O futebol e suas regras na aula de Educação Física dos 1ºs e 2ºs anos

24_11_2014

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Por Marcos Santos Mourão (Marcola)

O futebol é um dos conteúdos trabalhados na Educação Física do terceiro trimestre dos primeiros e segundos anos na Escola da Vila. Apesar de sermos conhecidos como o “país do futebol”, esse esporte está longe de ser unanimidade entre as crianças. Enquanto algumas aguardam ansiosamente por essas aulas, outras querem distância desse tipo de atividade. Em função disso, temos refletido sobre alguns encaminhamentos que possam trazer um novo olhar para o jogo de futebol. O primeiro é verificar o que as crianças dessas classes conhecem sobre futebol: quem inventou este jogo e onde ele surgiu, quais são suas regras, que brincadeiras sobre o futebol elas conhecem, quem são os melhores jogadores etc. Estas são algumas perguntas que auxiliam no levantamento dos conhecimentos prévios do grupo. Em seguida, conversamos sobre como o futebol será realizado na Educação Física, explicando que durante nossas aulas teremos conversas, assistiremos a vídeos e proporemos jogos e atividades que incluem todos do grupo. Essa conversa tem como objetivo inicial mostrar aos alunos que existe uma forma peculiar de tratar o futebol, que é diferente da que estão ou não acostumados a jogar no parque, no treino ou no clube.

Ao assistirmos um breve trecho de um vídeo sobre a história do futebol, Como surgiu o futebol - parte 1, conversamos sobre como as regras desse jogo se modificaram ao longo de milhares de anos. Nessa conversa levantamos a seguinte questão: “Se essas regras foram modificadas pelos jogadores da China, do Japão, da Itália, da França, da Inglaterra, será que temos que jogar o futebol com as regras oficiais do jogo?”. De jeito nenhum! Desta forma, conseguimos trazer para nossa aula uma proposta mais aberta, mais próxima ao brincar de futebol. Por exemplo, na primeira atividade prática, as crianças podem escolher o que querem ser no jogo: jogador, auxiliar do árbitro, torcida, anotador de placar, massagista, médico, jornalista. Esse contexto oferece a possibilidade de trocas permanentes de papéis e aproxima o jogo de futebol daqueles que inicialmente não gostariam de jogar. Além disso, oferece ao professor um olhar mais atento para como o grupo de alunos se configurou: “Quantos estão jogando? Como se organizaram? Quantos mudaram de papéis? Quantos se envolveram com a atividade?”. É comum, durante a aula, alguma criança pedir para entrar no jogo, pois percebe que existe um contexto mais aberto à participação de todos.

E quando não temos a participação de todos no jogo de futebol? O que podemos fazer?  Existe uma série de intervenções possíveis. Uma delas é trazer jogos e brincadeiras que envolvam algumas habilidades do futebol, sem ser propriamente o jogo. Temos um amplo repertório de atividades nas aulas de Educação Física que colaboram para que as crianças chutem, driblem, conduzam ou passem a bola. Outra intervenção possível é modificar as regras relacionadas ao futebol, alterando os tipos de bolas (leves, pesadas, grandes, pequenas, ovais); o número de participantes (futebol numerado com poucos jogadores); o espaço (jogos tradicionais de rua como linha, melê, três toques, bobinho); e o tempo (disputas curtas de jogo). Mesmo ao oferecer situações da prática do futebol de maneira um pouco diferente, eu percebi que alguns alunos estavam sendo rigorosos com o erro de seus colegas. Daí surgiu a oportunidade de discutirmos outra questão importante: a de que nem sempre o futebol foi um jogo para todos. Houve uma época em que os negros, os índios, os deficientes físicos e as mulheres não podiam sequer participar!

Eles entenderam e diminuíram o grau de exigência uns com os outros.

Cabe a nós, professores e alunos, mostrarmos que o futebol é um esporte e um jogo para TODOS, independentemente de etnias, condições físicas, motoras e gênero.