Racionais MC’s

por Lucas Meirelles

 

Temos mais um homenageado do 13º Festival de Poesia – Pandemia/Pandemônio/Poesia. Na verdade, um grupo de homenageados!

Metade da Zona Sul, metade da Zona Norte, Racionais MC’s é um grupo de rap de São Paulo, desde 1988 em atividade. Formado por Mano Brown, Ice Blue, Edi Rock e KL Jay, o quarteto é uma das grandes influências no rap brasileiro e na música brasileira em geral.

Suas letras denunciam o racismo e a miséria na periferia de São Paulo, marcada pela violência e pelo crime. Eles têm, desde o início, a preocupação de denunciar o racismo e o sistema capitalista opressor que patrocinam a miséria.

Nesses trinta e poucos anos, já gravaram nove discos, entre EPs, álbuns de estúdio e álbuns ao vivo. Dentre os muitos acontecimentos e curiosidades na vida deles, podemos contar: em 1991, fizeram o show de abertura para o grupo de hip-hop Public Enemy, no ginásio do Ibirapuera, após passarem pela segurança do grupo aqui no Brasil; em 1994, durante um show do festival Rap no Vale (no Vale do Anhangabaú) foram presos acusados de incitação à violência; se inspiraram no disco Racional do Tim Maia para dar nome ao grupo.

Desde 2018 é leitura (e ouvida) obrigatória para o vestibular da UNICAMP, o álbum “Sobrevivendo no inferno” (1997) e suas letras. Esse disco foi lançado em formato de livro também:

RACIONAIS MC’S (CONJUNTO MUSICAL). Sobrevivendo no inferno. São Paulo: Companhia das Letras, 2019. 143 p. ISBN 9788535931730

Gilberto Gil

por Lucas Meirelles

 

Bom dia, boa tarde, boa noite!

Vamos iniciar uma série de posts com os perfis dos homenageados e homenageadas do 13º Festival de Poesia – Pandemia/Pandemônio/Poesia! São eles/elas:

  • Gilberto Gil
  • Racionais MC’s
  • Carolina de Jesus
  • Ruth Guimarães

Lembrando que, além destes, também serão homenageados Clarice Lispector e João Cabral de Mello Neto, pelos seus centenários. Já temos um post anterior (sem saber que ela seria escolhida!) sobre uma das homenageadas que é a Carolina Maria de Jesus.

Hoje é dia de Gilberto Gil!

Nascido em Salvador (BA), em 1942, Gilberto Gil é um dos mais respeitados artistas brasileiros. Músico, poeta, ativista, Gil foi, inclusive, vereador em Salvador (1989-1993) e ministro da Cultura (2003-2008).

Desde criança teve a música muito próxima, seja em rádio ou nas procissões que via na cidade de Ituaçu, no interior da Bahia, onde morou durante sua infância. Teve no acordeon seu primeiro instrumento e, tempos depois, violão e voz tornaram-se sua marca.

Durante os anos 60 estudou na Universidade Federal da Bahia onde conheceu Caetano Veloso – que se tornou companheiro de muitas músicas -, participou de diversos festivais universitários e festivais de MPB no eixo Bahia-Rio-São Paulo. No final dessa década estava à frente do movimento da Tropicália e, por conta de sua prisão durante a Ditadura e posterior exílio na Inglaterra, recebeu mais influências internacionais em sua música. Pensando na antropofagia (uma das características do movimento tropicalista) fez muito sentido essa troca que Gilberto Gil fez com músicas, cultura e arte nesse período.

Em 1972, quando volta ao Brasil, continua com sua produção musical que dura até os dias de hoje, somando mais de 60 álbuns. Sua produção literária, traduzida nas poesias e letras de música, foi sendo compilada e estudada em diversos livros, teses e dissertações. Apresentamos aqui uma boa parte dessa produção:

 

A IMAGEM do som de Gilberto Gil: 80 composições de Gilberto Gil interpretadas por 80 artistas contemporâneos. Rio de Janeiro: F. Alves, 2000. (Projeto a imagem do som, v.3). ISBN 8526504290.

BOSCHERO, S.; VELTRONI, W. Gilberto Gil : l’immaginazione al potere. Roma: Arcana, 2004. ISBN 8879663585.

COSTA, Eliane. Jangada digital: Gilberto Gil e as políticas públicas para a cultura das redes. Rio de Janeiro: Azougue, 2011. ISBN 9788579200533.

CULTURA digital.br. Rio de Janeiro: Azougue, 2009. ISBN 9788579200083.

FONTELES, Bené. Gil luminoso. Brasília/ São Paulo: Editora UNB/ SESC, 1999. ISBN 852300551x.

