A força da formação cidadã indissociável do processo de formação do leitor, escritor, ouvinte e falante.

Por Vania Marincek, diretora da unidade Granja Viana.

Na década de 1980, bem no início de nosso trabalho, conhecemos as investigações de Emilia Ferreiro, relativas à alfabetização. Conhecer o que as crianças pensam sobre nosso sistema de escrita nos trouxe referência para apoiar nossos alunos na construção desse novo conhecimento. Mas suas pesquisas nos ensinaram mais do que isso. Aprendemos não só com ela, mas também com outros investigadores que seguem sua linha de investigação, a buscarmos os melhores encaminhamentos didáticos em sala de aula para favorecer o aprendizado de nossos alunos, e essas referências norteiam o nosso trabalho até os dias de hoje.

Ainda em 1980, a equipe de professores da Vila participou pela primeira vez de um seminário de alfabetização e de práticas de linguagem em Buenos Aires, e de lá para cá inúmeras foram as vezes em que buscamos referências didáticas com esse grupo de pesquisadores, seja em viagens a Buenos Aires para “beber da fonte”, ou em cursos e supervisões organizados pelo nosso Centro de Formação. Com eles aprendemos sobre Didática da Matemática, Didática das Ciências Sociais, Didática das Ciências Naturais, Didática da Língua, sempre de forma aprofundada e reflexiva, pois se trata de um grupo com forte preocupação em buscar a melhor forma de organizar as situações em sala de aula para garantir as aprendizagens.

A partir de 2002, o Centro de Formação da Escola da Vila tem organizado viagens anuais nomeadas Viagens Pedagógicas, que visam conhecer novas experiências escolares e novas formas de trabalho didático. Já aconteceram viagens para a Espanha, para os EUA, Canadá, México, Itália e Argentina, e, nesse caso, mais de uma vez, já que há sempre novas pesquisas que apoiam novas ações didáticas, o que muito interessa à escola.

Escola da Vila

A viagem deste ano foi novamente para Buenos Aires para conhecer as investigações sobre a implementação dos meios digitais na escola, com as pesquisadoras Flora Perelman e Vanina Estévez.

Além das aulas nas quais o grupo era convidado a conhecer distintas experiências com o uso de tecnologia e a refletir sobre elas à luz de um marco teórico, houve também uma visita a uma escola, o Instituto Platerillo, em que as conversas com professores e alunos trouxeram novos elementos para a reflexão do grupo.

Escola da Vila

Ao longo de 5 dias foram abordados trabalhos que traziam experiências de inclusão de projetos digitais na educação básica, de formação de professores a distância, de leitura crítica de notícias, de produção de mídias na escola e de videogames para o ensino.

Todas as experiências apresentadas estavam situadas em um marco de referência que define como principal objetivo do trabalho formar leitores, ouvintes, falantes e escritores em nosso tempo e espaço.

Para quem acompanha o trabalho desse grupo de investigação, essa não é uma ideia nova, mas no curso ganhou força ao longo dos dias, com as apresentações dos projetos e das sequências didáticas.

Havia uma preocupação com a formação cidadã expressa nos encaminhamentos relatados. Como exemplo, cito a apresentação de um trabalho de leitura midiática de notícias em que fica evidente que a reflexão proposta vai além da compreensão das notícias e de sua estrutura. Propõe-se uma reflexão sobre os distintos meios que constroem a informação nos dias de hoje, sobre a complexidade do mundo midiático em que tudo o que circula é parte de uma construção, sobre não haver um único ponto de vista, mas inúmeros e distintos.

A preocupação com a formação de indivíduos autônomos, capazes de entender o mundo que os cerca, e aptos a tomar decisões, esteve presente em todas as situações apresentadas e trouxe elementos que reforçam nossa opção por formar para a autonomia, um dos valores da Escola da Vila.