científicos, artísticos, sociais, políticos, econômicos e tudo mais que a sede por informação que uma comunidade escolar pode e deve ter. 

Assim como muitas pessoas, adquiri novos hobbies durante esta permanência doméstica. Desenvolvi um interesse acentuado pelo cultivo de plantas e a criação de peixes ornamentais que demandou cavar espaço para a leitura de obras de aquariofilia e botânica. Estou sempre consultando algum livro do prof. Harri Lorenzi, sendo o último que li de capa a contracapa recentemente foi o seu Cactos e outras suculentas para decoração. 

Enfim, ler é o que eu mais fiz e faço, seja em quarentena ou não, por ofício e desejo próprio. O importante é sempre buscar o prazer de uma novidade que te acrescenta uma nova camada de compreensão do mundo ou que te impacta simplesmente pela originalidade estética que somente a leitura de um belo texto é capaz de proporcionar. Essa busca, tal como aquela lista de leitura, nunca tem fim.

 

Lucas Meirelles:

Bom, no começo da quarentena separei os grandes livros que quero ler e estão separados há um bom tempo: “Grande Sertão: Veredas”, “Moby Dick”, “Graça infinita”, etc e falei: “agora vai!”. E não foi. Ansiedades, trabalho, medo do coronavírus, mudanças foram me tomando e a literatura não me dava mais vontade ou prazer. Parei um pouco de pensar sobre e dei um tempo nas leituras. Tempos depois, peguei um livro de não-ficção, sobre o conflito no Oriente Médio, Curdistão, Rojava y otras milongas más (que já estava me aguardando a leitura há um tempo) e, apesar de bem denso, fluiu bem a leitura. Comecei depois a ler ficção científica, mais precisamente alguns livros da Ursula K. Le Guin (“A mão esquerda da escuridão”, “Os despossuídos” e “A curva do sonho”). Foi um retorno à infância/adolescência quando lia bastante esse gênero e gostei bastante dessa volta. Nesse meio tempo foi acontecendo o VilaLê (clube de leitura do F2 da escola). Com encontros online agora nós lemos um livro inteiro já: “Anne de Green Gables”, de Lucy Maud Montgomery. E estamos lendo nesse momento “Os três mosqueteiros”, de Alexandre Dumas, um grande romance de capa e espada com a história da França como pano de fundo. Acabou que vou ler pelo menos um romance bem grande na quarentena! 🙂

 

Paula Lisboa:

Sempre fico com a sensação que eu poderia e deveria ler mais, e nesse período de quarentena não está sendo diferente. Achei que eu teria mais tempo pra pegar um livro e me entregar pra leitura sem hora pra parar. Na prática não foi bem assim, pois durante o dia inteiro eu preciso me dividir em diversas funções: trabalho, casa, filhos… Ao longo desses meses comprei alguns livros pela internet, tanto pra mim (O Conto da Aia, Moqueca de Maridos) quanto para meus filhos (Anne de Green Gables, Os Três Mosqueteiros, Fluxo-Floema), e a gente tem um combinado de sempre conversar sobre o que estamos lendo. Às vezes também lemos em voz alta um trecho que gostamos ou sentamos pra ler um conto juntos. Isso é uma boa dica pra gente não esquecer de incluir a leitura na nossa rotina: combinar de ler junto e conversar sobre a leitura com as pessoas que moram com você. Um livro que nós três gostamos de ler juntos é o Mais de 100 Histórias Maravilhosas, da Marina Colasanti. Além dos livros de contos e romance em capítulos, nessa quarentena também li alguns livros de estudo e muitos artigos na internet. Afinal, nunca paramos de estudar, estamos sempre aprendendo!

 

E vocês? O quê estão lendo? Estão com dificuldades? Conta pra gente!

Ursula K. Le Guin

por Lucas Meirelles

 

Olás!

Antes de apresentar essa escritora e criar um perfil biobibliográfico, vou contar que ela – e seus livros – têm me acompanhado durante esse período de quarentena. Já li dois e estou no terceiro livro que falarei mais para frente sobre.
Então vamos à autora e sua obra!