FONTELES, Bené; CASAES, Priscila. Gil 60: todas as contas. Rio de Janeiro: Gege Edições, 2003. ISBN 8589316017.

GIL, Gilberto. Cultura pela palavra: coletânea de artigos, entrevistas e discursos dos ministros da Cultura 2003-2010. Rio de Janeiro: Versal, 2013. ISBN 9788589309479.

GIL, Gilberto. A linha e o linho. Rio de Janeiro: Escrita Fina, 2013. 24 p., il., 13 cm. ISBN 9788563877963.

GIL, Gilberto. Gilberto Gil. São Paulo: Abril Cultural, 1982. (Literatura comentada).

GIL, Gilberto. A paz. São Paulo: Evoluir Cultural, 2005. (Cante esta história). ISBN 8587420550.

GIL, Gilberto. Songbook Gilberto Gil: volume 1. Rio de Janeiro: Lumiar, 1992. ISBN 8585426039.

GIL, Gilberto. Songbook Gilberto Gil: volume 2. Rio de Janeiro: Lumiar, 1992. ISBN 8585426039.

GIL, Gilberto. Gilberto Gil, todas as letras: incluindo letras comentadas pelo compositor. São Paulo: Companhia das Letras, 2003. ISBN 853590445x.

GIL, Gilberto; OLIVEIRA, Ana de. Disposições amoráveis. São Paulo: Iyá Omin, 2015. ISBN 9788563909015.

GIL, Gilberto; ZAPPA, Regina. Gilberto bem perto. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2013. ISBN 9788520923320.

GILBERTO Gil. Rio de Janeiro: Azougue, 2007. 285p., 18cm. (Encontros). ISBN 9788588338906.

MARMELO, Manuel Jorge. Gil em verso. Vila Nova de Famalicão: Quasi, 2006. ISBN 9895521499.

MOLENDINI, Marco. Caetano Veloso e Gilberto Gil : fratelli Brasile. Viterbo: Nuovi equilibri, 2004. ISBN 8872267900.

RISÉRIO, Antonio (org.). Gilberto Gil Expresso 2222. São Paulo: Corrupio, 1982. (Baianada, v.3).

RISÉRIO, Antônio. O poético e o político e outros escritos. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1988. 263p., 21 cm.

SCARNECCHIA, Paolo. Musica popolare brasiliana Milão: Gammalibri, 1983.

SORROCE, Danilo. Domingo no parque: canção e poética de Gilberto Gil. Campinas: Editora Komedi, 2005. ISBN 857582094x.

VELOSO, Mabel. Gilberto Gil. 1. ed São Paulo: Moderna, 2002. (Mestres da música no Brasil). ISBN 8516032701.

VIVA cultura viva do povo brasileiro. São Paulo: Museu Afro Brasil, 2007.

 

 

 

História das histórias em quadrinhos

por Lucas Meirelles

Yellow Kid, personagem criado por Richard Felton Outcault

Olás! Vamos contar um pouco sobre a grande história das histórias em quadrinhos!

Os quadrinhos, gibis, HQs fazem parte da vida de muitas leitoras e leitores. Dentre as muitas características, temos duas mais marcantes: são formados por duas partes: imagem e linguagem escrita e são usados balões para as falas, pensamentos, etc. Desde os primeiros quadrinhos até hoje, a narrativa dos acontecimentos com imagens (seja nas pinturas rupestres das cavernas, seja em páginas do Instagram) faz parte do ser humano.

A história das histórias em quadrinhos começa em meados do século XIX com algumas publicações em livros, algumas em jornais. Vários quadrinistas (talvez ainda não com esse nome) de diversos países começaram a publicar as primeiras histórias sequenciais em quadrinhos. Nota-se que histórias ilustradas, ilustrações com balões – principalmente em livros infantis – já eram comuns na época mas a palavra “sequenciais” revela esse marco fundador.

Revista em quadrinhos “Gibi”, lançada em 1939. Gibi, atualmente, é sinônimo de qualquer revista em quadrinhos no Brasil

As características dos assuntos dos primeiros quadrinhos eram bem diferentes entre si: havia quadrinhos com personagens mais infantis e histórias infantis; quadrinhos com temas políticos com histórias humorísticas; sátiras sobre o cotidiano, etc. Com o passar dos tempos, foram sendo absorvidos assuntos de outras mídias e os quadrinhos chamaram cada vez mais atenção no sentido da possibilidade de ser usado na comunicação.

