#35anosescoladavila

1983_pre_Sonia
Sônia Barreira e a turma do pré-primário da Rua Mourato Coelho - 1983

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Por Sônia Barreira

Não é só a Escola da Vila que faz 35 anos em 2015. Também faço eu, 35 anos de Vila! 

É um tempo tão grande, que escrever sobre ele fica parecendo impossível. Adio, evito, busco algo que já escrevi no passado, perco no computador,  desvio da tarefa o mais que posso. Como abordar? O que contar? De qual ponto de vista?

Decido evitar o pessoal, afinal, o texto será publicado e talvez seja inadequado misturar os dois universos. Mas, me lembro que uma vez ouvi alguém dizendo que, no caso do educador, quando ele separa demais o pessoal do profissional ambos saem perdendo. Faz sentido!  Viver dos 22 anos de idade aos 57 anos trabalhando diariamente em uma escola te mostra que essa mistura é inevitável!

Vida com os filhos que crescem amigos de alunos que se tornam quase filhos. Vida com os colegas que compartilham conhecimento, emoções, angústias, conflitos, e se tornam queridos amigos. Vida com famílias diversas que acompanhamos de perto e que se misturam com a nossa. Alunos que crescem e se vão, mas voltam e se tornam profissionais e colegas. Pequenos que se tornam adultos tão incrivelmente rápido, e trazem seus filhos para oferecer a eles os desafios de uma formação que receberam de pessoas em quem confiam.  Colegas que saíram e voltam com seus netos, retomando laços e reavivando memórias. Vida com perdas dolorosas, trajetórias interrompidas que jamais serão esquecidas. Viver na escola é viver a vida de muitas pessoas ao mesmo tempo, suas dores, seus medos, suas conquistas.  Mas, certamente, não é o melhor viés para falar dos 35 anos da Escola da Vila... seria impossível.

Então, talvez, a cronologia me salve. Começo abordando a espontaneidade e a criatividade da escola que definiu seu DNA em seus dez primeiros anos,  depois abordo a capacidade de produzir e inovar que nos fez crescer tanto nos dez anos seguintes, depois relato a formação de uma equipe  que influenciou tantos educadores e escolas de todo o país em outros dez anos, e, depois, finalizo com as convicções solidificadas dos últimos cinco anos acompanhada de novas e intensas inquietações!

Mostro a utopia presente todo o tempo, alimentando nossa equipe e não nos deixando acomodar, impulsionando nossas buscas e afastando sempre de nós a satisfação completa com o nosso trabalho, pois cada vez que nos aproximamos dela verificamos que podemos mais e podemos melhor, deixando a marca da inquietude no nosso cotidiano.  Bom, mas a memória não me ajudará, e essa trajetória será contestada. Já imagino alguém me corrigindo: “Não foi nesse ano, isso foi antes daquilo”, e assim por diante. Não, a sequência cronológica não me ajudará nesse texto difícil!

Não posso, também, citar nomes, pois omitirei outros tantos; contar os casos pitorescos, nem pensar, esbarraria certamente na ética. Que tal as anedotas, as situações inusitadas, surpreendentes, engraçadas, melhor não, podem ofender os gregos e alegrar apenas os troianos. Não posso lembrar os momentos difíceis, pois já me esqueci deles e não posso destacar os momentos de construção do Projeto Pedagógico, pois seria muito chato para os leitores não educadores! Não... não posso, não posso, não posso. O texto começa a ficar impossível.

E se eu falasse apenas dos sentimentos, para variar um pouco?

Falar do meu profundo orgulho e emoção a cada formatura das turmas dos terceiros anos, pela convicção de que entregamos ao mundo, ao país, à nossa cidade, pessoas verdadeiramente críticas e comprometidas com um mundo melhor?

Falar da minha alegria de conviver com uma equipe séria, competente, cooperativa e igualmente comprometida com a construção de um país mais justo, através da educação de crianças e jovens, e da participação na vida cidadã?

Falar como me sinto privilegiada pelo fato de a Escola da Vila ter-me feito acreditar na escola como uma instituição fundamental para a preparação dos alunos para a vida em sociedade? Para uma vida mais cooperativa e menos competitiva, mais aberta a novas ideias e menos cheia de certezas, mais sensível ao diferente e menos individualista!

Não haveria espaço para expressar tudo o que realmente sinto e vivo na Escola da Vila, e não quero cansar ainda mais os leitores que chegaram até aqui. Quero apenas agradecer a todos que fizeram e fazem desta escola um lugar especial, e um lugar em que vale a pena viver!



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