Rituais de respiro

Por Elis Maria Sanchez e Lívia Guidi, professoras da Educação Infantil

Escola da Vila

“Respira, aprende a respirar. Se você só pira e não respira, não vai dar”
Letrux, na música Alinhamento Energético

Em um momento de reclusão como o que estamos vivendo por conta do novo coronavírus, faz-se necessário criar rotinas especiais, flexibilizar e buscar alternativas para que crianças e famílias tenham uma boa convivência, mesmo com o clima tenso que paira no ar. Nesse sentido, momentos de relaxamento e descanso são primordiais. Criar pequenos rituais pode nos ajudar a lidar de um jeito melhor com tudo isso.

O descanso pode ser um olhar. Um momento em que tudo vai parar, o telefone vai ficar desligado e você vai dar atenção total ao seu filho. Seja numa leitura compartilhada, ao acompanhar a criança em alguma tarefa a distância enviada pela escola ou ao cozinhar juntos uma receita gostosa.

Pode, também, ser uma conversa aberta. As crianças estão atentas às nossas falas e também ao que escutam nos noticiários e outras mídias. É importante abrir espaço para que elas falem sobre o que estão sentindo, o que sabem, do mesmo modo que é importante ouvirmos com atenção o que as crianças têm a dizer. A escuta cuidada é uma maneira de carinho. Responder objetivamente às suas perguntas, contando sobre as maneiras de se proteger nesta situação, pode ser confortador.  

O respiro pode ser uma música que a família elege para dançar, uma corrida no corredor de casa, guerra de almofadas ou uma brincadeira de cambalhota na sala. Buscar criar um momento na rotina para fazer uma brincadeira corporal é importante, para os pequenos e também para os grandes!

Criar situações inusitadas como a montagem de cabanas na sala, uma brincadeira de vestir as roupas dos pais e irmãos ou um teatro de sombras também pode ser uma maneira divertida de driblar o caos e envolver as crianças.

Vale soltar a imaginação! Inventar penteados, fazer um piquenique na sala, desenhar no corpo usando um lápis aquarelável são opções que as crianças apreciam muito.

Envolver as crianças para a criação de um ambiente especial, como colocar uma música relaxante, acender uma velinha aromática, forrar o chão com um gostoso edredom e fazer massagem em família, estreita os vínculos e alimenta as relações familiares. Pode ser que no começo as crianças resistam, mas conforme percebem que se trata de um momento de carinho e cuidado, se entregam.

Em rituais de massagens, nos deparamos com um limite muito precioso, o do nosso corpo. Construir, através do toque, esse limite e a percepção de nós mesmos é imprescindível, ainda mais em momentos como esse, que precisamos nos preservar. Valorizar aspectos sensoriais como ver com mais atenção, escutar o sutil, identificar e escolher cheiros, valorizar pequenas partes do corpo, e se reconectar com o singelo, se torna fundamental.

No geral, estamos carentes de ritualizar processos. Eles não precisam vir somente da rotina de trabalho ou de algum dia especial dedicado à religiosidade, mas também podem acontecer por meio de pequenos e fundamentais encontros que podemos fazer na nossa própria casa. Ritualizar o tempo junto, o toque, o cheiro, a música. Adultos e crianças aprendem muito com momentos de comunhão.

Aos adultos da casa, depois de colocarem as crianças para dormir, vale a pena cuidarem de si, senão ninguém aguenta! Ouvir uma boa música, ver um filme comendo pipoca, ler um pouco, fazer comida em parceria podem ser boas maneiras de relaxar e também de criar essa conexão.

É hora de exercitar a resiliência. Respirar fundo, literalmente, e lembrar que tudo isso vai passar.