Nossos alunos e as redes sociais

9_3_2016

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Por Irene Antunes 

A partir de conversas com as famílias, em nossas reuniões de pais, identificamos um tema bastante importante, sobre o qual precisamos trazer mais elementos para reflexão.

“Ainda que, desde o início do Ensino Fundamental, nossos alunos utilizem variadas ferramentas do mundo tecnológico, é a partir do 4º ano que introduzimos atividades num ambiente virtual de aprendizagem (AVA) (...). É nesse local que vão encontrar vídeos, letras de músicas, imagens e fotografias que complementam um estudo, bem como outros importantes recursos para reflexão e discussão a respeito de conteúdos trabalhados na série (...). A escolha por introduzir o uso do AVA no 4º ano não é aleatória, estando pautada na capacidade que os alunos dessa faixa etária têm de coordenar uma série de atividades e de conceitualizar conhecimentos, o que vai, a partir de então, se ampliando consideravelmente” (trecho de texto do site dos 4°s anos).

A inserção desses recursos no currículo é realizada com muito cuidado e atenção na Escola, entendida como objeto de ensino que demanda a tematização do uso adequado desse ambiente de estudo, do sentido da proposição de atividades e do que elas potencializam (ampliar o tempo de uma discussão, possibilitar que todos se coloquem, contribuir com a produção dos colegas, produzir coletivamente, dentre outros aspectos).

Avaliamos como muito interessante o que essa plataforma virtual nos possibilita, o manejo que os alunos têm dela e o conhecimento que ali circula. Em casa, certamente, os pais também podem notar a potência desse trabalho e a condição dos seus filhos de realizá-lo. Para além dos eventuais desafios que surgem relacionados aos conteúdos das tarefas, enquanto nativos digitais, as crianças de nove e dez anos têm grande facilidade e interesse pelos recursos tecnológicos.

Essa nova atividade escolar coloca, por vezes, também para os pais, questões relacionadas à participação dos seus filhos em outras redes sociais. Algumas crianças questionam seus familiares: Posso ter um email? Quando vou ganhar um celular? Mas TODOS os meus amigos conversam pelo WhatsApp... E as famílias compartilham conosco algumas preocupações: Quando será o melhor momento de liberar? Se os colegas já usam, fica difícil dizer não. Devo perdir permissão para olhar o Direct* do meu filho?

Diante disso, avaliamos oportuno propor aqui uma reflexão acerca de nossos alunos e os usos que fazem das redes sociais.

Percebemos que, em geral, o convívio nesses ambientes, muito diferente do que acontece na escola, nem sempre conta com a mediação de adultos e, mais que isso, não está condicionado pelo olhar do outro e suas reações não verbais.

Cada vez mais precocemente, acompanhamos crianças que, além do convívio na escola, interagem frequentemente por Skype, Messenger, WhatsApp, enfim, "batem papo" e trocam experiências além dos muros da escola, mediadas por uma interface, por um aparelho.

Observamos que as crianças trazem para a escola, em suas falas sobre problemas decorrentes de conversas virtuais, a falsa sensação de que aquilo que escrevem uns para os outros não está submetido às mesmas convenções sociais sob as quais pautamos as relações “olho no olho” vivenciadas na escola.

Além disso, muitos estão convictos de que sua senha “pessoal” ou a distância física pertinente à situação os protege de qualquer coisa, seja dos pais saberem sobre o que conversam e como se relacionam virtualmente, ou de poderem excluir ou ser pouco cuidadosos com algum colega quando conversam em grupos fechados, pois, assim, acham que nunca ninguém descobrirá essas dinâmicas.

Ora, conhecendo o desenvolvimento moral nessa faixa etária, percebemos o quanto estão a construir recursos e instrumentos para lidar com as consequências de escolhas e posturas adotadas no silêncio de seus quartos, além da pouca possibilidade, dada a idade que possuem, de anteciparem decorrências de algumas de suas ações.

Assim, reforçamos aqui duas ideias para reflexão:

- Como crianças, os(as) filhos(as) precisam da supervisão da família, com limites claros quanto aos usos de ambientes digitais, com conversa franca sobre direitos e deveres, responsabilidades compartilhadas com os adultos acerca de como usam e pautam suas conversas na rede, exclusivamente com pessoas conhecidas e acompanhamento dos responsáveis. Mesmo assim, as redes sociais colocam situações que consideramos inadequadas para crianças, e, não por menos, restringem o acesso delas em suas políticas de uso.

- Família e escola precisam abordar esse tema e suas consequências na vida das crianças. À escola cabe propor contextos e análises que ajudem a considerar válidos, em qualquer ambiente no qual convivam, os princípios de respeito mútuo e de solidariedade e, ademais, a valorização do diálogo como principal ferramenta para se esclarecerem desentendimentos e diferenças.

Finalizando, indicamos aqui algumas leituras que podem ser úteis para a reflexão sobre os desafios da educação de nossas crianças:

Textos publicados no blog da Escola:

O uso das redes sociais na adolescência 

Os valores de público e privado entre os adolescentes da geração Z 

A adolescência, o grupo e o mundo virtual 

Abuso de MSN = as horas de telefone do passado 

Livros que abordam temáticas relacionadas à formação moral:

Limites três dimensões - Yves de la Taille.

Ética para meus pais - Yves de la Taille.

Ética para meu filho - Fernando Savatér


*Direct: recurso de bate-papo do Instagram.