O trabalho em duplas. Abordagem metodológica e estratégia educacional.

-

Por Sônia Barreira

Em todas as classes da Escola da Vila, na maioria das situações de aprendizagem, o trabalho em duplas tem espaço importante. Presente em nossa escola desde a Educação Infantil até o Ensino Médio, a importância desse tipo de agrupamento é tal, que já influenciou até mesmo na definição do mobiliário das salas e tornou-se marca visível de nossa forma de ensinar. Mas, nem sempre é claro para pais e visitantes a potencialidade pedagógica e educacional desse tipo de organização.

As duplas são formadas pelos professores e, eventualmente, pelos alunos. Sua funcionalidade é muito mais ampla do que a organização física das carteiras. A opção pelas duplas pode facilitar as aprendizagens, promover a construção de competências transversais, e garantir um relacionamento cooperativo e  construtivo entre os alunos.

Um dos ganhos mais evidentes é a fecunda troca de ideias − além da grande circulação da informação−, por fluir com naturalidade e intensidade numa aula com essas características. Ganhos esses, valorizados no nosso modelo pedagógico, mas talvez não naquelas escolas em que a sala é organizada sempre para o silêncio e a centralidade do discurso do professor. Discutir, comparar, negociar, informar, perguntar, cooperar são desafios constantes numa sala organizada para promover a aprendizagem individual, mas também a construção coletiva do conhecimento.

Porém, não basta simplesmente colocar os alunos sentados desta maneira e aguardar para que as coisas ocorram. As situações de aprendizagem devem ser desenhadas previamente, garantindo a intencionalidade da ação pedagógica ou, em outros termos, o planejamento detalhado da proposta de trabalho que os alunos devem realizar é o que garante que os objetivos de aprendizagem sejam alcançados.

Anos de trabalho com alunos de diferentes idades, e em contextos de aprendizagem variados, nos permitem arriscar a definição de certas condições didáticas que o trabalho em duplas deve contemplar para tornar-se eficiente.

É preciso considerar o conhecimento prévio e as capacidades individuais diante dos desafios da tarefa proposta; analisar o tipo de interação que se deseja promover; e elaborar bons comandos ou consignas para isso; definir o melhor momento para a sequência para o trabalho em duplas acontecer de acordo com os objetivos; e promover, sistematicamente, ao longo da escolaridade, reflexões pessoais e autoavaliações que levem à metacognição.

Em alguns momentos da vida escolar, um rodízio de duplas pode levar um aluno a trabalhar lado a lado com aquele outro aluno com o qual não se dá tão bem no recreio, nas atividades livres e, em tais circunstâncias, eles podem se queixar, na escola ou em casa.

Nesses casos, todos nós devemos ter muito claro que na Escola da Vila não se trabalha em duplas apenas para assimilar o conteúdo, mas também, e talvez, principalmente, para aprender a trabalhar com o outro – todo tipo de outro!