Ursula Kroeber Le Guin, escritora estadunidense, nasceu em 1929 e faleceu em 2018. Filha de dois grandes antropólogos, Alfred L. Kroeber e Theodora Kracow-Kroeber, escreveu romances, contos, novelas, poesias e literatura infantojuvenil, além de ensaios e traduções. Durante sua vida recebeu diversas premiações literárias e algumas de suas produções foram adaptadas para o cinema e a TV. A crítica que ela recebia sobre sua literatura foi de encontro à educação e questionamentos que lhe foram dados desde o começo de sua infância.

Ela é muito conhecida por ser uma autora de ficção científica. Então em muitos de seus escritos temos distopias e utopias, mundos extraterrestres, vida artificial e os impactos de tecnologias e avanços científicos nas sociedades. Além dessa característica, outros temas e influências são notados e merecem vir à tona. Ela se declarava taoísta e anarquista, trazia em seus horizontes o feminismo, o pacifismo e diversos elementos da antropologia e outras ciências sociais.

O primeiro livro que li dela é o “A mão esquerda da escuridão“, que traz o protagonista Genly Ai, um terráqueo que vai ao planeta Gethen e tem a missão de convencer o povo desse planeta a participar do Ekumen, uma confederação informal dos planetas. A característica marcante desse planeta, e que deixa Genly Ai com muita dificuldade, é o fato das pessoas serem ambissexuais, ou seja, ninguém tem um sexo biológico fixo. Vê-se, então, como o sexo e o gênero influenciam nessa sociedade e como pode se dar o Ekumen.

Depois li “Os despossuídos“, que traz uma utopia anarquista. São dois planetas próximos, Urras e Anarres, que têm sistemas políticos bem distintos: um é capitalista, outro anarquista. Dentro desse pano de fundo, um cientista de Anarres viaja para Urras para fazer um intercâmbio tecnológico e, por conta dessa grande diferença entre os planetas, alguns acontecimentos dão certo, outros nem tanto.

E agora estou terminando “A curva do sonho“, que é a história de George Orr, um homem que, depois de sonhar, altera e transforma a realidade. Ele então começa a ter medo de dormir e sonhar. Em consultas com um psiquiatra e com algumas máquinas eles tentam entender esse fenômeno e, ao mesmo tempo, vão “consertando” com os sonhos a realidade do que está errado no mundo.

Muito mais informações sobre ela e seus livros (além de fotos e ilustrações dos mapas de alguns títulos!!) estão no site oficial dela: https://www.ursulakleguin.com/ (em inglês apenas)

Por enquanto ainda não temos nenhum livro dela de literatura adulta, mas temos em nossas bibliotecas um título infantojuvenil que é o:

LE GUIN, Ursula K. Gatos alados. São Paulo: Ática, 1996. 45, [1] p. ISBN 8508062087.

VilaLê Butantã

por Lucas Meirelles

 

Num misto de testemunho e chamada para novos leitores, escrevo esse texto sobre o livro que estamos lendo no VilaLê do Butantã e como estão acontecendo os encontros desse clube de leitura nos tempos da quarentena.

Antes da pandemia acontecer, tivemos um encontro presencial na unidade Butantã onde nos conhecemos, comemos pipoca e escolhemos o livro para iniciar a leitura.

Assim que o isolamento foi iniciado e a escola fechou por conta disso os encontros foram cancelados, voltando depois de algumas reuniões e acertos. Fizemos também uma nova escolha de livro, por questões de adequação do escolhido anteriormente, e finalmente iniciamos a leitura, no dia 17 de abril, de Anne de Green Gables (1908), de Lucy Maud Montgomery.

 

 

 

 

 

 

 

 

A leitura desse clássico tem sido uma grata surpresa. É uma história que se passa numa fazenda no Canadá. Um casal de irmãos resolve adotar um menino para ajudar na fazenda Green Gables, porém chega uma menina, Anne. A partir dessa confusão inicial, a história da menina vai tocando em temas como identidade, aceitação, preconceito o que, com ajuda da série “Anne with an E”, tornou o livro mais popular e atual.