A passagem dos jornais para revistas em quadrinhos foi gradual. Alguns personagens foram se destacando e ganhando revistas próprias e também do seu universo (por exemplo, surgiram primeiro as tiras dos personagens Cebolinha, Mônica, etc e depois se formou a Turma da Mônica). Os super-heróis e seus universos, aparecem nos anos 1930, nos quadrinhos, juntamente com a chamada “indústria dos quadrinhos”, onde nascem grandes editoras e quadrinistas e agências de distribuição (as comic strip syndication).

Há uma discussão iniciada nos anos 1960 sobre as graphic novels. São, por tradução, romances gráficos e são definidos como grandes histórias publicadas no formato de livro. Em uma comparação rasa com a literatura, as graphic novels seriam os grandes romances e as revistas em quadrinhos os livros de contos, novelas, crônicas. Porém há muita discordância e interpretações quanto ao uso do termo e essa segmentação dentro do universo das HQs.

Como exemplos de graphic novels, podemos elencar: Um contrato com Deus, de Will Eisner (que foi o primeiro quadrinhos que estampou a palavra graphi novel na capa); Persépolis, de Marjane Satrapi; Maus, de Art Spiegelman; Watchmen, de Alan Moore e Dave Gibbons; As aventuras de Tintim, de Hergé; Retalhos, de Craig Thompson; Sandman, de Neil Gaiman; Corto Maltese, de Hugo Pratt; etc.

Como curiosidade, vocês sabem como se chamas as histórias em quadrinhos em outros lugares do mundo? Na França, é conhecido como bande dessinée; parecido com Portugal que é conhecido como banda desenhada ou história aos quadradinhos; em inglês é comics; em italiano, fumetti (tradução de “fumacinhas”, os balõezinhos que saem da boca das personagens); no Japão, são os mangás; nos países que falam espanhol são chamados de historietas.

A personagem “Mafalda”, criada pelo argentino Quino

Sobre os contos de fadas

Por Paula Lisboa

Pensando em escrever sobre os contos de fadas, tentei imaginar como seria nosso mundo caso eles não existissem. Ou ainda, se a gente não tivesse tido a chance de conhecer esses contos, narrados há séculos entres homens, mulheres e crianças. Através da narração dessas histórias, o ser humano foi construindo sentido para as adversidades da vida, elaborando emoções difíceis de sentir, se entendendo como parte de um coletivo maior que a sua vida pessoal. 

Os conhecidos contos de fadas são uma parte dos chamados “contos populares”, aquelas histórias que têm origem de domínio público, ou seja, pertencem à humanidade. Não sabemos quem inventou ou quando, sabemos que existem e que são contadas há muitos séculos, passadas de geração em geração.

As narrativas que eles trazem constituem a grande matéria produzida pela humanidade ao longo dos tempos, como forma de encarar questões das quais não podemos fugir, como os desígnios recebidos já no nascimento, ou a pobreza com que se vem ao mundo, a busca de um amor, o desejo de correr o mundo livremente, a vontade de construir uma vida melhor, a necessidade de enfrentar obstáculos, a situação inevitável de quando se é prisioneiro de encantamentos ou de todo tipo de coisa que determina sua vida mesmo sem ter sido sua escolha… Enfim, todo enfrentamento aos vários desafios humanos constituem a matéria bruta que vai originar os contos populares e mais especificamente os contos de fadas.

Então esses contos foram sendo criados pelas pessoas, contados de boca em boca, em uma realidade muito diferente da que vivemos hoje em dia, em rodas, em grupos, crianças e adultos juntos, sem distinção de faixa etária. As crianças acompanhavam as narrações que a princípio eram feitas entre adultos, não tinha a ideia que muitas vezes temos hoje em dia, de que contar e ouvir história fosse para as crianças. As histórias existiam e existem para todos nós.

Essas histórias contadas oralmente começaram a ser registradas por alguns autores e autoras, que foram responsáveis por manter os contos conhecidos de nós até hoje. Por outro lado também foram responsáveis por dar uma forma fixa para as narrativas, que na oralidade seguem em constante modificação, ao passo que na escrita se fixam.

Esses contos constituem um arcabouço do imaginário coletivo, trazendo referências ao ser humano. Eles são uma espécie de herança que recebemos das pessoas que vieram antes de nós e que ajudaram a construir o mundo como o conhecemos hoje. Eles trazem um verdadeiro catálogo de destinos humanos, de forma que sempre podemos recorrer a eles como forma de encarar os desafios que a realidade nos impõe.

Muitos pesquisadores se debruçaram para estudar os contos de fadas em suas várias camadas. Tem a camada do olhar psicanalítico, do inconsciente coletivo, tem olhares mais sociológicos e culturais, olhares mitológicos… São tantas camadas que é inegável a riqueza de material que esses contos nos trazem.

