O que você vai ser quando crescer?

27_4_2016

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Por Susane Lancman

Essa pergunta acompanha muitas fases do desenvolvimento infantil, e nem sempre é desprovida de tensão.

É comum no meio adulto questionar os pequenos humanos sobre a escolha profissional e achar graça dessas escolhas, seja porque fazem parte do mundo imaginativo de profissões: “Vou cuidar de dinossauros”, seja porque mostra aptidões recém-adquiridas: “Serei um grande chef” ou, ainda, porque demonstram a falta de repertório em relação ao assunto: “Ora, quando crescer, serei grande”.

Na medida em que os pequenos seres crescem, chegando ao final da escolaridade obrigatória, essa pergunta traz muita ansiedade, não sendo mais motivo de risadas familiares. Muitas vezes, passa a ser o grande tema de conversa entre os jovens e seus pais. Os primeiros, tentando saber do que realmente gostam, se dando conta de que nem sempre possuem autoconhecimento suficiente para tal decisão, e sofrendo ao perceberem que escolher significará abandonar outras opções. E os pais, querendo ajudar nessa escolha, com sua experiência de vida, seus conhecimentos e dados da realidade profissional para que a escolha seja a mais acertada possível.

Nem todos têm facilidade para uma escolha imediata. Assim, na Escola da Vila fazemos algumas atividades que podem ajudar nesse processo: leitura de textos de ex-alunos contando sobre suas opções na carreira acadêmica, encontros com ex-alunos, com professores de diferentes universidades, estágio em diferentes locais de trabalho, e encontros com a orientação da escolha da carreira acadêmica (OECA).

Esses encontros OECA acontecem no período da tarde, e são opcionais. Em cada grupo participam, em média, nove alunos. São promovidos cinco encontros, com atividades que ajudam no autoconhecimento, na ampliação das opções de carreiras acadêmicas, no conhecimento de diferentes cursos e universidades.

Leiam a seguir alguns trechos de depoimentos de alunos que participaram do grupo OECA nos meses de março e abril, e, por fim, o relato da aluna Bruna contando sobre o seu processo de escolha da carreira acadêmica.

[...] o que mais valeu a pena no OECA foram as informações que adquiri em relação às faculdades que têm o curso que quero, até porque já sabia o que queria cursar... Além disso, me ajudou a descobrir mais sobre a minha personalidade e as coisas que são de fato importantes para mim.”
Vitor Pereira

“Mesmo sem ter me decidido, penso que foi uma boa experiência o OECA para pensar sobre o assunto, me ajudando a excluir algumas opções e ampliar outros horizontes...” Renato Silva

Acredito que minha experiência foi muito positiva, pois me ajudou a me conhecer melhor, me fez pensar sobre o que quero fazer e o que gosto de fazer. Foi muito interessante ter um momento na semana para conversar sobre as possibilidades e ouvir outras pessoas que estão na mesma situação...”
Anita Meyer

“O fato de o grupo ser pequeno proporciona um ambiente seguro para compartilhar angústias, dúvidas e decisões...”
Sofia Púlice

“[...] sobre a minha escolha de curso universitário continuou a mesma que já tinha pensado antes do OECA e me sinto satisfeita, porém não muito com o futuro profissional que esse curso pode me proporcionar no que se refere a salário.”
Sofia Galvão

“[...] estava em dúvida entre engenharia e medicina. No decorrer dos encontros fui conhecendo mais sobre mim mesmo, procurando cursos que se aproximassem da minha personalidade, e acredito que encontrei: engenharia biomédica...”
João Oliveira

“Sempre pensei em diversas carreiras desde criança, sendo muito plural em meus gostos... No OECA não aconteceu um ‘descobrimento’, mas sim uma revelação de mim mesma. Minha opção para o vestibular é Matemática aplicada...”
Juliana Akemi Rodrigues

Processo para responder à pergunta: “O que você vai ser quando crescer?”. 