Agora os encontros estão acontecendo semanalmente, via Google Meet, e mantivemos a pipoca. Cada integrante do clube além de ser responsável por ler os capítulos, também pode fazer (ou pedir aos responsáveis) sua pipoca, que antes era compartilhada por todos no dia do encontro.

Estamos quase terminando o livro e, em breve, escolheremos outros títulos para lermos juntos (tomara que já consigamos estar na escola quando isso acontecer, mas se não acontecer, tudo bem). Todas e todos do Fundamental 2 do Butantã e Morumbi podem participar. Vamos?

Breve História das Bibliotecas

por Lucas Meirelles

Biblioteca do Real Gabinete Português de Leitura (RJ)

Como parte das atividades realizadas pela equipe das bibliotecas após as férias entre maio e junho de 2020, a oficina “História das Bibliotecas” foi apresentada ao F2. Parte relato, parte apresentação, esse post apresenta também algumas outras curiosidades sobre a história das bibliotecas.

Biblioteca vem do grego, composto de biblion — “livro” e theca — “depósito”.

Mas antes de falar sobre como a humanidade tratou de organizar suas informações em bibliotecas, seus pergaminhos, papiros e livros, é importante falar antes sobre a mudança que os suportes da informação sofreram durante a história, sejam eles minerais, vegetais ou animais.

Os primeiros suportes de informação, possíveis de serem reunidos em uma biblioteca, foram os tabletes de argila nos quais, com o auxílio de pedras e cunhas, registravam-se as informações.

Imagem possível do acervo da Biblioteca de Alexandria

Depois apareceu o pergaminho (possivelmente com esse nome por conta da cidade de Pérgamo, onde também tinha uma grande biblioteca), feito de pele de animais como ovelhas, cabras e carneiros. Elas eram esticadas e tratadas quimicamente e fisicamente para ficarem lisas, limpas e claras o suficiente para escrever em cima. Bem próximo ao pergaminho, o papiro e tempos depois, o papel, apareceu para fechar os suportes vegetal, animal e, agora, o vegetal. O papiro vem da planta de mesmo nome e suas fibras eram trançadas para dar um aspecto liso e claro para a escrita poder ser feita.

As bibliotecas acompanharam a trajetória dos suportes e foram se organizando para as informações e a(s) história(s) serem preservadas. Na Antiguidade e até meados da Idade Média as bibliotecas eram principalmente lugares de registro e preservação do conhecimento. E é importante apontar que esse conhecimento era para poucos que sabiam ler e escrever e que, com isso, detinham o poder de decisão de como as informações circulavam.

Já na Grécia, começam as primeiras bibliotecas públicas e o espaço das bibliotecas também é utilizado em discussões, pesquisas, etc. E assim, esse espaço vai evoluindo, durante o período da Idade Média na Europa. Passam a figurar três tipos de biblioteca: monacais (mosteiros e conventos com seus monges copistas), particulares (principalmente de sacerdotes, reis e imperadores) e universitárias (início das primeiras universidades e maior possibilidade do conhecimento circular entre mais camadas das populações).

Da Idade Média aos dias de hoje as bibliotecas foram evoluindo, mudando práticas e pensando não só em registrar e preservar, mas em disseminar de forma organizada o conhecimento. E essa disseminação foi em grande parte ajudada pela revolução da imprensa, aperfeiçoada por Johannes Gutenberg e a invenção da prensa móvel, que facilitaram aos códices e ao livro ser mais difundido e popularizado.

Biblioteca da Universidade de Oxford

Para finalizar e pensando na história dos suportes, as bibliotecas digitais são uma volta às bibliotecas minerais, já que muitos componentes dos servidores nos quais as bibliotecas estão locadas, fazem parte de famílias dos minerais.

Então, fica o convite para conhecerem a World Digital Library, biblioteca criada em acordos entre Library of Congress, UNESCO e diversas bibliotecas particulares e nacionais do mundo todo, que reúne manuscritos, fotos, mapas e diversos outros documentos desde 8.000 a.C.!

Graciliano Ramos

por Lucas Meirelles

Graciliano com duas netas

 

Chegou a vez do Graciliano dar as graças e aparecer por aqui!