Agora imaginem chegar à idade adulta sem conhecer Chapeuzinho Vermelho, Branca de Neve, Rapunzel e tantos outros contos. Pra começo de conversa, quantas outras histórias a gente não entenderia caso não conhecesse essas, que originaram muitas outras. Tanto pelas referências aos personagens, quanto pelas situações recorrentes que encontramos nos contos, esquemas narrativos que se repetem, lógicas ficcionais que podem ser encontradas em muitas outras produções. Existe toda uma produção de conteúdo simbólico narrativo que parte desses contos, dessas histórias. 

Conhecer mais a fundo os contos de fadas é como abrir um grande baú de herança da humanidade, ter acesso a um grande repertório para lidar com questões complexas, para se fortalecer internamente a ponto de encontrar soluções para os desafios da vida. Não vamos deixar esse grande baú de lado, afinal, seria tolice não aceitar tal herança, tão rica e cheia de tesouros!

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Leitura na quarentena

por equipe da biblioteca

 

Leitoras e leitores dessa quarentena! A leitura, assim como diversas outras atividades da nossa vida, foi bastante afetada por essa pandemia. São tantos estímulos, tantas dificuldades com distanciamento social e home office, tanto tédio que, por vezes, deixamos a leitura de livros um pouco de lado. Mas lemos sempre: quando assistimos um filme, quando conversamos com alguém ou quando olhamos pela janela o movimento da rua (ou a falta dele). A concentração para sentar e ler um livro (em papel ou eletrônico) tem-nos sido contada como uma grande dificuldade. Então nossa equipe resolveu contar como está sendo a rotina de leitura dentro da casa de cada um/uma:

 

Fernanda Perez:

Já há algum tempo tenho dividido minhas leituras entre os textos literários, minha paixão desde sempre, com textos de estudo, aqueles teóricos, e documentos históricos. Pode parecer chato ter que interromper aquela leitura de que gostamos por uma leitura dita obrigatória, como pode parecer o meu caso, para uma pesquisa. No entanto, fiz a feliz descoberta de que LER é a minha paixão desde sempre. Independe do gênero de texto. Depende muito mais do meu interesse e da curiosidade por determinado assunto ou acontecimento da vida. Ou seja, uma vez que decido fazer uma pesquisa, ao definir o tema dela, minha escolha estará vinculada a algum assunto pelo qual tive curiosidade, quis xeretar, conhecer melhor ou saber mais. Claro que às vezes eu cruzo com textos cujos pensamentos me desagradam por serem diversos dos meus, mas até esses “angus com caroço” são bem-vindos. Nesse sentido, ler textos de ficção ou de pesquisa atende um desejo meu … por conhecer. Conhecer outros mundos. Fantásticos ou reais. Atuais ou passados. Outros personagens, herois e heroínas da fantasia ou da história real. E até outros idiomas. O que eu quero dizer com isso? Quero dizer que o importante é ler: gibi, quadrinhos, literatura, biografias, enciclopédias, dicionários, manuais, fotobiografias, artigos científicos, revistas e até bula de remédio, enfim, ler…quando lemos vários sentidos e sentimentos são despertados. Acionamos mecanismos mentais cognitivos e fisiológicos que nos ajudam a compreender melhor sobre nós e o mundo em que estamos. Afinal, você já não ouviu dizer que as leituras contribuem para entendermos melhor o mundo? Então, Aproveita pra ler! Eu estou lendo Água Funda de Ruth Guimarães.

 

Fernando Santos:

Eu também fui vítima da ilusão de que a quarentena me permitiria tirar o atraso daquela lista de leitura que cresce mais depressa do que os cabelos de um confinado. Às vésperas do isolamento, minha meta era modestíssima: um livro de contos do H. P. Lovecraft que eu queria avaliar (O horror de Dunwich) e um estudo etnográfico do meu interesse sobre os nativos de um arquipélago na costa da Nova Guiné (Os argonautas do Pacífico Ocidental, de Bronislaw Malinowski). Ambos permanecem próximos à minha cabeceira e ainda inéditos para mim. 

Então, no meio do caminho tinha uma pandemia, e com ela a leitura de um turbilhão de artigos, notícias, relatórios, protocolos, e-mails, mensagens, comunicados, leis, pareceres, normas, questionários, tudo relacionado ao SarsCov-2 e à Covid-19, nos idiomas mais variados que se possa imaginar, e ainda tendo de se esquivar do fenômeno de fake news, do lobby político, do lobby econômico e de outros promotores do anticientificismo devotos do terraplanismo. 

