Dia do Acampante: uma situação de convívio fora dos padrões habituais

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Por Eliane Mingues 

“Quem somos nós, quem é cada um de nós senão uma combinatória de experiências, de informações, de leitura, de imaginações. Cada vida é uma enciclopédia, uma biblioteca, um inventário de objetos, uma amostragem de estilos, onde tudo pode ser continuamente remexido e reordenado de todas as maneiras possíveis.”

Ítalo Calvino¹.

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E parece ser mesmo assim que, de experiência em experiência, vamos nos constituindo e dando forma a cada nova situação vivida, e por isso tudo é sempre tão único: cada ano de trabalho, cada grupo de crianças, cada história, cada vínculo, cada viagem!

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E é nesse cenário que os acampamentos, como atividades extraescolares, podem contribuir para a construção desta dinâmica: cada ano uma situação diferente, cada viagem um grupo diferente, que se junta e se encontra e se conhece mais, embora o lugar possa ser o mesmo e as brincadeiras se repetirem, ainda assim nada será como antes.

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Já nos preparativos para o grande dia começa a viagem dos pequenos e de seus pais: “O que levar na mala? Com quem vou me sentar no ônibus? Que filme vamos assistir na volta? Que músicas vamos escolher para ouvir durante o caminho? Vou poder brincar o dia inteiro?”. Essas são só uma amostra das muitas questões formuladas e compartilhadas nos dias que antecedem o acampamento – esse espaço diferenciado de convívio entre as crianças, e entre elas e os adultos, em que vão experimentar novas propostas, em outro espaço diferente do espaço escolar, e que sem dúvida lhes possibilita construir novos recursos para a sua autonomia.

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Chegar, reconhecer o espaço, entrar no chalé, escolher uma cama, desfazer as malas e arrumar suas coisas já vai evidenciando e mostrando um tanto de animação e cooperação entre todos, que é emocionante presenciar. Ver uns ajudando os outros a organizar seus pertences, a passar o protetor solar e a lembrar que é preciso calçar o chinelo e não esquecer do repelente antes de sair para as aventuras do dia são só alguns exemplos do que é possível observar de pronto. E essa cooperação e esses vínculos só vão se fortalecendo ao longo do dia com as situações de brincadeiras, refeições e paradas para a organização dos próximos eventos, sempre tendo como ponto de encontro o chalé. E é nesses momentos também que temos o privilégio de conhecer mais de perto cada um, com suas preferências, seus costumes e seu jeito de ser e conviver.

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Quando é chegada, enfim, a hora das brincadeiras, aí, então, a diversão chega ao seu ápice: piscina, tirolesa, escorregar na lama, caça ao tesouro, dentre outras propostas, garantem o sucesso do dia e recompensam todo o cansaço, o machucado, os possíveis desentendimentos.

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E assim, tudo, apesar de tão familiar, costuma parecer uma grande novidade nesse dia: o ônibus grande, o caminho mais longo, os colegas de outras classes compartilhando o mesmo espaço, a professora que toma café, almoça e entra junto com eles na brincadeira da piscina, no futebol, no pebolim humano... E é por isso que cada acampamento costuma ser uma delícia, pois todos juntos e misturados damos forma a uma somatória de novas experiências que fazem desse dia um evento sempre singular e especial.

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Estão esperando o quê? Vamos acampar!!!


¹ÍTALO, Calvino. Seis propostas para o próximo milênio, 2a Ed. Tradução Ivo Barroso. São Paulo: Companhia das Letras, 1997.