Para dar um passo adiante precisamos perder o equilíbrio


Reggio

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Por Andréa Polo e Juliana Karina

O título deste blog representa a fala de uma criança de três anos idade, que vive e frequenta uma das escolas de infância de Reggio Emilia, cidade ao norte da Itália, onde circula fortemente a ideia da criança competente, participativa, cidadã e detentora de direitos.

A cidade é um encanto! São árvores por todos os lados, praças públicas com espaço garantido para brincadeiras e descanso, construções antiquíssimas e bicicletas que transitam como veículo principal de transporte das crianças a seus “nonnos e nonnas”, que carregam em suas garupas seus “bambinos”.

Reggio

Essa cidade cultiva uma escolha pedagógica em seus mínimos detalhes quando acolhe em seu contexto político decisões que serão tomadas sempre em benefício da educação. Orgulham-se de sua história e contam-nos que pais e mães construíram as paredes das escolas com restos de tijolos e ferros retorcidos de casas bombardeadas durante a II Guerra, e com esses materiais fizeram a forte estrutura que apoia a construção das creches e escolas. Vimos que a maior força de sustentação está no grupo envolvido nos processos de trabalho: a cidade como um todo está plenamente convencida de que depois do sofrimento e da destruição causados pela guerra, só mesmo um esforço coletivo para recompor e dar significado ao que foi duramente retirado de cada família. Essas escolhas, principalmente as do investimento e respeito aos diretos da criança, garantem aos pequenos de hoje uma forte atribuição de sentido para as suas experiências e aprendizagens!

Reggio  Reggio

O que vimos nas escolas de Reggio, e que encanta educadores de todo o mundo, foram pessoas a serviço da comunidade, com o intuito de proporcionar múltiplas experiências às crianças, desde os seus primeiros meses de vida, e a desenvolver significativamente seus múltiplos sentidos. Educadores interessados nas interações, nas emoções, na sensibilidade e, acima de tudo, engajados para que as crianças assumam o controle de suas aprendizagens. Protegem-nas como num processo de construção partilhado, dão o tom a uma rotina que nos deixou maravilhadas. O encantamento também se dá por conta da forma como o respeito dos educadores ao tempo e ao processo de investigação infantil é valorizado. A criança é contemplada em suas falas, observações e buscas, ao mesmo tempo em que suas produções, ações e conquistas são evidenciadas e valorizadas.

Reggio

Em Reggio, o significado do que é exposto vai muito além da visualização dos trabalhos pela comunidade escolar. Por meio de inúmeras e delicadas investigações demonstram o valor e o espaço que o processo experimentado pelas crianças ocupa nesse ambiente.

Foi possível observar, ali, variadas linguagens artísticas e poéticas que falam por si, advindas das diferentes faixas etárias. Sem nenhum tipo de explicação dos educadores, nos vimos imersas num espaço de extrema criação de contextos! Foram dias para procurar caminhos impossíveis, menos óbvios. Em Reggio, pudemos reafirmar nossas convicções de que escutar uma criança não significa apenas ouvi-la, mas reconhecer todas as suas linguagens, e acima de tudo, confiar que ela é capaz de se expressar criativamente.

Reggio

Saímos de lá refletindo sobre as possibilidades que temos para tornar visível a essência da vida na escola! A cada dia, poder dialogar com quem não estava presente no momento − mas faz parte desta comunidade −, e revelar a potencialidade das crianças que observamos diariamente,seja por meio de suas falas, suas produções, seus gestos e ações...

Perdemos nosso equilíbrio, mas nunca nos sentimos tão fortalecidas para continuar cultivando o olhar sensível, atento às conquistas, à apropriação de novos conhecimentos, às curiosidades, às preferências. Um desequilíbrio que nos ajudará a revelar a persistência, o sentimento, o esforço das crianças em suas atividades que, diariamente, realizam na nossa escola.