A atuação intencional do professor na formação de um grupo de estudos e na manutenção de um clima saudável em sala de aula

13_2_2015

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Por Vera Barreira

Todo início de ano, antes das aulas começarem, o grupo de professores e orientadores se reúne para antecipar, planejar e organizar o trabalho que vai desenvolver com os grupos de alunos de cada série.

Uma das coisas que fazemos, em grupo, é parar para pensar na formação do grupo classe, ou seja, (re)discutir por que cuidar do grupo é importante, lembrar o que se passa quando não assumimos diariamente essa responsabilidade e, acima de tudo, para analisar quando e de que forma cuidamos da formação do grupo de estudos que queremos ter com os alunos de cada classe.

Sabemos que a entrada em um grupo é um acontecimento inevitável na passagem da infância para o mundo adulto. Faz parte do processo de elaboração da identidade, na puberdade, o adolescente ir além das relações familiares e buscar outras referências para se formar como sujeito. No Fundamental II, o grupo de iguais se torna mais que importante, torna-se fundamental. É no grupo que o adolescente exercita papéis sociais, identifica-se com comportamentos e valores e busca segurança para lutar contra a angústia da solidão típica dessa fase.

Dessa forma, a busca pelo grupo não é uma opção social do sujeito em si, mas sim uma condição da própria adolescência.

Por outro lado, o projeto da Escola da Vila tem como valor e princípio a crença de que a aprendizagem em grupo é melhor, mais eficiente, do que aprender sozinho. Aprende-se discutindo, ouvindo, pensando a partir do que eu entendo e do que o outro entende.

E é exatamente neste convívio que os conflitos aparecem. Devemos sempre lembrar que conflitos, desavenças, discordâncias etc são inerentes às relações interpessoais. E não se trata de tentar evitá-los, pois sabemos ser impossível, mas com os devidos olhar e atenção dos adultos presentes, podemos cuidar e educar nossas crianças para um convívio mais respeitoso e solidário, entendendo os resultados de suas ações e as possibilidades de reparação.

“No ambiente escolar, as relações interpessoais – sempre próximas e afetivas – se constroem na perspectiva de um novo papel social para os alunos, o de estudantes, que aprendem a conviver numa coletividade, a colocar e a respeitar limites, a viver e a resolver conflitos inusitados, a manifestar opiniões e desejos, a ouvir e a negociar.

O contexto escolar é especialmente favorável à construção da cidadania, e os adultos assumem como parte de sua responsabilidade profissional a educação para a vida na esfera pública, o que inclui disposição para o diálogo, para a relação positiva com as diferenças, para a tolerância e para o respeito mútuo.”¹

Dessa forma, não é uma opção do professor da Escola da Vila pensar e atuar sobre a formação do grupo. É algo que se impõe, pois, como vemos, é tanto da natureza do projeto da escola quanto da natureza do adolescente com quem trabalhamos.

¹ Texto de apresentação do Projeto Pedagógico, Relações Interpessoais, do site da Escola da Vila.