Por Bruna Costriuba Grisotti de Maria

Quando eu era pequena, amava meus bichos de pelúcia como nunca amei nada na vida. Meu fascínio pelos animais sempre se focou em lagartos, cobras e dragões, ou seja, todos eles com escamas. Entre meus 5 e12 anos de idade me diziam, então, que eu poderia ser paleontóloga. Uma vez, entretanto, um parente meu me disse que quando crescesse todos os dinossauros já teriam sido descobertos. Acho que foi por aí que desisti da ideia.

Os anos seguintes foram puramente de indecisão. Nunca sabia responder ao que diabos eu queria fazer da faculdade, ou com o que queria trabalhar. Uma certeza eu tinha: nada que envolvesse humanas. Assim que descobri que paleontólogos usavam geografia para achar os dinossauros e todos os outros fósseis, fiquei extremamente agradecida a meu parente que havia me desencorajado. Geografia e História não são para mim.

Aos poucos, fui vendo minha já tão descoberta paixão e facilidade para matemática, ser passada para Ciências Naturais, como chamávamos as matérias Física, Química e Biologia no Fundamental 2. No nono ano, então, enquanto as pessoas me davam parabéns pela formatura, me perguntavam o que eu queria prestar na faculdade. Eu respondia com um sorriso tímido no rosto: “Engenharia”.

Descobri que engenharia era bem mais complexa do que eu imaginava. Não se limitava a circuitos ou a simplesmente carros. Havia tantas engenharias diferentes que eu não sabia escolher nenhuma, e muitas eu nem sabia para o que serviam. Até hoje não sei. Mas já ia eliminando algumas delas simplesmente pelos nomes. Engenharia Mecânica eu associava com carros e máquinas de fábricas, e logo risquei de minha lista. Engenharia Elétrica era uma opção. Mas sempre havia uma tal de “Engenharia Mecatrônica”, que sempre me trouxe curiosidade. Então, fui trocar ideia sobre engenharias diversas com um amigo da FEI. Ele me explicou mais ou menos como era a mecatrônica e como era a elétrica e a mecânica. E eu pensei: “parece legal, vou fazer engenharia mecatrônica”.

Deixei a minha recém-descoberta paixão pelas matérias biológicas de lado, até que comecei a me fascinar pelo corpo humano, tanto física quanto mentalmente. E, embora ainda me divertisse com matemática e física, eram as aulas de biologia que me faziam querer deixar minha cama e ir para a escola. Aos poucos, busquei relacionar engenharia e corpo humano, e pensei logo em próteses. Minha ideia então era fazer Mecatrônica, e depois fazer um curso de biologia estrutural, e juntar o melhor dos dois mundos.

Com essa nova ideia em mente, eu já não respondia mais Mecatrônica com o mesmo sorriso de antes. Acho que, na verdade, nunca gostei de mecatrônica, apenas me apeguei a um curso que me interessasse, pouco pensando no futuro. Nunca, entretanto, havia sentado um dia e olhado para as opções de cursos na minha frente. Apenas aceitei algo que parecia legal. Com o OECA (orientação da escolha da carreira acadêmica), tudo mudou. Em uma das primeiras aulas precisávamos falar sobre nossas vidas e sobre nossos interesses, e, timidamente, comentei que uma de minhas ideias era produzir próteses. A Susane então me respondeu que havia um curso novo, que poucas faculdades tinham, mas que podia me interessar. Uma tal de “Engenharia Biomédica”.

Não botei fé, assim como nunca aceito facilmente o que os outros falam. Mas um dia resolvi me dar uma chance, e fui ao computador para tentar descobrir que diabos era essa engenharia. E eu simplesmente me apaixonei pelo curso! Nunca havia sentido uma vontade tão grande de entrar na faculdade, ou me senti tão feliz em pensar: “Vou fazer Engenharia Biomédica”, pensamento e sentimento que nem sequer passavam em minha mente quando a Mecatrônica dominava minha cabeça.

Ainda estou no fim do primeiro trimestre do terceiro ano do Ensino Médio, mas já me sinto animada e pronta para começar a prestar os vestibulares e me dedicar aos estudos para entrar em faculdades. Pois agora tenho um objetivo, uma vontade de chegar a algum lugar, com uma alegria e ansiedade que apenas quem descobre o curso certo pode sentir.