Sobre a beleza de encontrar-se com quem sabe que os professores pensam, e muito!

Escola da Vila

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Por Miruna Kayano 

Como mestranda do programa "Escrita e alfabetização" da Universidade de La Plata, na Argentina, já tinha tido a oportunidade de ir algumas vezes à cidade argentina refletir e pensar sobre os desafios de uma educação que considera o sujeito aprendiz. Nesse sentido, era enorme a ansiedade em estar presente às Jornadas Internacionais de Escrita e Alfabetização, que comemorava os dez anos do mestrado do qual faço parte. Pois desta vez eu estaria com uma equipe importante da Escola da Vila, além de colegas educadoras de outras instituições.

Cada uma das pessoas participantes dos três dias do evento tem suas próprias visões e sensações do que vivemos ali, fundamentalmente porque havia momentos em que todas assistíamos às palestras − a de Délia Lerner e a de Emília Ferreiro por exemplo −, mas outros, em que cada uma se decidia pela proposta reflexiva que gostaria de integrar. Seja por termos visto eventos diferentes e semelhantes, seja pela bagagem de cada uma, foi encantador acompanhar o quanto "as argentinas", que tanto já nos fizeram pensar na Escola da Vila e no Centro de Formação, colocam os educadores para pensar e repensar sua prática, seus alunos, suas possibilidades, de um jeito único. É impossível estar na presença delas e seguir pensando sua prática da mesma maneira, e isso é algo que realmente é preciso valorizar.

Assim, retomando a principal colocação do painel de encerramento de Emília Ferreiro "Sobre as dificuldades de admitir que as crianças pensam", por vezes sabemos também que existe ainda uma dificuldade enorme de admitir que os professores pensam. Que decidem, refletem, tomam decisões! E essas decisões consideram não apenas o resultado final, este que parece ser sempre o mais esperado, mas também o processo, o envolvimento e o crescimento cognitivo, afetivo e emocional da criança. É importante escrever convencionalmente? Sim. Mas é igualmente importante que a criança confie que suas escritas provisórias são válidas? Também. E é nisso que os professores se apoiam, nessa complexidade enorme presente na docência, que considera as potencialidades de quem aprende para pensar, pensar muito, sobre como pode ser a sua sala de aula.

E como mostrar em um evento tão grande, em que se considera que os professores pensam? Claramente, apresentando fundamentações teóricas consistentes, complexas, difíceis até de serem compreendidas em sua totalidade (quem esteve na palestra de Antonio Castorina sabe a que me refiro), sem cair na superficialidade de querer ensinar o professor sobre "como fazer". Sem querer mostrar o fácil, achando que é só isso que o professor pode entender. E em nenhum momento apresentando receitas prontas. Um claro exemplo disso foi a experiência apresentada por Ana Maria Kaufman sobre seu instrumento de avaliação de escrita para alunos de 4º a 6º anos, no qual ela não só mostrou as atividades em si, mas compartilhou as idas e vindas até alcançar aquele texto a ser pontuado. Indicou o que a fez decidir sobre a forma de inserir ou não determinado aspecto relacionado à acentuação, abriu portas para refletir sobre o que significa entender como a criança pensa.

Este é apenas um exemplo dos muitos que vivemos nesses três dias de evento. Voltamos de lá carregadas de ideias, desejos, propostas e dúvidas, muitas dúvidas também, que certamente nos farão estudar, questionar, aprofundar e seguir pensando sobre a complexidade de ensinar os alunos a ler e a escrever enquanto verdadeiros sujeitos ativos de uma comunidade letrada. Todo educador deveria, em algum momento, ter o privilégio de ouvir educadores e investigadores que respeitam, sim, e muito, como as crianças pensam, mas que essencialmente acreditam, e querem muito, que nós professores pensemos, pensemos sempre, sobre os caminhos tão complexos da aprendizagem de um pequeno grande ser humano.

Seguiremos pensando!