O Velho Graça, apelido de Graciliano Ramos de Oliveira, foi um grande escritor do Modernismo, do Ciclo das Secas, dos retratos do Nordeste, das memórias do Brasil.

Nascido em Quebrangulo, na Zona da Mata de Alagoas, no ano de 1892, foi o primeiro de 16 irmãos. Sua infância se passou em diversas cidades entre Pernambuco e Alagoas. Antes de terminar o segundo grau (hoje conhecido por Ensino Médio) em Maceió, escrevia prosas e poesias para vários jornais e revistas da época (O Malho, Jornal de Alagoas, Correio de Maceió) sob vários pseudônimos, entre eles Feliciano de Olivença, Soares de Almeida Cunha e Soeiro Lobato.

Assim que terminou, mudou-se para o Rio de Janeiro onde trabalhou como revisor em alguns jornais. Porém, no ano seguinte, em 1915, volta rapidamente para Palmeira dos Índios (AL), onde sua família morava, por conta da morte de três irmãos e um sobrinho durante a epidemia de peste bubônica. Durante esse tempo em Alagoas, se casou, teve filhos, trabalhou em uma loja de tecidos e aos poucos foi voltando a escrever para os jornais. Inclusive Caetés (1933), seu primeiro romance, foi iniciado em 1928, durante sua morada em Palmeira dos Índios. Um ano antes, foi eleito prefeito da cidade, ficando apenas por dois anos no cargo, tempo suficiente para fazer dois relatórios ao Governador do Estado de Alagoas que chamaram a atenção do poeta e editor Augusto Frederico Schmidt, que encorajou Graciliano a escrever mais.

Até 1936, vai morar em Maceió, trabalha na Imprensa Oficial, na Secretaria Estadual de Educação de Alagoas, publica São Bernardo (1934) e Angústia (1936) e, em março desse ano, é preso pelo regime de Getúlio Vargas, sendo levado para o Rio de Janeiro e ficando onze meses presos sem ser acusado de nada e sendo liberado sem julgamento.

Em 1938, lança seu quarto romance, Vidas Secas, tratado como uma de suas maiores obras. Esse livro e São Bernardo foram posteriormente adaptados para o cinema em grandes produções brasileiras, a primeira por Nelson Pereira dos Santos e a segunda por Leon Hirszman.

No ano seguinte é nomeado Inspetor Federal de Ensino Secundário do Rio de Janeiro e continua escrevendo livros infantis, outros romances, livros de contos e crônicas e traduz alguns livros. Um outro fato importante de sua vida foi o convite do secretário geral do Partido Comunista Brasileiro, Luís Carlos Prestes a se filiar ao PCB. Esse fato possibilitou ou Velho Graça uma viagem, em 1952, à antiga União Soviética, Tchecoeslováquia, França e Portugal, o que, postumamente, virou um livro, chamado Viagem (1954).

Porém, ao voltar dessa viagem, ele já estava bem doente com problemas respiratórios. Em 1953, após algumas cirurgias e internações, falece no Rio de Janeiro. Seus filhos, filhas, netos e netas mantém seu legado com livros póstumos. Seu arquivo e biblioteca, encontram-se atualmente no IEB (Instituto de Estudos Brasileiros), na USP.

Aqui estão os livros dele (e alguns sobre sua vida e sua literatura) que temos nas nossas unidades:

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

RAMOS, Graciliano. Alexandre e outros heróis. 22. ed. Rio de Janeiro: Record, 1982. 198 p. ISBN 8501005207.

RAMOS, Graciliano. Angústia. 25. ed. São Paulo: Record, 1982. 247 p. (Obras de Graciliano Ramos).

RAMOS, Graciliano. Angústia. 61. ed. Rio de Janeiro: Record, 2010. 335 p. ISBN 8501067121.

RAMOS, Graciliano. Angústia. São Paulo: Círculo do Livro, [s.d.]. 210 p. (Grandes da Literatura Brasileira; 10).

RAMOS, Graciliano. Angústia: (75 anos). 2. ed. Rio de Janeiro: Record, 2013. 384 p. ISBN 9788501095046.

