Sobre as peculiaridades do terceiro ano

Caio Jannini

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Por Caio Jannini Sawaya Oliveira 

Confesso que, há alguns meses, não me imaginava escrevendo um texto sobre vestibular, e muito menos sobre o meu ingresso no ensino superior. Eu? Na faculdade? Que loucura! Só a possibilidade de não cumprimentar o Luisão todo dia, conversar com Edson sobre futebol, cantarolar junto com Aderalda, Patrícia e Lili e me divertir com a Bete e com o Julião me parecia (e confesso que ainda parece) muitíssimo estranha. Tendo estudado na Escola da Vila desde os cinco anos, me acostumei com o ambiente alegre, com as pessoas interessantíssimas e o incrível método de ensino, e sair dessa zona de conforto é muito desafiador. Portanto, era de se esperar que o meu último ano de escola fosse marcado por uma enorme contradição. Por um lado, a vontade de conhecer o mundo fora da escola, entrar na universidade e tomar as rédeas da minha vida; por outro, o sentimento de apreensão em relação ao que me aguardava fora da escola: decisões difíceis, novas responsabilidades e uma infinidade de coisas, informações e pessoas que teria que passar a conhecer.

O fato de eu ter escolhido o curso que iria prestar – Direito – muito antes de começar a pensar em vestibular, me libertava da enorme e injusta dúvida entre carreiras, mas fazia com que a pressão de meus pais, amigos e conhecidos aumentasse. Ao longo desse último ano, devo ter ouvido centenas de milhares de vezes as frases: “Direito? Tem que estudar muito!”, “Ah, mas você sabe que vai ter que ler mil páginas por semana, né?” e, a melhor de todas, “Estuda muito para ser meu advogado!”. Fingia não ligar, mas a cada repetição me assustava ainda mais.

O ano começou e, decidido a entrar na melhor faculdade possível, comecei a frequentar toda e qualquer revisão para o vestibular proporcionada pela escola. Mas a verdade é que as revisões só ajudam até certo ponto, dando a base para que o aluno estude e se prepare, mas o esforço e a força de vontade têm de vir diretamente do indivíduo. Força de vontade eu tinha de sobra, sonhava com o meu futuro e cada vez tinha mais certeza do que queria fazer, mas, o esforço nunca havia sido uma grande qualidade minha e isso fez com que eu não estudasse o quanto acreditava ser necessário para passar. Mesmo sem fazer os exercícios em casa, continuava indo às revisões e fazendo os simulados, e via uma notável melhora no meu desempenho, mas nunca uma melhora boa o suficiente para me fazer ter certeza de que passaria em alguma faculdade.

Quando a época de inscrição para os vestibulares começou, defini as instituições nas quais queria cursar Direito e as classifiquei por ordem de prioridade. A minha primeira opção era a USP, a faculdade de Direito mais tradicional de São Paulo, a qual inúmeras figuras importantíssimas haviam cursado; a segunda opção era a FGV, uma escola conceituadíssima que tinha um curso de Direito relativamente novo, com uma grade curricular extremamente inovadora, que propunha uma nova forma de aprender Direito; e a terceira opção era a PUC, uma faculdade de longa tradição em Direito e uma história de excelência na área, além de ser a faculdade na qual meus pais se conheceram e pela qual nutrem um carinho enorme. Me inscrevi para os três vestibulares, além do ENEM.

O tempo foi passando e então percebi a pior das verdades do último ano da escola, que nenhum professor ou pai tem coragem de contar aos alunos, mas pela qual todos nós passamos: Não importa o quão preparado psicológica, física e mentalmente você está, o dia do vestibular chega com uma velocidade surpreendente, quase que “sem avisar”, e nos deixa atônitos e sem reação. Em um momento, você está curtindo as (muitas) festas com seus amigos, e, no outro, vira só mais um número de inscrição dentre outras milhares de pessoas. Passado o momento, prestei os exames do ENEM e da Fuvest e obtive os mesmo resultados dos simulados: acima da média, mas não o suficiente para passar. Minha primeira opção, USP, era agora inalcançável, mas minhas outras duas ainda eram possíveis. Fiz o vestibular da PUC e acabei passando, mesmo ele sendo muito parecido com os que prestei anteriormente.

Quando fiz o vestibular da FGV, porém, me surpreendi bastante. O teste era dissertativo e tinha questões de pura reflexão e não no estilo “decoreba”, como todos os outros vestibulares. A prova era similar a todas as outras que havia feito na Escola da Vila durante toda a minha vida e, por isso, pelo que aprendi durante todo o meu percurso na escola, fiz uma ótima prova, ficando entre os 25 melhores e passando com folga para a segunda fase. O intervalo entre as duas fases seletivas me deu tempo para aprofundar mais meu conhecimento sobre o curso da Fundação Getúlio Vargas e me convencer definitivamente de que era lá o lugar no qual eu queria estudar.

O dia da segunda fase chegou e eu, ao melhor “estilo Caio de ser”, me atrasei para sair de casa e cheguei ao número 233 da Rua Rocha um único minuto antes das portas se fecharem. O nervosismo da jornada até ali se prolongou durante o exame oral, fazendo com que eu tivesse um dos piores desempenhos em debates de toda a minha vida. Na volta da Bela Vista, um misto de angústia e ansiedade por ter certeza de ter perdido a vaga fez com que me contentasse com o novo plano: fazer um longo e doloroso ano de cursinho para prestar novamente os processos seletivos e ingressar (com sorte) no ensino superior no ano seguinte.

As férias chegaram e, por conta das distrações características dessa época e pela falta de confiança de que iria passar, me esqueci do dia em que o resultado do vestibular da FGV sairia. No meio de um treinamento do glorioso Exalta Ousadia F.C., fui surpreendido por uma ligação da minha mãe dizendo que eu havia sido aprovado. Eu, Caio Jannini Sawaya Oliveira, o menino que há muito não inspirava muita expectativa alheia em relação a desempenho acadêmico, acabara de entrar em umas das melhores faculdades do país.

Bom, essa é a minha experiência, no mínimo peculiar, sobre vestibulares. Peço desculpas pelo tamanho do texto, mas toda a loucura vivida nesse período teve de ser devidamente documentada. Gostaria de agradecer do fundo do coração à Escola da Vila por ter me ajudado a construir a pessoa que sou hoje e por ter me proporcionado os melhores anos da minha vida. Agradecer também aos professores, funcionários, coordenadores e diretores por tudo e desejar aos alunos que prestarão vestibulares esse ano Boa Sorte!