O construtivismo e a hora da mudança.

Por Sonia Barreira, direção geral

Foi um prazer imenso encontrar tantos educadores queridos e importantes na palestra de Antoni Zabala na ocasião do lançamento do Grupo Critique:

Na plateia, familiares dos alunos, professores, educadores e diretores de escolas importantes ouviram atentamente o famoso educador catalão, que retomou para todos nós como as pesquisas científicas nos mostram como os alunos aprendem.

Evitando rótulos fáceis e etiquetas simplificadoras de conceitos complexos e com muito humor e simpatia, ele nos questionou sobre a organização da instituição escolar para responder a seus propósitos. Se antes a escola tinha essencialmente a função propedêutica e seletiva, hoje, a escola do século XXI deve se preparar para realmente oferecer uma formação integral para todos e todas e cumprir uma função orientadora e inclusiva.

Uma formação com essas características e propósitos deve se organizar em torno de competências complexas e não apenas em função de conteúdos conceituais específicos e sobrepostos das disciplinas e áreas de conhecimento. Para tanto, o professor Zabala retomou a importância do enfrentamento de problemas reais e complexos na escola não apenas como um complemento da experiência escolar, mas como essência curricular.

Muitos de nós, na plateia, trocamos olhares cúmplices, admitindo uns para os outros que já sabíamos de tudo isso, mas que ainda não conseguimos reestruturar o currículo escolar de modo coerente com essas ideias!

Propostas de investigação, projetos, simulações, resolução de problemas e estudos de caso existem e se multiplicam em nossas escolas. Mas não de modo estrutural. Não a ponto de oferecermos uma vivência escolar cujo eixo central siga essa lógica.

Ao final da palestra, ao encontrar uma ex-professora da Vila, hoje diretora de uma importante escola paulista, ela me olhou um tanto encabulada, outro tanto inconformada e me disse:

- Sonia, já ouvimos tudo isso há uns dez ou quinze anos, não?
- Sim, Marta, ouvimos tudo isso, mas não fizemos o que era para fazer, não é?
- Não, não fizemos! Vamos passar os próximos dez anos tentando?

Definitivamente não fizemos a revolução que sabíamos necessária. Mas plantamos boas e fortes sementes para que as mudanças possam acontecer progressivamente, sem rupturas bruscas que geram insegurança e resistência.

Agora, tratemos de arregaçar as mangas e mudar o que é preciso mudar nos nossos projetos. Não estamos tão longe assim do que queremos!