AMADO, Jorge; MACHADO, Aníbal; QUEIROZ, Rachel de; RAMOS, Graciliano; REGO, José Lins do. Brandão, entre o mar e o amor: romance. Rio de Janeiro: Record, [1981]. 157 p.

RAMOS, Graciliano. Caetés. 18. ed. Rio [de Janeiro]: Record, 1982. 231 p. (Obras de Graciliano Ramos).

RAMOS, Graciliano. Caetés. Rio de Janeiro: Record, 2013. 320 p. ISBN 9788501009203.

RAMOS, Graciliano. O estribo de prata. Rio de Janeiro: Record, c1984. Não paginado (Abre-te Sésamo).

VIANA, Vivina de Assis. Graciliano Ramos. São Paulo: Abril, 1981. 111 p. (Literatura comentada).

MIRANDA, Wander Melo. Graciliano Ramos. São Paulo: Publifolha, 2004. 88 p. (Folha explica ; 62). ISBN 8574024805.

LEMOS, Taísa Vliese de. Graciliano Ramos: a infância pelas mãos do escritor : um ensaio sobre a formação da subjetividade na psicologia sócio-histórica. São Paulo: Musa, 2002. Juiz de Fora: Ed. UFJF, 162 p. ISBN 8585252693

RAMOS, Graciliano. Infância. Rio de Janeiro: MEDIAfashion, 2008. 221 p. (Folha Grandes Escritores Brasileiros ; 16) ISBN 9788599896419

DANTAS, Audálio. A infância de Graciliano Ramos. São Paulo: Callis, 2005. 31 p. ISBN 8598750131.

RAMOS, Graciliano. Insônia. 18. ed. São Paulo: Record, 1982. 175 p. (Obras de Graciliano Ramos).

RAMOS, Graciliano. Linhas tortas: obra póstuma. 10. ed. Rio de Janeiro: São Paulo: Record, 1983. 306 p. (Obras de Graciliano Ramos).

RAMOS, Graciliano. Memórias do cárcere. 15. ed. [Rio de Janeiro]: Record, 1982. 2 v., (378 + 319) p.

RAMOS, Graciliano. Memórias do cárcere. 49. ed. Rio de Janeiro: Record, 2015. 728 p. ISBN 9788501073785.

RAMOS, Graciliano. Memórias do cárcere. São Paulo: Círculo do Livro, [s.d.]. 2 v. (558p.)

RAMOS, Graciliano. São Bernardo. 39. ed. Rio [de Janeiro]: Record, [1983]. 213 p. (Obras de Graciliano Ramos).

RAMOS, Graciliano. São Bernardo. 72. ed. Rio de Janeiro: Record, 2001. 228 p. (Viagem Nestlé pela Literatura). ISBN 8501009059.

RAMOS, Graciliano. A terra dos meninos pelados. 41. ed. Rio de Janeiro: Record, 2011. 79 p. ISBN 9788501054548.

RAMOS, Graciliano. Viagem: Tcheco-Eslováquia-URSS. 12. ed. [Rio de Janeiro]: Record, 1983. 193 p.

RAMOS, Graciliano. Vidas secas. 140. ed. Rio de Janeiro: Record, 2019. 174 p. ISBN 9788501114785.

RAMOS, Graciliano. Vidas secas. 94. ed. Rio de Janeiro: Record, 2004. 175 p. ISBN 8501067342

RAMOS, Graciliano. Vidas secas. Ed. comemorativa 80 anos. Rio de Janeiro: Record, 2018. 320 p. ISBN 9788501114778.

BRANCO, Arnaldo. Vidas secas. Rio de Janeiro: Galera Record, 2015. 97, [1] p. ISBN 9788501104618.

RAMOS, Graciliano. Vidas secas: 70 anos. Ed. especial comemorativa ilustrada. Rio de Janeiro: Record, 2008. 203 p. ISBN 9788501085290.

RAMOS, Graciliano. Viventes das Alagoas: quadros e costumes do Nordeste. 12. ed. Rio [de Janeiro]: Record, 1983. 197 p. (Obras de Graciliano Ramos).