Mas houve também a necessidade por ofício de reler vários clássicos para o trabalho com os(as) alunos(as): Morte e vida severina, de João Cabral de Melo Neto; Noite na Taverna, de Álvares de Azevedo; Cem anos de solidão, de Gabriel García Márquez (minha leitura favorita da quarentena, até o momento); a poesia do Drummond; as crônicas contemporâneas da Eliane Brum; ensaios e artigos literários, históricos, filosóficos, científicos, artísticos, sociais, políticos, econômicos e tudo mais que a sede por informação que uma comunidade escolar pode e deve ter. 

Assim como muitas pessoas, adquiri novos hobbies durante esta permanência doméstica. Desenvolvi um interesse acentuado pelo cultivo de plantas e a criação de peixes ornamentais que demandou cavar espaço para a leitura de obras de aquariofilia e botânica. Estou sempre consultando algum livro do prof. Harri Lorenzi, sendo o último que li de capa a contracapa recentemente foi o seu Cactos e outras suculentas para decoração. 

Enfim, ler é o que eu mais fiz e faço, seja em quarentena ou não, por ofício e desejo próprio. O importante é sempre buscar o prazer de uma novidade que te acrescenta uma nova camada de compreensão do mundo ou que te impacta simplesmente pela originalidade estética que somente a leitura de um belo texto é capaz de proporcionar. Essa busca, tal como aquela lista de leitura, nunca tem fim.

 

Lucas Meirelles:

Bom, no começo da quarentena separei os grandes livros que quero ler e estão separados há um bom tempo: “Grande Sertão: Veredas”, “Moby Dick”, “Graça infinita”, etc e falei: “agora vai!”. E não foi. Ansiedades, trabalho, medo do coronavírus, mudanças foram me tomando e a literatura não me dava mais vontade ou prazer. Parei um pouco de pensar sobre e dei um tempo nas leituras. Tempos depois, peguei um livro de não-ficção, sobre o conflito no Oriente Médio, Curdistão, Rojava y otras milongas más (que já estava me aguardando a leitura há um tempo) e, apesar de bem denso, fluiu bem a leitura. Comecei depois a ler ficção científica, mais precisamente alguns livros da Ursula K. Le Guin (“A mão esquerda da escuridão”, “Os despossuídos” e “A curva do sonho”). Foi um retorno à infância/adolescência quando lia bastante esse gênero e gostei bastante dessa volta. Nesse meio tempo foi acontecendo o VilaLê (clube de leitura do F2 da escola). Com encontros online agora nós lemos um livro inteiro já: “Anne de Green Gables”, de Lucy Maud Montgomery. E estamos lendo nesse momento “Os três mosqueteiros”, de Alexandre Dumas, um grande romance de capa e espada com a história da França como pano de fundo. Acabou que vou ler pelo menos um romance bem grande na quarentena! 🙂

 

Paula Lisboa:

Sempre fico com a sensação que eu poderia e deveria ler mais, e nesse período de quarentena não está sendo diferente. Achei que eu teria mais tempo pra pegar um livro e me entregar pra leitura sem hora pra parar. Na prática não foi bem assim, pois durante o dia inteiro eu preciso me dividir em diversas funções: trabalho, casa, filhos… Ao longo desses meses comprei alguns livros pela internet, tanto pra mim (O Conto da Aia, Moqueca de Maridos) quanto para meus filhos (Anne de Green Gables, Os Três Mosqueteiros, Fluxo-Floema), e a gente tem um combinado de sempre conversar sobre o que estamos lendo. Às vezes também lemos em voz alta um trecho que gostamos ou sentamos pra ler um conto juntos. Isso é uma boa dica pra gente não esquecer de incluir a leitura na nossa rotina: combinar de ler junto e conversar sobre a leitura com as pessoas que moram com você. Um livro que nós três gostamos de ler juntos é o Mais de 100 Histórias Maravilhosas, da Marina Colasanti. Além dos livros de contos e romance em capítulos, nessa quarentena também li alguns livros de estudo e muitos artigos na internet. Afinal, nunca paramos de estudar, estamos sempre aprendendo!

 

E vocês? O quê estão lendo? Estão com dificuldades? Conta pra gente!

Ursula K. Le Guin

por Lucas Meirelles

 

Olás!

Antes de apresentar essa escritora e criar um perfil biobibliográfico, vou contar que ela – e seus livros – têm me acompanhado durante esse período de quarentena. Já li dois e estou no terceiro livro que falarei mais para frente sobre.
Então vamos à autora e sua obra!

