Esperando Emília Ferreiro

31_10_2014
Emilia Ferreiro na Universidade Nacional de La Plata, em fevereiro de 2013

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Por Miruna Kayano Genoino 

Como muitos dos educadores envolvidos com os desafios inerentes às práticas relacionadas à alfabetização, estou muito ansiosa para participar do Seminário Internacional organizado pelo Centro de Formação “O ingresso nas culturas do escrito: o papel da escola no início do século XXI”. Mas hoje, quando faltam tão poucos dias para esse evento tão esperado, e cujas inscrições se esgotaram tão rapidamente, considero estimulante compartilhar uma situação de trabalho diferente em que pude ouvir Emilia Ferreiro falando, que significou muito em minha trajetória de educadora, e que me ajuda a pensar sobre o que esperar do evento do dia 8/11.

Desde o ano passado, eu e a professora Giulianny Marinho integramos, com o apoio da direção da Escola da Vila, a nova turma do mestrado voltado à escrita e à alfabetização, dirigido pela professora Mirta Castedo, na Universidade de La Plata, Argentina. E desde o primeiro momento em que começamos nosso percurso naquele espaço de formação, pudemos conhecer de uma forma diferente professoras que aqui no Brasil apenas víamos em palestras, conferências e supervisões internas. O que vivenciamos ali é tema para outras reflexões, mas gostaria de compartilhar o momento em que tivemos uma palestra de Emilia Ferreiro em nosso curso, na semana presencial de fevereiro de 2013.

A ansiedade se palpava no ar. Todos, brasileiros, argentinos, uruguaios, chilenos e colombianos esperavam com grande nervosismo a chegada da grande professora, pesquisadora dos processos de aprendizagem do sistema de escrita. E isso já foi algo que me chamou a atenção: Emilia Ferreiro provoca esse grande deslumbramento e uma multidão de admiradores, seja aqui no Brasil, seja na Argentina, onde trabalhou e trabalha de forma tão frequente. Na sua chegada, murmúrios, alguns aplausos e um brilho de emoção que tomou conta de quase todos os presentes. Afinal de contas, todos ali sabiam muito bem da importância das pesquisas que ela realizou e continua realizando, e que tanto têm contribuído para considerar os nossos alunos como sujeitos ativos que são.

Aquela palestra tinha um tema um tanto distinto daquele que será abordado no Seminário Internacional, pois tratava da elaboração de projetos de pesquisa para teses de mestrado e doutorado, mas, ainda assim, pensando em nosso próximo encontro organizado pelo Centro de Formação, recordo-me daquele dia em La Plata. Muitas são as lembranças, e uma das mais fortes foi a do final da atividade, quando Emilia pediu que uma colega trouxesse um carrinho, desses que levamos às feiras e aos supermercados, e de dentro foram sendo retirados folhetos e mais folhetos, pequenos livrinhos, e ela foi dizendo: "Estava arrumando minha casa e achei esses folhetos, que organizei junto com Jean Piaget. Eu os trouxe para ver se alguém gostaria de tê-los, caso haja interesse...". Foi quase um choque. Ali estava ela, Emilia Ferreiro, oferecendo de forma tão generosa um material produzido por ela com Jean Piaget, como se estivesse dizendo que nos oferecia um artigo de jornal da semana anterior.

Enfim, o que esperar de alguém com tamanho saber e tamanha simplicidade? Um mundo de possibilidades, certamente. O que podemos aqui refletir e considerar é que devemos ir para o Seminário Internacional com essa enorme admiração, com todas as nossas reflexões e questões, mas também sabendo que Emilia Ferreiro é uma pesquisadora que nos relata suas novas pesquisas a respeito da hipótese silábica e nos brinda com folhetos antigos retirados de um carrinho de feira, com o mesmo respeito e a mesma tranquilidade em ambas as situações, demonstrando que é uma pesquisadora que muito tem contribuído com a educação, sem nunca deixar de ter os pés − e as rodinhas do carrinho − bem firmes no chão.

E que venha o nosso Seminário Internacional!