Música na extensão curricular: Criando novos espaços de relação na escola

Aula de Violão Still 1

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Por Vicente Domingues Régis

Para contar sobre os cursos de extensão com enfoque em música, que são oferecidos pelo setor cultural na Escola da Vila, escolhi um recorte bem especial: a ampla gama de relações que vejo brotar durante essas aulas, dia após dia.

Antes de descrever especificamente as aulas e os cursos, gostaria de falar um pouco sobre música. Música é o lugar do encontro, é o lugar da relação, da interação. Ritmo, melodia, harmonia, som, dança, afeto, brincadeira, tudo isso se mistura na prática musical de forma a criar um novo espaço de relação para as pessoas em suas mais diversas possibilidades de existência e condição. Por isso, existe tanta música em eventos que reúnem muitas pessoas: festas, brincadeiras, celebrações, rituais religiosos, eventos esportivos e até momentos tristes como enterros e funerais. A música tem o poder de criar uma sensação de coletividade: a música reúne, a música altera nossa consciência e nos envolve em uma nova atmosfera de som, sentimentos e transformação.

Fazer música junto significa entrar em relação de uma forma muito especial. Quem já teve experiências concretas tocando ou cantando com outras pessoas sabe da intimidade que pode brotar desse momento, da forma rápida como os músicos entram em sintonia entre si, se entendem, se compreendem.

Em 2011, o setor cultural passou a oferecer cursos de extensão com o propósito de complementar a formação artística dos nossos alunos. Para a área de música optamos pela criação de três modalidades de curso que contemplam muitos dos aspectos inerentes a esta linguagem, bem como o aspecto coletivo do fazer musical: Criação Musical, Grupo de Violão e Grupo de Guitarra. Desde então, temos criado grupos multietários, que agregam alunos de turmas e séries diferentes. E observamos como muitos alunos aproveitam a oportunidade de buscar novas relações, novos espaços, novos jeitos de participar.

Os grupos de Criação Musical agregam crianças de 1o, 2o, e 3o anos do Fundamental 1. Trabalhamos de forma a ampliar o repertório de canções e de escuta dos alunos, apresentando compositores tais como: Tom Jobim, Raul Seixas e Adoniran Barbosa, dentre as várias possibilidades que aparecem e são trazidas pelos próprios alunos. Eles aprendem a tocar nos xilofones, nos metalofones e nas escaletas as melodias de canções simples: Minha Canção, de Chico Buarque, Águas de Março, Garota de Ipanema, do Tom, e ainda Love Me Do e Yellow Submarine, dos Beatles, abordando ritmos nos demais instrumentos de percussão.

É importante mencionar que o trabalho com esse grupo dispõe de bastante espaço para atividades de criação como sonorização de histórias, composição de trilhas sonoras e jogos de improviso. No vídeo abaixo é possível conferir a história que foi desenhada, criada e sonorizada por uma das turmas desse curso no ano passado.

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Os cursos de violão são oferecidos a partir do 3o ano do Fundamental 1 e se estendem até o 9o ano do Fundamental 2. No F1, os grupos são formados por alunos de 3o, 4o, e 5o anos, e no F2 do 6o ao 9o anos. Trabalhamos com uma série de canções, solos e linhas de baixo, contemplando compositores variados, de Beethoven a AC/DC, passando por John Williams, Luiz Gonzaga e Edu Lobo, dentre outros. Tudo isso buscando, também, dar espaço para que os alunos criem e tragam seu repertório para a aula, de forma a construir com o grupo um repertório comum. O Grupo de Guitarra tem uma proposta muito semelhante, entretanto, o repertório fica mais restrito a clássicos do Blues, Rock e do Jazz.

É interessante observar que o tamanho reduzido dos grupos, que contam com no máximo oito alunos, abre mais espaço para a expressão individual de cada um, bem como para novas configurações de relações e amizade, que muitas vezes brotam nessas turmas. Portanto, além de complementar a formação individual dos alunos no que se refere a aprender a cantar, tocar um instrumento ou escutar música de forma mais apurada, enxergamos as aulas de música da extensão curricular como a possibilidade de criação de um novo espaço de relação para os nossos alunos, nos quais o diálogo, a convivência e o protagonismo são fundamentais.