Ursula Kroeber Le Guin, escritora estadunidense, nasceu em 1929 e faleceu em 2018. Filha de dois grandes antropólogos, Alfred L. Kroeber e Theodora Kracow-Kroeber, escreveu romances, contos, novelas, poesias e literatura infantojuvenil, além de ensaios e traduções. Durante sua vida recebeu diversas premiações literárias e algumas de suas produções foram adaptadas para o cinema e a TV. A crítica que ela recebia sobre sua literatura foi de encontro à educação e questionamentos que lhe foram dados desde o começo de sua infância.

Ela é muito conhecida por ser uma autora de ficção científica. Então em muitos de seus escritos temos distopias e utopias, mundos extraterrestres, vida artificial e os impactos de tecnologias e avanços científicos nas sociedades. Além dessa característica, outros temas e influências são notados e merecem vir à tona. Ela se declarava taoísta e anarquista, trazia em seus horizontes o feminismo, o pacifismo e diversos elementos da antropologia e outras ciências sociais.

O primeiro livro que li dela é o “A mão esquerda da escuridão“, que traz o protagonista Genly Ai, um terráqueo que vai ao planeta Gethen e tem a missão de convencer o povo desse planeta a participar do Ekumen, uma confederação informal dos planetas. A característica marcante desse planeta, e que deixa Genly Ai com muita dificuldade, é o fato das pessoas serem ambissexuais, ou seja, ninguém tem um sexo biológico fixo. Vê-se, então, como o sexo e o gênero influenciam nessa sociedade e como pode se dar o Ekumen.

Depois li “Os despossuídos“, que traz uma utopia anarquista. São dois planetas próximos, Urras e Anarres, que têm sistemas políticos bem distintos: um é capitalista, outro anarquista. Dentro desse pano de fundo, um cientista de Anarres viaja para Urras para fazer um intercâmbio tecnológico e, por conta dessa grande diferença entre os planetas, alguns acontecimentos dão certo, outros nem tanto.

E agora estou terminando “A curva do sonho“, que é a história de George Orr, um homem que, depois de sonhar, altera e transforma a realidade. Ele então começa a ter medo de dormir e sonhar. Em consultas com um psiquiatra e com algumas máquinas eles tentam entender esse fenômeno e, ao mesmo tempo, vão “consertando” com os sonhos a realidade do que está errado no mundo.

Muito mais informações sobre ela e seus livros (além de fotos e ilustrações dos mapas de alguns títulos!!) estão no site oficial dela: https://www.ursulakleguin.com/ (em inglês apenas)

Por enquanto ainda não temos nenhum livro dela de literatura adulta, mas temos em nossas bibliotecas um título infantojuvenil que é o:

LE GUIN, Ursula K. Gatos alados. São Paulo: Ática, 1996. 45, [1] p. ISBN 8508062087.

Texto teatral: é texto ou é teatro?

Por Paula Lisboa

Livro é pra gente ler. Teatro é pra gente assistir. E um texto teatral, é o que?

Um texto teatral é aquele escrito para ser representado, e justamente por isso traz uma série de características específicas que permitem que a gente imagine a história sendo encenada quando lemos. O texto também precisa trazer indicações para atores e diretores transformarem o que está escrito em peça encenada.

Isso não significa que ele não seja feito também para ser lido. Aliás, a leitura de uma peça pode ser realmente muito leve e agradável, o texto é quase todo escrito em forma de diálogos entre os personagens, o que traz um ritmo cadente e de fácil apreciação. Outro aspecto interessante é que quando a gente lê a peça pode imaginar tudo o que o autor descreve da nossa maneira, ao passo que quando assistimos sua encenação já estamos diante de uma interpretação feita para o texto.

Além do enredo que a história conta, o texto teatral também traz a relação dos personagens, o tempo em que a história acontece e o espaço onde se passa a cena.

Geralmente é quase todo escrito em forma de diálogos entre os personagens e traz também algumas observações, que chamamos de rubrica. As rubricas são anotações no texto que indicam como a fala deve ser interpretada, ou o movimento que o personagem está fazendo, ou qualquer comentário sobre a maneira como está acontecendo a cena.

Então o texto teatral basicamente conta uma história através dos diálogos entre os personagens (ou através de um monólogo, quando é um só personagem na peça inteira), sem a presença do narrador que as histórias escritas trazem. Se existe um narrador, ele é colocado como um personagem que fala em cena. Geralmente a peça começa com a apresentação dos personagens e do que vai acontecer, depois surge um conflito, para então se encaminhar para o desenlace.

Existem peças de comédia, tragédia e tragicomédia. O teatro é uma arte muito antiga cuja origem remete aos rituais e celebrações da Grécia Antiga, que com o tempo foram ficando mais elaborados, com textos mais desenvolvidos para serem recitados, inicialmente por um coro. Aos poucos foram introduzidas falas de personagens individuais, assim como aumentando o número de personagens em cena. O autor de uma peça é chamado de dramaturgo, e ele pode ser somente o autor do texto, ou também pode ser o responsável por trazer o texto para a cena.

