Ser Tão

Grupo que participou da viagem

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Por André Junqueira de Aquino e Nilson Joaquim da Silva

“O sertão não chama ninguém às claras; mais, porém, se esconde e acena”
João Guimarães Rosa 

Um curso para compreender o sertão. E, no entanto, saímos sem uma definição. Um curso para decifrar Guimarães Rosa. E saímos com a impressão (ou certeza?) de que ele é indecifrável. Começamos buscando algo de que não chegamos nem perto, e a sensação é de que fomos bem sucedidos. A busca, talvez, fosse a grande intenção deste Projeto SerTão Grande. Busca: vislumbre e crença na possibilidade de uma terceira margem, eco oco da cantilena de Sorôco, de sua mãe, de sua filha, nos convidando a, com eles, viajar, a ir até onde a canção nos levar, com o sertão fazendo eco, todo, em nós.

Conhecendo Cordisburgo

A própria palavra “sertão” remete à busca. Uma palavra incompleta. Ser tão o quê? Ser tão grande? Ser tão belo? Ser tão quieto? Ser tão profundo? Ser tão sozinho? Ser tão sertão.

“O sertão está em toda a parte”, escreveu Guimarães Rosa, pela voz de Riobaldo. Esteve em uma sala de aula - que se transformou em roda de conversa, de trocas, de busca, de ao redor de fogueira da qual, porém, a chama que mais alumiava brotava de nós, em nós - durante o 1º semestre. Lá nos debruçamos sobre a obra de Guimarães Rosa e de outros autores e exploradores - viajantes, peregrinos - que também empreenderam essa busca pelo sertão e seus significados, sentidos, lógicas, temporalidades, e que nos serviram de guias e mestres.

Subida ao Morro da Garça

Do sertão criado na sala, resolvemos empreender a travessia rumo ao sertão rosiano. Partimos, então, em viagem ao sertão da infância e da obra de Guimarães Rosa, com dois dias em Cordisburgo, terra natal do autor e cenário de tantas de suas estórias, e dois mais em Morro da Garça, cidade em que se encontra o ‘morro protagonista’ do conto “O Recado do Morro”, lido também ao longo do curso, e na qual fica clara a fronteira entre dois mundos em contato e confronto: o ‘moderno’ e o ‘arcaico’, o ‘progresso’ e a ‘tradição’, o ‘erudito’ e o ‘oral’, o ‘sertão’ e a ‘cidade’.

Momentos com o grupo Caminhos do Sertão

Na volta, a sensação não é de que deixamos o sertão. “O sertão é dentro da gente”, também disse Riobaldo, fazendo eco em nós a consciência rosiana de que “o sertão está em toda parte”. Trouxemos um pouquinho de sertão conosco, e teremos mais alguns encontros para buscar outros sertões, além do rosiano: o de Euclides, o de Graciliano, o de Glauber, o de Belchior, o de Elomar, o de cada um de nós...

E que estes sertões sigam ecoando daquela pequena sala sertaneja até onde o eco puder se fazer projetar, reverberar, ecoar… e além.

A cidade acaba com o sertão. Acaba?”