Alfabetização na quarentena é desafio para crianças e escolas

Na Vila, por meio de vídeos e aulas remotas, os alunos e alunas têm contato com textos de diferentes gêneros, atividades de escrita espontânea e situações de leitura.

A alfabetização é um dos processos mais complexos da educação. Além de ser uma das fases mais importantes da trajetória escolar das crianças, é uma questão desafiadora para os professores e também um momento aguardado com grande expectativa pelas famílias.

Neste ano, com o distanciamento social devido à pandemia do novo coronavírus, o processo de alfabetização nas escolas ganhou novos contornos e uma dinâmica diferente, com as aulas remotas. “Certamente existem diferenças muito grandes nesse modelo se comparado à forma presencial, por isso é importante alinhar as expectativas de propostas e resultados com a realidade atual”, observa Miruna Kayano, coordenadora do Ensino Fundamental I da Escola da Vila.

Ela conta que na Escola da Vila, em um primeiro momento, no início da quarentena, o trabalho focou no acolhimento dos alunos e alunas, na compreensão do que estava acontecendo e na organização da rotina da escola e das famílias. Aos poucos, os professores começaram a estruturar as propostas de leitura e escrita. Uma delas consistiu no envio de pequenos textos -- como poemas, parlendas, cantigas -- para serem lidos pelas famílias. Os professores também gravaram vídeos com a leitura de textos curtos. “Um aspecto importante da alfabetização é o contato das crianças com diferentes gêneros textuais. Isso é um investimento no processo como um todo, pois ele não ocorre apenas quando criança está lendo sozinha ou escrevendo. Esse tipo de atividade favorece a memorização que depois ajudará na escrita”.

Para as atividades que tinham foco na escrita espontânea, em que a criança escreve de acordo com a hipótese que ela formula, os alunos e alunas foram organizados em pequenos grupos. “A ideia foi priorizar uma interação mais intensa entre eles e com a professora nos encontros online”, diz Miruna.

Paralelamente, os professores também organizaram vídeos de situações de leitura -- nomes, palavras, frases -- prática que normalmente seria feita em sala de aula, que permite aos alunos terem acesso a reflexões que podem contribuir para a escrita. Também foi trabalhada a cópia significativa, em que a criança conhece o sentido das palavras que está escrevendo e treina as habilidades de escrita, com os nomes do poema “As meninas”, de Cecília Meireles.

A ajuda das famílias nesse processo, de acordo a educadora, deve ser no sentido de fazer leituras para a criança, colocá-la em contato com diferentes textos e, nos suportes escritos que ela tem acesso, como uma lista de supermercado, escrever com letra bastão para que ela possa entender. Também é importante valorizar a sua escrita mesmo que não esteja correta do ponto de vista formal. No caso de dúvidas, deve haver interlocução com a escola.

Para Miruna, na volta às aulas presenciais, precisarão ser feitos ajustes para intensificar esse trabalho. “Partimos do pressuposto que a criança deve escrever muito do jeito dela para poder escrever corretamente. Essa escrita ‘errada’ precisa ser validada para ela seguir investigando e explorando. Só assim ela vai adquirir segurança para fazer o uso pleno da escrita”.