Eu particularmente gosto muito de ler textos teatrais pois eles me inspiram a criar vozes e posturas para os personagens que falam. Sinto que é uma leitura muito viva, que nos convida a trazer o que está no texto para a realidade!

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Por que aprender sobre os mitos gregos?

Por Paula Lisboa

Falar sobre mitologia grega pode soar como sendo algo distante de nós, desconhecido, de um outro tempo… Por incrível que pareça, as histórias trazidas nos mitos gregos fazem parte da nossa vida mesmo sem a gente saber. Existe uma série de referências da mitologia grega em muito do que conhecemos e falamos: filmes, livros, novelas, séries, jogos, expressões, palavras e até propagandas trazem elementos do imaginário criado pelos gregos. 

Vejamos por exemplo alguns filmes e livros conhecidos das crianças e jovens hoje: Hércules – o filme narra a história de um herói da mitologia grega; Percy Jackson – série de livros que virou filme, onde Percy é filho de Poseidon, um deus grego, e outros personagens também são filhos de deuses gregos; Fúria de Titãs – série de filmes que também traz vários deuses e heróis gregos; Mulher Maravilha – é uma amazona, mulheres guerreiras criadas pelos deuses gregos. 

Podemos lembrar de todos os planetas do sistema solar, que levam nomes de deuses gregos, assim como palavras em português que têm origem na mitologia grega: cronologia – vem do deus Cronos; eco – vem da ninfa Eco; atlas – do titã Atlas; hipnose – do deus do sono Hipnos; narcisimo – do herói Narciso; expressões como calcanhar de Aquiles – referência ao herói grego Aquiles; caixa de Pandora – se refere a uma história da mitologia.

Tudo isso tem origem na mitologia grega, e ao estudar os mitos gregos podemos conhecer algumas dessas histórias. Essa forte influência aparece porque os mitos gregos são a base da formação de toda a cultura da Europa, e como o Brasil foi um país de domínio europeu, temos muita influência dos mitos gregos em nossa cultura também.

Esse já seria um bom motivo pra gente querer conhecer os mitos gregos, e assim entender melhor de onde vem essas expressões, de onde surgiram essas histórias, poder perceber as referências e entender melhor algumas coisas que já conhecemos.  

Além disso, os mitos trazem histórias muito lindas, que antes de serem escritas eram contadas de boca, ao longo de muitas gerações. Estudar os deuses gregos e suas histórias marcantes ajuda a gente a enxergar as diferentes maneiras como as pessoas sentem e agem, pois eles trazem exemplos de personalidades muito marcantes, que podemos dizer que são modelos para as várias personalidades do ser humano. É muito impressionante conhecer a origem das histórias, e visualizar as forças internas dos deuses e heróis que se transformam em ações e reações. 

Os mitos gregos são as primeiras histórias de aventura que já existiram. Os heróis gregos são os primeiros heróis de todos que já foram criados! É sempre uma delícia se aventurar a conhecer a origem de tanta coisa que a gente tem hoje.

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Monteiro Lobato: importante e polêmico

Por Paula Lisboa

Monteiro Lobato é tão importante na história dos livros escritos para crianças e jovens no Brasil, que é no dia do seu aniversário – 18 de abril – que comemoramos o Dia Nacional da Literatura Infantil e Juvenil. Mas afinal, por que será que ele é assim tão importante?

Monteiro Lobato é um divisor de águas, pois antes dele não existiam livros escritos para crianças no Brasil. Pode-se dizer que ele mudou para sempre a maneira como os livros para crianças passaram a ser escritos, abriu as portas para novas ideias e novas formas de escrever. Antes de Lobato, nossas crianças tinham acesso a livros de contos cuja intenção era ensinar o que é certo e errado, não tinham como objetivo serem boas leituras de fruição e imaginação. Outra opção eram os clássicos de fora do Brasil que chegavam aqui com traduções em português de Portugal, não escritos por autores brasileiros para crianças brasileiras.

Lobato achava os livros da época tão sem graça, que escreveu em uma carta para um amigo que não conseguia encontrar boas opções de livros para ler para seus filhos, então decidiu ele mesmo escrever bons livros. Ele também reescreveu e traduziu histórias já conhecidas, mas antes escreveu a sua própria história, “A Menina do Narizinho Arrebitado”, publicado em 1920, quando ele tinha 38 anos. O livro vem classificado por seu autor como “Livro de Figuras”, o que já deixava claro que as imagens eram tão importantes para a história quanto o texto escrito. Lobato buscava trazer a realidade do Brasil para seus escritos, que não fossem uma simples imitação do que vinha de fora. Queria que as pessoas se reconhecessem na leitura e que as crianças se apaixonassem pela história.

