As crianças e as cenas da TV em tempos de grandes tragédias.

Por Dayse Gonçalves

A semana passada terminou com a grande tragédia que devastou o Japão. Cenas de casas e automóveis sendo arrastados pelas águas do mar por conta de tsunamis, depois foram imagens externas e internas mostrando os efeitos dos tremores, tudo isso de forma reiterada e insistente, pelos diversos canais de TV. Também foi assim em relação à região Serrana e é também em São Paulo, cidade onde vivemos, e onde enfrentamos dias de grandes enchentes. Temos notícias, desde o início do ano, de muitas perdas. Perdas de toda sorte: de vidas, de bens materiais, e também da tranquilidade e da segurança, sobretudo no caso dos que foram diretamente atingidos pelas catástrofes e pelas chuvas fortes que vêm assolando muitas cidades brasileiras nestes primeiros meses do ano.

E como ficam os nossos pequenos diante de tantas notícias e imagens que mobilizam os adultos? Trago esta questão para pensarmos um pouco. Os adultos ficam alarmados, abalados, e é compreensível que queiram se interar dos acontecimentos, mas é preciso saber em que momento fazê-lo e de que maneira, e como lidar com as crianças, que são experts em detectar clima de tensão no ar e ouvir, mesmo que não pareça que estejam ouvindo, as conversas entre os adultos, os comentários frequentes sobre os eventos. E como se não bastasse isso, elas ainda têm de lidar com os próprios medos, os muitos medos que sentem e que são inerentes ao seu processo de desenvolvimento, como o medo de perder os pais, de ser abandonado por eles, dos pesadelos que têm. De modo que a pergunta que fica é: como podemos salvaguardar a integridade emocional de nossos pequenos?

Nestes tempos de grande tensão e tristeza, precisamos, em primeiro lugar, poupá-los de cenas chocantes e dos noticiários em geral.  Depois, precisamos permitir que nos façam perguntas, que falem de seus medos, para que possamos tranquilizá-los, transmitir a eles a segurança que necessitam. Cabe a nós, ainda, a tarefa de tentar controlar nossas próprias emoções. E um bom jeito de fazer isso é demonstrando nosso carinho e interesse por eles, dizendo a eles de nossos esforços – nossos e dos demais adultos envolvidos nos cuidados e na educação deles – para protegê-los. Outra atitude importante é ressaltar as ações de solidariedade nos lugares onde as coisas ruins acontecem, entre os povos, e reiterar que sempre haverá gente trabalhando para minimizar o sofrimento humano (é melhor dizer com outras palavras).

De qualquer forma, alguns sempre chegam à escola contando o que viram e ouviram. Além de ouvi-los e de fazer falas como as já referidas, nos preocuparemos em mostrar algumas coisas lindas e delicadas que herdamos dos japoneses. Histórias, um bom chá, imagens de cerejeiras em flor..., para reverenciar um povo que tem muita dignidade.