As perguntas das crianças e as respostas do mundo adulto*

13_5_2015

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Por Daniela Munerato

Crianças… São incrivelmente observadoras, espertas, manifestam seus saberes de muitas formas e sempre querem saber mais. E nós? Como respondemos a todas suas indagações e curiosidades? Contamos tudo? Devolvemos mais perguntas? Somos os sabidos ou também os igualmente curiosos? Imaginamos que são todas dúvidas comuns e legítimas para adultos educadores.

Iniciamos nossa reflexão lembrando que a aquisição da fala marca um momento importante na vida de qualquer criança. O falar abre portas, permitindo a comunicação, a interação, a expressão de sentimentos e desejos.

É através dela também que as crianças observam respostas diferentes para as mesmas situações, e começam a distinguir, por exemplo, que a comida preferida, o repertório musical, as brincadeiras escolhidas variam a depender das pessoas. No início esta percepção gera conflitos, pois as informações são vistas como oponentes, como se a única resposta para uma boa pizza só pudesse ser de queijo e que qualquer outra palavra faria um estrago na pizza. Mas, progressivamente, e com a ajuda dos adultos e de seus pares, elas conseguem compreender que opiniões diferentes fazem a diversidade, e que viver assim entre diferentes tem suas vantagens. Ao menos, sobram mais pizzas de queijo...

Nós, adultos, observamos um movimento de repetição intenso dos nossos pequenos; tudo que escutam repetem, tentando construir sentidos, ampliando repertórios. O fato é engraçado, pois repetem as palavras como as compreendem e somos presenteados com pérolas: “batatinha quando nasce esparrama pelo chão” ao invés de “espalha a rama pelo chão”, “todos foram pelo menos eu” ao invés de “menos eu”, e “limãosile” para limusine, “açúrcar” para açúcar, e muitos outros exemplos sem fim. Assim, qualquer palavra pode ser reproduzida dentro e fora de contexto onde faz sentido, pelo som que provoca, ritmo, extensão. Quantas vezes as crianças saem da escola cantando um trecho de uma música apresentada em uma história: “Eu sou um lolinho de queeme rachado” e os pais não conseguem compreender que se trata de um bolinho recheado da querida história de Tatiana Belinky.

Aos poucos, as palavras se tornam cheias de significado e com elas se formam frases cada vez mais completas e complexas, que conduzirão informações, desejos, sentimentos, pensamentos, regras a serem seguidas, para que sejam possível a convivência e o estabelecimento das relações.

Por volta do segundo ano de vida, a criança aprende a dizer “não” e esta será a resposta mais provável para tudo que for perguntado. Na sequência, o vocabulário vai aumentando até chegarmos aos famosos “porquês”, “como”, “onde”?

A criança chama: “pai, mãe” e lá vem o frio na barriga “o que será que vai perguntar desta vez?”

O importante é compreendermos a função desta frase, já que qualquer que seja a pergunta, não requererá extensas explicações. Algumas vezes, a criança deseja somente obter uma informação, outras vezes, confirmar algo que já sabe. O principal é sentir-se atendido, cuidado, ouvido e considerado. Ouvir mais de uma vez a mesma resposta traz segurança. Uma criança que mudará de endereço precisa ouvir muitas vezes que seus brinquedos irão com ela. Afinal, ela não pensa como nós!

Assim, o que precisamos considerar quando as crianças perguntam? A pergunta em si, o que elas desejam saber pontualmente, mesmo que do nosso ponto de vista a resposta pareça incompleta. Se sentir necessidade, a criança fará outras perguntas. Na dúvida sobre a questão, tente compreendê-la melhor. ”Você está falando disto? Onde ouviu isso? Para eu te responder, preciso saber o que fez você pensar sobre isso”

Enfim, o importante é responder e perguntar também. Esquivar-se das perguntas só gera ansiedade, insegurança. Se o adulto de referência não responde, a criança continua perguntando para outras pessoas. Então, melhor que sejamos estas referências que acompanham as curiosidades e pensamentos de nossos pequenos, que vivem em permanente exercício a fim de compreenderem a nossa sociedade, nosso mundo e as relações de modo geral.


* Em 2011, escrevi este texto com tema que tem sido recorrente em encontros com pais em nosso dia a dia da Educação Infantil, assim, considerei interessante atualizar e o apresentarmos no blog novamente.