O sucesso de seu primeiro livro foi total e imediato. Em seu texto as crianças se identificam com a história contada, sentem-se à vontade entre os personagens, a caracterização, o cenário, a linguagem, toda a situação narrada. E assim, com o leitor se sentindo em casa, o texto de Lobato vai nos conduzindo para um mundo mágico e maravilhoso com muita naturalidade, nos fazendo mergulhar no reino das águas claras onde um peixe é o príncipe, ou conversar com um sabugo de milho, ou uma boneca de pano. Nada disso é forçado quando a realidade e a imaginação fazem parte de uma situação muito bem criada.

Monteiro Lobato foi o primeiro escritor brasileiro que escreveu livros de qualidade especialmente para as crianças, e desde que começou a criar a turma do Sítio do Pica Pau Amarelo, em 1920, nunca deixamos de ter seus livros como importantes na nossa literatura e seus personagens marcaram pra sempre nossa produção cultural.

No entanto, existe uma importante crítica a ser feita a esse grande autor brasileiro. Basta ler algumas páginas para perceber que ele se refere à tia Nastácia como “a negra” e em outros momentos escreve comentários bem grosseiros sobre o fato dela ser negra. Não está certo a gente se referir a uma pessoa pela cor de sua pele, assim como a cor da pele não faz de ninguém melhor ou pior do que ninguém. Nosso país traz em sua história a triste e dolorosa passagem da escravidão dos negros africanos e isso deixou muitas marcas na nossa linguagem e na nossa cultura. Até hoje, em 2020, ainda estamos aprendendo a fazer diferente. Nesse sentido, é importante lembrar que quando Lobato escreveu esses livros, há 100 anos atrás, as pessoas achavam que era normal discriminar pessoas negras, ou mesmo fazer piadas constrangedoras e sem graça. É bem desagradável encontrar essa discriminação nas palavras de um dos maiores escritores brasileiros, isso nos deixa constrangidos e embaraçados. Afinal, se um escritor, que conhece tão bem as palavras, se expressa dessa forma, imagine as pessoas comuns!

Sim, isso é uma coisa muito ruim encontrada na obra do Lobato, mas não faz seus livros serem menos interessantes, nem tira a sua importância na nossa literatura. Isso fala sobre a nossa história e nossa formação, e não devemos esquecer nossa história, por mais triste que ela seja. O importante é conversar sobre isso, comentar, apontar, refletir. Não finjam que nada está acontecendo. É preciso trazer para a consciência sempre que percebemos a linguagem depreciativa no texto, e seguir pensando em maneiras de retratar o racismo presente em nossa linguagem. A busca deve ser sempre pelo respeito, por nos tratarmos bem uns aos outros, sem discriminar ninguém por ser diferente de mim!

Fica aqui o convite para o mergulho na obra original de Monteiro Lobato. Com o olhar atento, tenho certeza que todos vão se apaixonar por sua narrativa criativa e inteligente.

Conheçam a casa engraçada!

Por Paula Lisboa

“Era uma casa muito engraçada não tinha teto não tinha nada…” Quem aqui não conhece essa música? Acho que quase toda criança e adulto brasileiro sabe cantar direitinho até o final: … “mas era feita com muito esmero, na rua dos bobos número zero!”.

O que poucos sabem, é que essa cantiga foi composta inspirada em uma casa que existe de verdade! Parecendo um castelo branco à beira mar localizado no Uruguai, a casa construída ladrilho por ladrinho pelo artista Carlos Vilaró, demorou 30 anos para chegar ao que é hoje, e se chama Casapueblo.

Vilaró era amigo pessoal de Vinicius de Moraes, o poeta compositor dos poemas do livro A Arca de Noé, tão conhecidos das crianças. Ele conta que Vinicius cantarolou dessa forma o primeiro verso do poema, em uma de suas visitas ao amigo: “Era uma casa muito engraçada, não tinha portas, não tinha nada, era uma casa de pororó, era a casa de Vilaró”.

Casapueblo é mesmo uma casa engraçada, parece que está suspensa no meio da montanha. Hoje ela é um museu, galeria de arte e hotel. O compositor Toquinho, responsável por transformar as poesias do livro A Arca de Noé em música, descreve Casapueblo: “A casa é bem diferente, à beira de um penhasco, parece levitar ao pôr-do-sol. Fica a imagem de uma casa engraçada. Sem teto, sem chão, sem parede. Eis a magia da poesia de Vinicius”.

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