 

Chinua Achebe

por Lucas Meirelles

Chinua Achebe, nascido com o nome de Albert Chinualumogu Achebe, resolveu adotar somente o nome africano como forma de se libertar da dominação colonial inglesa em seu país de origem: Nigéria.

E é sobre esse romancista, professor e poeta que vamos falar sobre agora!

Ele nasceu na cidade de Ogidi, em 1930, ou seja, trinta anos antes da Nigéria se tornar independente do Reino Unido. Durante sua infância teve bastante contato com a cultura europeia, porém ao passar dos anos foi percebendo que sua cultura ancestral carregava mais valor.

Sua obra de maior sucesso é O mundo se despedaça (Things fall apart), lançado em 1958. Ele faz parte de uma trilogia com outros dois romances: No longer at ease (1960) e Arrow of God (1964). Nesse primeiro romance, temos a história de Okonkwo, guerreiro da etnia ibo, no sudeste da Nigéria, e sua luta contras os missionários britânicos que trazem para sua tribo o cristianismo, uma nova forma de governo e a força da polícia.

Em sua literatura aparece bastante sua vivência, seja como escritor ou mediador de conflitos, e também a história da Nigéria, com impressões em primeira pessoa dos acontecimentos. Essa literatura foi construída não só em ficção, mas em poesia, literatura infantojuvenil e ensaios.

Há um entrevista de Chinua para Bill Moyers, em 1988, disponível no YouTube. A transcrição da entrevista também está disponível (em português de Portugal). Nessa entrevista ele fala, entre outros assuntos, sobre os desafios de forjar a identidade cultural na África pós-colonial.

Chinua Achebe nos deixou em 2013, aos 82 anos.

Eis os livros do autor disponíveis em nossas bibliotecas:


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

ACHEBE, Chinua. Arrow of God. New York: Penguin, [2016]. 230 p. ISBN 9780385014809.

ACHEBE, Chinua; IROAGANACHI, John. As garras do leopardo. São Paulo: Companhia das Letrinhas, 2013. 38 p. ISBN 9788574065922.

ACHEBE, Chinua. O mundo se despedaça. São Paulo: Companhia das Letras, 2009. 236 p. ISBN 9788535915501.

ACHEBE, Chinua. No longer at ease. New York: Penguin, [2017]. 194 p. ISBN 9780385474559.

ACHEBE, Chinua. Things fall apart. New York: Penguin, 2017. 212 p. ISBN 9780385474542.

José J. Veiga

O realismo fantástico, ou realismo mágico é um estilo literário que brinca com a realidade cotidiana junto com criaturas, situações e elementos fantásticos. No Brasil, um grande escritor desse estilo é o José J. Veiga.

Goiano de Corumbá de Goiás, José Jacinto Veiga nasceu em 1915 e morava em uma fazenda. Foi estudar no Rio de Janeiro e trabalhou como jornalista no Brasil e em Londres, na Inglaterra.

Estreou na literatura em 1959, com Os cavalinhos de Platiplanto, livro que reúne 12 contos com a atmosfera das memórias de sua infância e com narradores que envolvem o leitor com os sonhos do cotidiano.

Começou como um grande contista, mas escreveu novelas e ótimos romances também. A hora dos ruminantes, de 1966, é uma romance sobre uma pequena cidade que começa vendo a chegada de forasteiros que constroem alguns edifícios nas redondezas da região, passa por uma invasão de cachorros na cidade, alguns invadindo casas também, e por uma de bois. A alteração na rotina da aldeia é retratada com a desconfiança dos moradores e as especulações da causa dessas invasões.

Há, nas leituras de suas histórias, margem para muitas interpretações e muitas simbologias, inclusive sobre as questões sociais e políticas no país quando foram escritas.

Segue um trecho d’A hora dos ruminantes, quando da invasão dos bois:

“[…] Não se podia mais sair de casa, os bois atravancavam as portas e não davam passagem, não podiam; não tinham para onde se mexer. Quando se abria uma janela não se conseguia mais fechá-la, não havia força que empurrasse para trás aquela massa elástica de chifres, cabeças e pescoços que vinha preencher o espaço.”

Temos em nossas bibliotecas, além dos títulos destacados, outros dois: