Alunos da Escola da Vila visitam o maior empreendimento científico da história brasileira

Escola da Vila
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Por Alex Brilhante, professor de Ciências Naturais e Física

Apesar dos cortes drásticos de orçamento para a ciência, desde 2015 o Brasil vem construindo o seu mais grandioso projeto científico: o Sirius, um imenso acelerador de elétrons que será uma das melhores máquinas do mundo no gênero, possibilitando a realização de experimentos na fronteira do conhecimento e atraindo pesquisadores internacionais.

Com previsão de entrada em funcionamento já em 2019, o Sirius tem como peça central uma circunferência de mais de 500 metros, onde os elétrons chegam a uma velocidade próxima à da luz. Ao realizarem a curva ao longo da circunferência, os elétrons emitem radiação eletromagnética, ou seja, luz. As particularidades da luz emitida pelo acelerador permitem a observação em escala molecular e atômica de diversos tipos de materiais, de semicondutores a fósseis, o que faz dessa máquina um instrumento versátil e estratégico para pesquisas em áreas tão diversas, que vão de nanotecnologia a biociências.

A construção do Sirius não é uma mera aposta grandiosa, esperando por resultados incertos. Desde 1997 o Brasil já conta um grande acelerador de elétrons, o acelerador do Laboratório Nacional de Luz Síncrotron, que talvez seja o nosso empreendimento científico mais bem-sucedido até o momento. Trata-se de um laboratório nacional, ou seja, aberto para pesquisadores de todo o Brasil e do mundo, que já recebeu milhares de pesquisadores ao longo de suas duas décadas de funcionamento. O Sirius é “apenas” um upgrade de mais de 1 bilhão de reais em uma experiência científica de sucesso.

Na semana passada, alunos de nono ano do Ensino Fundamental ao terceiro ano do Ensino Médio – acompanhados por Regis Neuenschwander, da Divisão de Engenharia do LNLS – tiveram a oportunidade única de observar, de dentro da construção, como funcionará o futuro acelerador de partículas. Assim que a construção terminar, não será mais possível entrar nos meandros do acelerador. Além de visitar a construção da nova máquina, nossos alunos visitaram a máquina que está atualmente em funcionamento e aprenderam como essas máquinas produzem imagens em escalas moleculares e atômicas, além de terem visitado os demais laboratórios que compõem o Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais, em Campinas.

Nossa iniciativa, ao mesmo tempo que tem por objetivo aproximar nossos alunos da ciência nacional – mostrando as áreas de pesquisa em que temos uma tradição de produção científica de qualidade para, quem sabe, estimular alguns alunos a enveredarem no mundo instigante da pesquisa científica –, é também o nosso reconhecimento da importância da ciência na construção de uma nação, importância nem sempre divulgada propriamente. Dados de uma pesquisa sobre a percepção pública da ciência e tecnologia no Brasil, publicada em 2015 pelo Centro de Gestão de Estudos Estratégicos (CGEE) e pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), nos mostram que apesar da atitude altamente favorável à ciência manifestada pelos brasileiros, apenas 12% dos entrevistados pela pesquisa conseguiu se lembrar de alguma instituição científica brasileira, número bastante pequeno mesmo se comparado a países com uma trajetória científica similar à nossa, como a Argentina, por exemplo, em que 25% dos entrevistados sabiam nomear alguma instituição de pesquisa.

Sabemos que a produção científica é uma atividade cara e, em grande medida, custeada por todos. Se a produção científica nacional não for divulgada adequadamente, nada garante que a sociedade civil veja sentido em seguir apoiando a ciência e os cientistas brasileiros.